RELATÓRIO
Perseguidos e Esquecidos?
Relatório sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé
2022–24
Relatório sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé
Mais de 100 mil cristãos estavam entre os muitos que fugiram para salvar a sua vida há 10 anos, quando o Daesh (autoproclamado Estado Islâmico) se apoderou de vastas áreas da planície de Nínive, no Iraque. Desde então, têm vivido como refugiados no seu próprio país, ajudados apenas pelos seus irmãos na fé de todo o mundo, incluindo a ajuda substancial da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (Fundação AIS).
O genocídio que sofremos continua a ensombrar-nos, pois a emigração dos Cristãos continua, ao ponto de a Igreja estar ameaçada de extinção em vilas e cidades onde a nossa presença remonta quase ao tempo de Cristo.
Entretanto, como demonstra este relatório, Perseguidos e Esquecidos?, os Cristãos de outros países enfrentam hoje o extremismo jihadista, seja no Burquina Fasso ou em Moçambique, e igualmente grave é a opressão dos crentes por regimes autoritários como a China ou a Nicarágua.
Mas o relatório também revela que, após o ataque, os Cristãos podem reconstruir as suas vidas, tal como fizemos no Iraque. No entanto, as nossas comunidades aqui continuam a enfrentar desafios devido à falta de programas de subsistência. Isso significa que a Igreja tem de encontrar meios financeiros para apoiar as estruturas-chave que construímos no Curdistão, de modo a garantir que os Cristãos permaneçam e sejam a voz de Jesus em todo o Iraque: novas igrejas, uma universidade católica, quatro escolas e um hospital. Estas estruturas precisam de apoio para crescerem e serem mantidas; por isso, dependemos de que a comunidade internacional ouça os nossos apelos de ajuda.
Rezamos para que aqueles que lêem este relatório, sejam eles governos ou outras pessoas com influência, façam mais do que apenas falar sobre os relatos de perseguição cristã; devem fazer corresponder as suas palavras a acções – compromissos políticos claros e decisivos –, para ajudar aqueles cujo único crime é a fé que professam. É fundamental que actuem com base em avisos atempados – feitos em relatórios como este –, para evitar que o que nos aconteceu no Iraque aconteça noutros lugares.
Ainda me recordo do terror causado pela ascensão dos jihadistas, mas também me recordo da esperança das pessoas e da caridade demonstrada pelos nossos irmãos e irmãs em todo o mundo. Por favor, continuem a incluir todos aqueles que sofrem nas vossas orações e no vosso coração. Nós não nos esquecemos de rezar por vós.
Bashar M Warda CSsR,
Arcebispo caldeu de Erbil, Iraque
O documento Perseguidos e esquecidos? Relatório sobre os Cristãos Oprimidos por causa da sua Fé 2022-24, da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), apresenta estudos de caso, análises nacionais, regionais e globais sobre a dimensão da perseguição aos Cristãos em todo o mundo. Mesmo antes do período em análise neste relatório, já havia provas de que a perseguição e a opressão estavam a piorar. Os dados do Pew Research Center relativos a 2021 revelaram que os Cristãos foram vítimas de assédio por motivos religiosos, desde abusos verbais a assassínios, em mais países do que nunca – 160 no total, um aumento de 50 países desde 2012. Não só os Cristãos estavam a ser vítimas de violações dos direitos humanos fundamentais em mais países do que qualquer outro grupo religioso, como também o fosso entre eles e o segundo grupo religioso mais afectado tinha aumentado significativamente.2 No seu discurso de Janeiro de 2023 ao corpo diplomático do Vaticano, o Papa Francisco afirmou que, em todo o mundo, um em cada sete cristãos é perseguido, citando números recentemente publicados.
Esta edição de Perseguidos e esquecidos? avalia a situação em 18 países onde as violações da liberdade religiosa contra os Cristãos são particularmente preocupantes. O período em análise decorre entre 1 de Agosto de 2022 e 30 de Junho de 2024 e a análise teve como objectivo determinar se o panorama da liberdade religiosa que afecta os Cristãos se tinha agravado desde 2020-22. A investigação revelou que, na maioria dos países, a violência e/ou a opressão tinham efectivamente aumentado. Em muitos casos, se não na maioria, esta deterioração não afectou todo o país, mas apenas regiões específicas. Perseguidos e esquecidos? 2022-24 concluiu que, em mais de 60% dos países inquiridos, as violações dos direitos humanos contra os Cristãos tinham aumentado desde o último relatório, que abrangia o período 2020-22.
PERSEGUIDOS E ESQUECIDOS?
Resumo das Conclusões
• O foco estratégico da agressão militante islamista transnacional contra os Cristãos e outros alvos importantes deslocou-se agora decisivamente do Médio Oriente para África. Embora o militantismo jihadista tenha persistido em zonas do Médio Oriente como Idlib, na Síria, as autoridades estatais da região fizeram progressos significativos na repressão dos grupos islamistas violentos. Em contrapartida, em regiões do Burquina Fasso, da Nigéria, de Moçambique e noutros locais, os Cristãos foram aterrorizados pela violência extremista.
• O Islamismo militante foi um factor fundamental para explicar a prevalência de um aumento da perseguição que afectou os seis países analisados em África, com provas que sugerem o alcance crescente dos grupos jihadistas transnacionais.
• Os “califados oportunistas”, identificados como uma preocupação emergente no Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo 2023 da Fundação AIS, tornaram-se uma grande preocupação no Verão de 2024.
• A migração em massa de comunidades cristãs, desencadeada por ataques de militantes islamistas, desestabilizou-as e privou-as de direitos, levantando questões sobre a sobrevivência a longo prazo da Igreja em regiões-chave.
• Os regimes autoritários, incluindo os da China, Eritreia, Índia e Irão, intensificaram as medidas repressivas contra os Cristãos, quer em nome do nacionalismo religioso quer do secularismo/comunismo do Estado. As restrições incluíram penas mais duras para alegados insultos contra a ideologia do Estado, o confisco de locais de culto, o aumento das detenções de membros do clero e leigos, bem como períodos de detenção mais longos.
• Num contexto de preocupação crescente com a opressão contra a Igreja em algumas regiões da América Latina, pela primeira vez nos 18 anos de história de Perseguidos e esquecidos?, a Nicarágua é incluída como um país a destacar no relatório devido a uma série de medidas de opressão extrema contra os Cristãos, nomeadamente a detenção e expulsão em massa do clero, incluindo todos os membros da Nunciatura Apostólica.
• A contrariar esta tendência geral está o Vietname, que foi o único país do relatório classificado como “ligeiramente melhor”, com medidas tomadas para restabelecer as relações diplomáticas entre o Estado e o Vaticano, e para reduzir a burocracia relativa ao registo de grupos religiosos.
• Na Índia, até Maio de 2023, 855 pessoas foram alegadamente detidas ao abrigo de leis anticonversão introduzidas no estado de Uttar Pradesh em 2020. No Paquistão registou-se um recrudescimento dos ataques em grande escala contra cristãos, desencadeados por acusações de blasfémia, nomeadamente em Jaranwala, em Agosto de 2023, e em Sargodha, em Maio de 2024. No Iraque, os líderes da Igreja manifestaram receio de que as leis que proíbem os insultos contra a religião sejam utilizadas como pretexto para restringir o culto e a prática cristã.
• Os dados sugerem um aumento dos casos de raparigas cristãs de apenas 10 anos que são vítimas de rapto, violência sexual, casamento forçado e conversão forçada. Dados recentes que apontam para um aumento dos casos de rapto de raparigas e mulheres jovens de confissões minoritárias foram relatados no Paquistão e outras investigações revelaram que se tratava de um problema recorrente no Egipto.
• No entanto, os relatórios da Arábia Saudita e do Egipto revelaram que as autoridades tinham retirado dos manuais escolares material de ódio religioso contra os Cristãos e outras minorias religiosas.
• Mesmo assim, foi registada uma cultura de discriminação nas escolas, por exemplo na Turquia, onde os alunos foram proibidos de assinalar as festas cristãs e houve queixas sobre a doutrinação islâmica nas escolas.
• O impacto da migração em massa anteriormente referida, desencadeada por um recrudescimento da violência, incluindo a perseguição contra os Cristãos, foi particularmente grave para as crianças. Os países subsarianos, como o Sudão, registaram níveis recorde de crianças vítimas de escassez alimentar extrema.
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