Sudão
"A minha única protecção é o Santíssimo Sacramento"
No meio de um mundo marcado por guerras, perseguições e sofrimento, há histórias que nos inspiram a olhar para Jesus na cruz como a única e verdadeira força. Uma dessas histórias vem do coração do Sudão, onde um homem arrisca a própria vida todos os dias para continuar a sua missão: o Bispo de El-Obeid, D. Yunan Tombe Trille. Desde 15 de Abril de 2023, o Sudão está em guerra. É um conflito violentíssimo entre as Forças de Apoio Rápido, uma milícia armada, e o exército do país, que segundo dados das Nações Unidas, já terão morrido 24 mil pessoas, mas teme-se que o número de vítimas possa ser muito maior. Além disso, há ainda cerca de 12 milhões de deslocado e refugiados, pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas.

Numa visita recente à Fundação AIS, D. Yunan Trille partilhou a sua experiência e, quando lhe perguntámos se podíamos contar a sua história, respondeu: “Digam aos vossos benfeitores que há um bispo no Sudão que sobrevive unicamente graças ao Santíssimo Sacramento”. Ao regressar ao seu país, foi brutalmente espancado por militantes das Forças de Apoio Rápido, mas sobreviveu, mantendo-se firme na sua missão.




A Catedral de Nossa Senhora Rainha de África, em El-Obeid, está situada entre um quartel militar, uma esquadra da polícia e um edifício dos serviços de segurança. Por isso, quando a guerra civil começou, e as Forças de Apoio Rápido atacaram a cidade, a catedral ficou no centro dos combates. D. Trille contou-nos que, logo nos primeiros ataques, dirigiu-se à catedral para rezar diante do Santíssimo Sacramento. Foi então que recebeu uma visita inesperada.
“Lembro-me bem desse dia. Era o primeiro Sábado da Páscoa. A catedral foi atingida por balas e estilhaços, os vidros partiram-se. Eu estava a rezar quando um grupo de soldados do exército entraram na igreja. Tinham saltado o muro, procurando abrigo. Continuei sentado diante do Santíssimo Sacramento e da vela pascal, mas percebi que um deles tremia de medo. Chamei-o para junto de mim e, depois de algum tempo, ele acalmou-se.”
Ao verem que o colega se tranquilizara, os outros soldados muçulmanos também se aproximaram e sentaram-se perto do bispo.
“Após três horas, os combates abrandaram e eles saíram, voltando a saltar o muro. Mas, depois de algumas horas, um deles regressou e, apontando para o sacrário, disse-me: ‘Bispo, esta vela é muito forte e poderosa. Protegeu-nos.’ Ele não sabia que a vela estava ali por causa do Santíssimo Sacramento”. Desde esse dia, D. Tombe Trille intensificou a sua adoração eucarística, rezando quatro vezes ao dia diante do Santíssimo Sacramento e conseguiu transmitir esta devoção às cerca de 300 famílias católicas que ainda permanecem em El-Obeid: “Divido o meu tempo entre Deus e as pessoas. A minha força vem do Santíssimo Sacramento. Ele é a minha alegria e a minha protecção.”
Quando a guerra começou, muitos cristãos fugiram para regiões mais seguras ou países vizinhos, nomeadamente para o Sudão do Sul. Os que ficaram são, na maioria, idosos, mulheres e crianças, e vivem debaixo de árvores ou em escolas. A vida tornou-se uma luta diária. Sem electricidade, sem alimentos e com a água racionada, os dias passam entre o medo e a esperança.
Mas, apesar de tudo, D. Yunan Trille recusa-se a abandonar aqueles que não podem fugir. As suas visitas pastorais são extremamente arriscadas. Para chegar até às comunidades isoladas, apanha boleia em camiões, viagens que podem durar semanas pelo deserto, dormindo no chão e enfrentando o risco constante de ataques. Mas nada o faz desistir: “Fico aqui com as pessoas que não podem fugir. Precisam da minha ajuda. É perigoso, mas acredito que Deus nos protege. A Escritura diz: ‘Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos.’ (Rm 14,8). Enquanto tivermos uma missão a cumprir, Deus dar-nos-á a coragem necessária.”



A ajuda da Igreja é essencial
Os Cristãos são uma pequena minoria no Sudão, e o mesmo acontece em El-Obeid, a segunda cidade mais importante do país. No entanto, no Sudão, a Igreja Católica ainda consegue manter seis jardins de infância, seis escolas primárias e uma escola secundária, que são as únicas instituições de ensino ainda em funcionamento.
E, graças à generosidade dos nossos benfeitores, a Fundação AIS tem também apoiado a formação de seminaristas, tem assegurado a ajuda à subsistência das Irmãs do Sagrado Coração no campo de refugiados de Kashafa e providenciado estipêndios de Missa para os sacerdotes.
A Igreja, que nunca abandona o seu povo, luta para prestar assistência a três dos onze campos de refugiados, onde centenas de famílias cristãs lutam diariamente para sobreviver. Actualmente, a Paróquia de Kosti acolhe 480 famílias cristãs deslocadas, enquanto Kenana abriga cerca de 400, e Damazin, aproximadamente 350. Estas comunidades enfrentam uma crise extrema, contando com a Igreja como a sua principal fonte de ajuda e esperança.
Para responder a esta emergência, a Fundação AIS está a fornecer apoio essencial, garantindo a distribuição de alimentos, assistência médica, bem como redes mosquiteiras, lonas e cobertores.
Nesta época litúrgica especial, é inspirador o testemunho poderoso deste Bispo do Sudão que nos recorda que, mesmo na escuridão mais profunda, a luz de Cristo jamais se extingue. O Bispo tem um pedido especial: deseja que todos os fiéis renovem a sua Adoração a Cristo no Santíssimo Sacramento, porque Ele é a única protecção e a verdadeira força, mesmo no meio da guerra. Que este seja um tempo de renovação, confiança e entrega total a Deus e que, juntos, sejamos peregrinos na fé, ao lado destes irmãos.
Sim, quero levar esperança aos Cristãos do Sudão.
Com 30€ é possível alimentar 3 famílias com 18 kg de arroz. Obrigado pela sua generosidade.