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PORTUGAL: Relatório da Fundação AIS sobre rapto de raparigas cristãs revela “situação catastrófica”
A prisão, a 10 de Janeiro, em Okara, no Punjab, de três muçulmanos acusados de sequestro e violação de uma jovem cristã de apenas 16 anos de idade, reacendeu o drama da insegurança em que se encontram raparigas e mulheres pertencentes às minorias religiosas no Paquistão. Segundo a Agência Fides, este é o terceiro caso relatado pela comunidade cristã de jovens raparigas, todas menores de idade, vítimas de rapto e de violência sexual apenas desde o início do ano.
A denúncia destes casos reforça a importância da grande investigação que a Fundação AIS tem vindo a realizar sobre esta realidade praticamente desconhecida de grande parte da opinião pública mundial. O Relatório, produzido pela fundação pontifícia, e que está a ser divulgado aos benfeitores da instituição em Portugal, revela uma “situação catastrófica” ao nível dos direitos humanos, diz Catarina Martins de Bettencourt.
A directora do secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre alerta para a importância desta investigação – “Oiçam os gritos delas” – que descreve “relatos assustadores de mulheres e raparigas cristãs vítimas de violência, raptos, violações, casamentos forçados em países como o Paquistão ou Moçambique, a Nigéria ou o Egipto”.
Um dos casos em destaque é o de Maira Shahbaz, uma jovem cristã paquistanesa que foi raptada, torturada e violada em Abril de 2020, quando tinha apenas 14 anos de idade. Maira, que escreve o prefácio do Relatório, conta a sua história em que revela também uma teia de cumplicidades e de silêncios entre as autoridades e os autores dos crimes.
Maira Shahbaz, que conseguiu, entretanto, fugir dos raptores, está a viver escondida, desde Agosto de 2020, juntamente com a sua família mais próxima, pois todos têm sido alvo de ameaças de morte. A tal ponto que a Fundação AIS no Reino Unido promoveu uma petição pública e apresentou ao governo britânico um pedido para a concessão de asilo. “A história de Maira Shahbaz é apenas um exemplo da situação dramática em que se encontram raparigas e mulheres cristãs e de outras minorias religiosas”, explica a directora do secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre.
Maira Shahbaz denuncia o imenso silêncio que normalmente rodeia este tema e agradece à Fundação AIS toda a ajuda e protecção que tem vindo a ser dada às jovens e mulheres que caem nas teias deste crime que continua a ser encarado com indiferença em muitas sociedades. “Sei que há muitas outras raparigas e mulheres jovens, não só cristãs, mas também de outros credos, que são vítimas de rapto, violação, conversão e casamento forçados, não só no Paquistão mas em muitos outros países em todo o mundo. Quem vai ajudar-nos? Quem vai falar por nós? Quem se preocupa com a nossa situação?”, pergunta Maira Shahbaz no prefácio do Relatório. “Agradeço muito à Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e aos muitos milhares de pessoas que deram o seu melhor para nos ajudar e proteger. Estou grata pelas vossas orações. Estou igualmente grata pela divulgação deste relatório”, diz ainda a jovem cristã.
Tal como Maira Shahbaz, outras mulheres e raparigas aceitaram partilhar as situações dramáticas que testemunharam. É o caso de Rita Habib, uma iraquiana que vivia em Qaraqosh quando a cidade caiu nas mãos dos jihadistas do Daesh, em Agosto de 2014. Rita descreve que foi escravizada, violentada e vendida por diversas vezes até ter sido comprada por elementos da Fundação Shlama – um grupo financiado pela diáspora assíria e caldeia –, que se fizeram passar por jihadistas para conseguirem resgatar a sua liberdade.
Em comum a todos os casos analisados no Relatório está o facto de os violadores, os raptores, pertencerem à comunidade muçulmana e olharem para as mulheres e raparigas cristãs com absoluto desprezo. “A investigação da Fundação AIS aponta para uma realidade de tal forma dramática que se pode falar mesmo numa situação catastrófica ao nível dos direitos humanos”, diz Catarina Martins de Bettencourt. “Em zonas de conflito ou onde se verificam insurgências islâmicas, nomeadamente no Médio Oriente ou em certas regiões do continente africano, as mulheres oriundas de minorais religiosas sofrem altos níveis de exploração sexual”, acrescenta a directora da Fundação AIS em Portugal. É o caso da Nigéria onde cerca de 90 por cento das raparigas e mulheres raptadas por extremistas islâmicos pertencem à comunidade cristã”, diz ainda Catarina Bettencourt.
De facto, o Relatório refere que os casos de conversão forçada de raparigas e mulheres cristãs “pode ser classificado como genocídio”, pois decorre da ameaça de destruição da comunidade nomeadamente por grupos jihadistas. A síntese deste documento está a ser divulgada junto dos benfeitores da Fundação AIS em Portugal, destacando-se, além da história de Maira Shahbaz, o caso de Farah Shaheen, outra jovem paquistanesa raptada com apenas 12 anos de idade. O seu testemunho prova a violência inumana com que estas raparigas cristãs são tantas vezes tratadas pelos seus raptores. “Estava acorrentada a maior parte do tempo… Foi horrível. Puseram-me correntes nos tornozelos e amarraram-me com uma corda. Tentei cortar a corda e arrancar as correntes, mas não consegui. Rezava todas as noites, dizendo: ‘Deus, ajuda-me, por favor’.”
A divulgação do Relatório foi alvo, entretanto, de uma atitude censória no Reino Unido pelos responsáveis do Facebook. A restrição à divulgação de informações relacionadas com o documento e à campanha que a instituição está a promover neste país, mereceu a crítica de Neville Kyrke-Smith, director do secretariado local da Fundação AIS. “Estamos horrorizados – disse Nevile – que a nossa campanha, que visa ajudar mulheres em sofrimento, tenha sido censurada de forma tão rígida”.
O Relatório “Oiçam os Gritos delas” pode ser solicitado à Fundação AIS em Portugal pelo telefone 217544000 ou por mail em apoio@fundacao-ais.pt.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt