ALEMANHA: “Tornámo-nos uma voz forte para os Cristãos perseguidos no mundo”, diz Presidente internacional da Fundação AIS

O Médio Oriente, a região do Sahel, em África, e a América Latina vão ser algumas das prioridades do trabalho da Fundação AIS neste ano de 2024 que está agora a começar. Regina Lynch, presidente executiva internacional da fundação pontifícia, destaca a importância crescente da missão da AIS junto das comunidades cristãs perseguidas ou que passam por muitas dificuldades no mundo. Uma missão que só é possível, diz, graças aos milhares de benfeitores em todo o mundo – incluindo Portugal, claro – que além da sua generosidade são também uma “verdadeira central de oração”.

O ano de 2023 terminou com um ataque brutal terrorista em mais de duas dezenas de aldeias cristãs na região central da Nigéria. O balanço desse verdadeiro massacre de Natal aponta para cerca de 200 mortos e aproximadamente 300 feridos. Este ataque, pela sua crueldade, mostra como os cristãos continuam a ser a comunidade religiosa mais perseguida no mundo e estão, tantas vezes, sem qualquer tipo de protecção. Auxiliar estes cristãos, esta Igreja que sofre, é a missão da Fundação AIS liderada por Regina Lynch.

Aos 66 anos, Regina é, desde Junho de 2023, presidente executiva internacional da fundação pontifícia, sucedendo no cargo a Thomas Heine-Geldern, mas a sua ligação à instituição tem já décadas. Desde 1980 que ela “veste a camisola” da AIS, primeiro como colaboradora na área de Projectos, mais tarde, desde 2008, já como responsável desse departamento, e agora, desde o dia 14 de Junho do ano passado, como Presidente executiva Internacional.

UMA VOZ DE DENÚNCIA

Liderar a AIS é uma responsabilidade enorme pois do trabalho desta instituição depende, muitas vezes, a sobrevivência de comunidades inteiras. Mas não só. A Fundação AIS tem vindo a tornar-se também numa voz imprescindível na denúncia dos atropelos à liberdade religiosa e muito concretamente em relação aos cristãos.

Ao longo dos anos, tornámo-nos uma voz mais forte para os Cristãos perseguidos ou em sofrimento em todo o mundo, alertando as consciências para a sua situação e apoiando-os com as nossas orações e a nossa ajuda material. Infelizmente, porém, ainda há muito a fazer, e a minha esperança para os próximos anos é que nos possamos tornar ainda mais fortes na execução desta missão e mais ligados aos nossos parceiros de projecto, especialmente em países onde a Igreja é perseguida ou sofre, através das muitas campanhas que fazemos, desde a sensibilização à defesa de causas.”

RELATÓRIO DA LIBERDADE RELIGIOSA

Um dos projectos com a assinatura da Fundação AIS que tem vindo a granjear cada vez mais prestígio é o Relatório bianual sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. O mais recente foi publicado em 2023 e traça um retrato cada vez também mais preocupante do mundo no que diz respeito a esta liberdade tão essencial ao ser humano. 

“Analisámos 196 países e verificámos que a discriminação e a perseguição religiosa aumentaram em todo o mundo, e que em 47 desses países a situação piorou, o que é bastante deprimente”, constata a presidente da AIS. “Este grupo inclui grandes países como a Índia, a China e o Paquistão, mas também muitos países africanos, especialmente na região do Sahel, na África Ocidental. Mas há alguns países onde a situação melhorou timidamente, como o Egipto, mas em 28 países encontrámos perseguição explícita e 33 países sofrem discriminação. O que vemos é que 62% da população mundial vive em países onde a liberdade religiosa é restringida ou violada. Isto não significa que todos estes cidadãos sejam perseguidos, mas, ainda assim, é bastante preocupante”, disse ainda a responsável.

PREOCUPAÇÃO COM A TERRA SANTA…

Pelo gabinete de Regina Lynch, em Königstein, na Alemanha, passam todos os dias inúmeros documentos, relatórios, pedidos de ajuda. Há regiões do globo que são acompanhadas com particular atenção. É o caso, por exemplo, do Médio Oriente.  A guerra na Faixa de Gaza, iniciada com o ataque terrorista do Hamas contra Israel a 7 de Outubro, suscita muita inquietação.

“Obviamente, a Terra Santa é uma grande preocupação neste momento, devido ao terrível conflito que está a afectar muito os Cristãos na Cisjordânia e também o pequeno rebanho em Gaza. É muito triste. A Fundação AIS tem tentado ajudar, mas existe uma grande preocupação de que o conflito se estenda ao Líbano, que continua a ser o país do Médio Oriente com a maior concentração de cristãos. Isso seria dramático, porque sabemos que os Cristãos de toda a região se sentem tentados a partir.”

… E TAMBÉM SÍRIA E IRAQUE

Mas não são só estes países a preocupar a Fundação AIS. A Síria e o Iraque ocupam, desde há anos, um lugar de relevo nas campanhas lançadas pela Ajuda à Igreja que Sofre em apoio às comunidades cristãs locais.

“Na Síria, não podemos falar propriamente de perseguição, mas estamos a entrar no décimo terceiro ano de guerra, há ainda muitos conflitos e o terramoto tornou a vida ainda mais difícil. Há sempre o perigo de a Síria deixar de ser notícia, por isso para nós é importante continuar a falar no assunto, para recordar às pessoas o que aconteceu”, esclarece a presidente da Fundação AIS.

“Por seu turno, no que se refere ao Iraque, a situação melhorou até certo ponto para os Cristãos após a visita do Papa Francisco em 2021 e, quando regressámos no ano seguinte, sentimos que talvez houvesse mais esperança, mas não sabemos como vai evoluir. Os Cristãos veem alguns sinais positivos, mas também sentem incerteza: vai recomeçar novamente? O que é que pode acontecer?”, questiona Regina Lynch.

CHINA, ÍNDIA E MYANMAR…

Se os cristãos da Síria e Iraque sabem por experiência própria o que significa a perseguição por motivos religiosos, na Ásia há países onde os sinais são também muito inquietantes. É o caso da China, mas também da Índia, curiosamente os dois países mais populosos do mundo.

“A Ásia é, de facto, um continente que nos preocupa. Há problemas em muitos países, como a China, mas noutros a situação tem vindo a agravar-se visivelmente. É importante referir a Índia, que é também uma grande potência. Embora a sua Constituição garanta a liberdade religiosa e o país tenha uma forma distinta de secularismo que se esforça por ser tolerante, desde que o primeiro-ministro Narendra Modi chegou ao poder temos assistido a uma deterioração da situação, com menos tolerância para com as minorias, como os Cristãos e os Muçulmanos.

“Actualmente, há 12 estados com leis anti-conversão que proíbem a conversão para qualquer religião que não seja o Hinduísmo, e tem havido muitos casos de pessoas atacadas, presas e falsamente acusadas por causa disso. Apesar de tudo isto, as diferentes Igrejas cristãs proporcionam educação, saúde e tudo o mais. Por isso, também não estou muito optimista quanto à forma como a situação está a evoluir na Índia.”

Outro país que preocupa a Fundação AIS é Mianmar, a antiga Birmânia. “Em Mianmar, observamos com preocupação o agravamento da violência e a situação humanitária”, sintetiza Regina Lynch.

A GUERRA EM PLENO CORAÇÃO DA EUROPA

O longo braço solidário da Fundação AIS estende-se também até à Europa, à Ucrânia um país que a 24 de Fevereiro assinalará o terceiro ano de guerra, com a invasão das tropas russas em vastas áreas do seu território. Desde esse dia que a AIS tem estado na linha da frente no apoio à Igreja, e assim vai continuar, até por que não se sabe quando é que este conflito, em pleno coração da Europa, vai chegar ao fim, como assinala também Regina Lynch.

“Ninguém sabe quando é que a guerra na Ucrânia vai terminar e continuamos a trabalhar com a Igreja Católica Grega e com a Igreja Católica Romana na Ucrânia para ajudar os sacerdotes e as religiosas a sobreviverem e a trabalharem com os deslocados internos, mas a grande questão que esperamos poder ajudar neste momento é a cura dos traumas. Todos são afectados, de uma forma ou de outra. A Igreja tem consciência disso e está a esforçar-se por encontrar formas de curar os traumas da população.”

A AMEAÇA JIHADISTA EM ÁFRICA

Outra área do globo onde se avolumam sinais preocupantes de violência contra os cristãos é em África, muito especial na região do Sahel. O ataque nas festas de Natal na Nigéria é apenas um exemplo dos inúmeros incidentes gravíssimos que têm vindo a ocorrer nesta zona e que se tem prolongado um pouco por todo o continente. Regina Lynch afirma que estes países, nomeadamente a Nigéria, o Níger, o Burquina Fasso e o Mali, vão estar no centro das preocupações da Fundação AIS em 2024.

“Um dos países mais afectados pela violência, talvez depois da Nigéria, é o Burquina Fasso, onde os ataques jihadistas estão a alastrar. E queremos concentrar-nos no Mali e no Níger, para ajudar a Igreja a ajudar as pessoas deslocadas. Na Nigéria, a insegurança é grande. Os bispos têm-nos pedido que os ajudemos a estar mais alerta antes de acontecer um incidente, com segurança à volta das paróquias, porque os padres querem ficar com as pessoas, embora tenham sido alvo de raptos.”

Mas não só. O continente africano é enorme e desde o norte ao sul que se têm vindo a registar incidentes mais ou menos graves e que afectam as comunidades cristãs. É o caso da República Democrática do Congo.

A Presidente da Fundação AIS destaca o facto de este país estar na mira de grupos armados que lutam pelos seus inúmeros recursos naturais, sem qualquer respeito pelas populações que sofrem com toda a violência. “Estamos muito preocupados com a República Democrática do Congo, onde a situação pode explodir a qualquer momento, uma vez que os países da região e os grupos armados lutam pelos recursos naturais, trazendo miséria à população local. As eleições presidenciais e legislativas foram marcadas pela violência”, diz Regina Lynch, acrescentando: “Temos de rezar”.

A NICARÁGUA E A AMÉRICA LATINA

Naquilo que é possível antever sobre o trabalho da Fundação AIS para o ano de 2024, e além destes países já assinalados, Regina Lynch destaca também a América Latina. 

“Não podemos esquecer a América Latina, onde o ressentimento anti-Igreja tem vindo a alastrar, apesar do papel da Igreja na ajuda à sociedade com a educação, os cuidados de saúde e a doutrina social da Igreja. Estamos particularmente preocupados com a Nicarágua, onde dezenas de padres foram presos durante o ano. Recentemente, a grande maioria foi libertada, mas um bispo ficou na prisão e outro foi detido há poucos dias. Até onde é que esta situação irá? Só Deus sabe…”

BENFEITORES, A ALMA DA FUNDAÇÃO AIS

Todo este trabalho realizado pela Fundação AIS – no ano de 2023 foram apoiados cerca de 6 mil projectos em todo o mundo – seria impossível sem a generosidade dos seus benfeitores e amigos. Eles são a alma da instituição a todos os níveis. Incluindo na oração. Regina Lynch destaca este aspecto.

Colocamos a oração no centro da nossa acção. É extremamente importante. Há países no mundo onde pode ser difícil o apoio com ajuda material, ou onde as situações são tão más que, de momento, não podemos enviar ajuda. Mas o que podemos fazer é activar este maravilhoso grupo de benfeitores que temos, uma verdadeira central de oração. Estamos constantemente a pedir-lhes que rezem pela Igreja perseguida e necessitada. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar e alimentar esta relação”

DENUNCIAR E REZAR

Tão importante quanto a ajuda que é dada às comunidades cristãos mais sofrem ou que passam por mais necessidades, é a denúncia das situações de violência, de perseguição que ocorrem no mundo.

De ano para ano, a Fundação AIS tem vindo a afirmar-se como uma das instituições mais credíveis em todo o mundo nessa missão tão particular, fazendo-o diariamente através de dezenas de notícias, em artigos em jornais, em programas de rádio e de televisão em inúmeros países, como é o caso também de Portugal, e ainda pela publicação regular de Relatórios.

Mas há duas iniciativas que Regina Lynch gosta particularmente de destacar: A ‘Red Week’, a Semana Vermelha, em que monumentos e Igrejas são iluminados de vermelho, em Novembro, para lembrar a cor do sangue dos mártires, e o momento de oração com as crianças, que ocorre sempre em Outubro…

“Este ano confirmou-se que algumas das iniciativas que temos vindo a realizar há vários anos, como o Relatório sobre a Liberdade Religiosa e a iniciativa da Semana Vermelha, têm vindo a crescer. Muitas paróquias estão a aderir; os edifícios políticos estão a ser iluminados de vermelho, bem como as igrejas, o que é impressionante. Há cada vez mais pessoas a aderir sem que nós saibamos. Elas próprias tomam a iniciativa e fazem-no. E outra iniciativa de que gosto muito é ‘Um Milhão de Crianças Rezam o Terço’, no dia 18 de Outubro. O nosso objectivo tem sido sempre atingir um milhão, e este ano ultrapassámo-lo. Por isso, penso que é uma óptima notícia o facto de haver um milhão de crianças em todo o mundo a rezar pela paz no mesmo dia!”, conclui Regina Lynch.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

Embora a liberdade religiosa seja geralmente protegida e tenha sido nomeado um novo Comissário para a Liberdade Religiosa, a contínua hostilidade contra as comunidades religiosas por parte de extremistas de ambos os lados do espectro político, bem como as crescentes tendências secularistas, requerem observação. O estatuto da liberdade religiosa permanece inalterado.

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