NIGÉRIA: “Perdoo e esqueço”, diz jovem cristã ao recordar o tempo que esteve em cativeiro às mãos de terroristas

Janada Marcus foi raptada por terroristas do Boko Haram em Novembro de 2020.  Durante seis dias de cativeiro esta jovem cristã foi violentada de tal forma que, mais tarde, haveria de dizer que esse tempo lhe pareceu uma eternidade, como se tivessem sido seis anos. Convidada agora pela Fundação AIS de Espanha para dar o seu testemunho, Janada Marcus fala na importância do perdão.

Recentemente, durante as festividades do Natal, grupos armados de pastores nómadas fulani invadiram e atacaram cerca de 26 aldeias cristãs no estado de Plateau. O resultado foi brutal. Calcula-se que terão morrido cerca de duas centenas de pessoas e aproximadamente 300 ficaram feridas.

Mais recentemente ainda, já em Janeiro deste ano, novos incidentes graves ocorreram na região de Mangu, também no mesmo estado e envolvendo de novo pastores nómadas Fulani e a comunidade cristã local, e isso apesar de as autoridades terem decretado o recolher obrigatório na região. Os incidentes ocorreram nos dias 23 e 24 de Janeiro havendo relatos na comunicação social em que se aponta para mais de 40 mortos, cerca de uma centena de casas incendiadas e quatro igrejas e sete mesquitas também destruídas.

Estes ataques voltam a justificar o facto de a Nigéria ser um dos países mais perigosos para os cristãos em todo o mundo. Há vários anos que é assim. Especialmente no norte, onde actua o Boko Haram. Trata-se de um grupo jihadista que procura implantar um califado nessa região africana e que é responsável, especialmente desde 2009, por milhares de mortos e milhões de deslocados.

Janada Marcus é uma das suas vítimas. Recentemente ela esteve em Espanha, a convite da Fundação AIS, para dar o seu testemunho, para contar como é viver num país onde os cristãos estão na mira das armas de um dos mais temíveis grupos terroristas da actualidade.

REAPRENDER A VIVER

Janada nunca mais irá esquecer o dia 9 de Novembro de 2020. Ia a caminho de uma repartição governamental quando foi raptada por homens armados, terroristas. Levaram-na para o mato onde foi violentada. Esteve em cativeiro seis dias até que conseguiu fugir. Foi de tal forma terrível o que passou que já chegou a dizer que esses dias lhe pareceram quase seis anos.

Fugiu e conseguiu regressar a casa. O seu estado exigia um apoio que ali ninguém conseguia dar. Por isso, a mãe de Janada decidiu levá-la ao Centro de Trauma da Diocese de Maiduguri, uma instituição que auxilia precisamente as vítimas do terrorismo, que presta ajuda às pessoas traumatizadas. Pessoas como Janada Marcus. 

Trata-se de uma estrutura que foi erguida com o apoio da Fundação AIS para o tratamento psicológico e reabilitação das vítimas do terrorismo na Nigéria. Foi lá que Janada reaprendeu a viver. Mas o mais importante foi o que já conseguiu emocionalmente. A tal ponto que agora aceita contar publicamente a sua história para alertar o mundo para aquilo que os cristãos estão a viver no seu país.

Janada esteve em Espanha a convite da Fundação AIS e abriu o seu coração. “Quero agradecer-vos a todos, porque me apoiaram muito. Quero falar-vos da minha vida, de como consegui escapar”, explica numa mensagem que fez questão de gravar. Uma mensagem em que, em poucos minutos, conta o que passou, os dramas que viveu, e como superou tudo graças também ao apoio da Igreja.

Fugi dos terroristas quando me raptaram. Quando regressei a casa, tinha pesadelos, sonhos horríveis e não conseguia conversar com as pessoas. A minha mãe começou a ver tudo isso e decidiu levar-me à igreja.”

“PERDOAR OS INIMIGOS”

O relato desta jovem, um dos símbolos da perseguição violenta que a comunidade cristã tem vindo a sofrer na Nigéria, prossegue. A sua mensagem é curta, mas impressiva.

Ela descreve o que lhe aconteceu em cerca de três minutos. Três minutos onde encerra a violência, mas também o perdão. Um perdão que começou a ganhar corpo quando conheceu o padre Joseph Fidelis Bature, que é também psicólogo clínico e um dos responsáveis pelo Centro para Cura de Trauma, administrado pela Diocese de Maiduguri.

“Na igreja conheci o Pe. Fidelis, que rezou por mim e me pediu que recebesse acompanhamento. Ele rezou por mim, acompanhou-me, falou comigo sobre a vida, disse-me que a minha vida mudaria e perguntou-me o que é que eu queria fazer. Eu disse-lhe que gostaria de voltar a estudar.” E voltou mesmo a estudar. Janada inscreveu-se até na Universidade e espera vir a tornar-se num membro activo da sociedade. Para já, vai ganhando também algumas competências nomeadamente ao nível do artesanato e da costura. Um percurso que, como faz questão de sublinhar, foi conseguido também com o apoio da Fundação AIS.

Agradeço à Fundação AIS. A minha mãe costumava rezar por nós todos os dias e ensinou-nos que Deus nos diz para perdoar para termos paz na nossa mente. Deus diz-nos para perdoar os nossos inimigos. Isso faz parte da nossa fé cristã. Eu perdoo-lhes quando rezo e assim já tenho paz na minha mente. Eu perdoo e esqueço”.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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