Assinala-se hoje, 15 de Abril, o início da guerra no Sudão, conflito que já ceifou mais de 24 mil vidas, segundo as Nações Unidas, embora se tema que o número de vítimas possa ser muito maior. No Domingo, após a oração do Angelus, e numa mensagem escrita, o Papa Francisco recordou este “triste aniversário”, que também já provocou milhões de deslocados e uma das mais graves crises humanitárias da actualidade. A Fundação AIS lançou, entretanto, uma campanha em Portugal para ajuda de emergência às famílias deslocadas e que são apoiadas em várias paróquias sudanesas.
O Papa Francisco lembrou, no Domingo passado, o “triste” aniversário do início da guerra no Sudão, em África, data que se assinala hoje, 15 de Abril. Uma guerra que, lembrou o Santo Padre na reflexão escrita para o Angelus, tem já um balanço trágico com “milhares de mortos e milhões de famílias forçadas a abandonar as próprias casas”.
Na mensagem, o Santo Padre lembra o sofrimento dos “mais vulneráveis” e pede o fim da violência e que a comunidade internacional preste ajuda às populações.
O sofrimento das crianças, das mulheres e das pessoas vulneráveis clama aos céus e implora-nos a agir. Renovo o meu apelo às partes envolvidas, para que ponham fim à violência e assumam caminhos de diálogo, e à comunidade internacional, para que não falte a ajuda essencial às populações.”
Francisco recordou ainda o início, há 50 anos, da também trágica guerra civil no Líbano, e pediu paz para vários países onde o quotidiano está marcado pela violência. “Que a paz chegue finalmente à martirizada Ucrânia, à Palestina, Israel, República Democrática do Congo, Mianmar, Sudão do Sul. Que Maria, Nossa Senhora das Dores, obtenha essa graça e nos ajude a viver com fé a Semana Santa”, conclui a reflexão.
O texto foi lido, mas, apesar disso, o Santo Padre apareceu, em cadeira de rodas, para saudar a multidão que se concentrava na Praça de São Pedro, tendo cumprimentado algumas pessoas – chegou a distribuir rebuçados a algumas. Numa breve intervenção, desejou a todos “bom Domingo de Ramos, boa Semana Santa”, e antes de regressar à Casa de Santa Marta, a sua residência, ainda esteve em oração junto ao túmulo de São Pedro.
DOIS ANOS DE GUERRA, MILHARES DE MORTOS
A guerra no Sudão, que teve início em 15 de Abril de 2023, faz hoje precisamente dois anos, pode ser explicada como uma dramática luta pelo poder entre dois generais, Abdel Fattah al-Burhan, o actual presidente, que tem o exército sob as suas ordens, e Mohammed Hamdan Daglo, o então vice-presidente, também conhecido por Hemedti, e que controla a RSF, as Forças de Apoio Rápido.
O balanço destes meses de conflito é muito negro. Segundo dados das Nações Unidas, já terão morrido cerca de 24 mil pessoas, mas teme-se que o número de vítimas possa ser muito maior. Além disso, há ainda cerca de 12 milhões de deslocados, pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas, um número superior à população de Portugal.
Ainda no fim-de-semana passado, terá ocorrido um ataque a campos de deslocados na região do Darfur, causando pelo menos cerca de uma centena de vítimas, incluindo crianças e trabalhadores humanitários, segundo denunciou a ONU. O ataque terá sido lançado pelas Forças de Apoio Rápido e por outras milícias aliadas aos campos de Zamzam e Abu Shorouk e na cidade vizinha de el-Fasher, a capital da província de Darfur do norte.
Esta guerra tem sido muito violenta não poupando nada nem ninguém. Ainda recentemente, a Fundação AIS dava conta de que após a reconquista da capital do país, a cidade de Cartum, pelas forças do exército sudanês, foram divulgadas imagens da catedral de São Mateus, sede da Arquidiocese de Cartum, com danos consideráveis no edifício que chegou a ser usado como arsenal de armas pelos elementos das Forças de Apoio Rápido.
Um vídeo, enviado para a Fundação AIS Internacional, mostra que nada foi poupado. Altares, capelas, o presbitério, tudo foi destruído. No meio do lixo, de cadeiras partidas e de outro mobiliário, no chão, perto do altar, sobressai uma imagem quebrada de Jesus que terá sido arrancada da cruz.
FUNDAÇÃO AIS APELA ÀS ORAÇÕES PELA PAZ
Maria Lozano, directora de comunicação da Fundação AIS Internacional, afirmou, na ocasião, que estas imagens reflectem “o impacto do conflito nos locais de culto e no património cultural do Sudão, no meio de um conflito devastador que provocou uma crise humanitária maciça, com 12 milhões de pessoas deslocadas – a maior do mundo”. Perante esta situação, acrescenta Maria Lozano, “a Fundação AIS apela às orações da comunidade internacional e dos fiéis pela paz no Sudão, um país que tem sofrido tremendamente devido a este conflito armado e à instabilidade política”.
Face à situação crítica no plano humanitário que se está a viver, a Fundação AIS lançou, entretanto, uma campanha em Portugal para ajuda de emergência às famílias deslocadas e que são apoiadas em várias paróquias sudanesas.
É o que acontece com a Paróquia de Kosti, que acolhe 480 famílias cristãs deslocadas, Kenana, que abriga cerca de 400 famílias, e Damazin, com aproximadamente 350 famílias.
Estas comunidades enfrentam uma crise extrema, contando com a Igreja como a sua principal fonte de ajuda e esperança. Para responder a esta emergência, a Fundação AIS está a fornecer apoio essencial, garantindo a distribuição de alimentos, assistência médica, bem como redes mosquiteiras, lonas e cobertores.
A Fundação AIS sugere uma ajuda concreta a estas famílias deslocadas. Por exemplo, com apenas 30 euros é possível alimentar 3 famílias com 18 kg de arroz.
Mas a crise humanitária causada por esta guerra está a alastrar também a alguns dos países da região, como é o caso do Sudão do Sul, para onde terão fugido pelo menos cerca de 1 milhão de sudaneses. E também aqui, a Fundação AIS tem procurado apoiar activamente os esforços da igreja local no apoio a todos estes refugiados.
Exemplo disso, na Diocese de Malakal, a Igreja criou uma estrutura de suporte às famílias, às pessoas que têm fugido da guerra. A Fundação AIS em Portugal lançou mesmo uma campanha, no ano passado, destina a auxiliar a sobrevivência de cerca de 500 famílias, ou seja, de aproximadamente três mil pessoas que estão agora a viver em Malakal e que são, na sua maioria, mulheres e crianças.
AJUDA DE EMERGÊNCIA
Sudão
"A minha única protecção é o Santíssimo Sacramento"
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt