PORTUGAL: Maria Cabral, a “artesã” que aos 97 anos faz questão de ajudar os Cristãos perseguidos

Maria Antónia Cabral foi uma das primeiras 10 mulheres a licenciar-se em Arquitectura em Portugal e, apesar de já ter 97 anos, continua activa. Na semana passada foi inaugurada em Lisboa uma exposição sua de Registos, um trabalho artesanal muito minucioso de Arte Sacra cuja venda vai reverter para a Fundação AIS. É um gesto que diz muito de alguém que procura com o seu talento minorar o sofrimento dos cristãos perseguidos em todo o mundo.

Tem 6 filhos, 14 netos e 15 bisnetos. Aos 97 anos, Maria Antónia Cabral, ou “Bixa”, como também é conhecida, continua muito activa e a prova disso é a exposição de Registos, inaugurada em 4 de Novembro, no auditório da Junta de Freguesia de Benfica, em Lisboa.

Os Registos, de que ela se encantou ainda criança, são uma expressão muito popular de arte sacra, que terá tido o seu início a partir do século XVIII. Trata-se de um trabalho artesanal muito minucioso com a imagem de um Santo ou de Nossa Senhora, por exemplo, que se guarda numa caixa emoldurada artisticamente e protegida com um vidro. Alguns registos incluem uma relíquia. São os relicários.

Para Maria Antónia Cabral, uma das primeiras dez mulheres licenciadas em Arquitectura em Portugal e autora de banda desenhada, os seus Registos são, acima de tudo, um “hobby”. Um passatempo que levou muito a sério e que se tem transformado em solidariedade para com os Cristãos perseguidos no mundo, pois a venda destes objectos populares de arte sacra tem revertido para a Fundação AIS. E isso vai acontecer agora, novamente, com a exposição em Benfica.

FORRAR CAIXINHAS

Os Registos entraram na vida desta mulher simples, de sorriso amável, quando era ainda criança.

“Desde pequena, muito pequena, aprendi as primeiras letras com a minha mãe, e lembro-me que ela já me ensinava a forrar caixinhas e a pôr florzinhas em relevo em cima das tampas das caixas. E lembro-me, tinha uns 14 ou 16 anos, de ver na Nazaré os Registos que tinham aquelas mulheres na praça de peixe. Tinham cobertores no chão com os Registos e eu ficava encantada a ver aquilo. Eram de uma enorme simplicidade. Depois, muito mais tarde, decidi começar também a fazê-los. Os primeiros, eram muito rudimentares…”.

Foi assim que tudo começou. “Mas depois casei e parei. Não tinha tempo nem oportunidade para continuar a fazer aquilo.” Mas o ‘bichinho’ ficou.

Sempre me interessei pelos Registos e lembro-me de quando ia passear para a Baixa, passava pela rua de São Bento e entrava nos antiquários e via uma variedade enorme, uns mais rudimentares, muito pobres, outros mais elaborados, mas todos com os mais variados materiais. E eu pensei então que talvez pudesse fazer também alguns usando para isso materiais simples.”

“NÃO SOU ARTISTA”

 “Tenho a impressão de que fazer Registos é um vício. Tenho uma prima que faz Palavras Cruzadas, não passa um dia sem fazer Palavras Cruzadas, tenho uma tia que fazia Paciências, comigo são os Registos…. É um vício.”

Maria Cabral não sabe obviamente quantos já terá realizado até hoje, diz apenas que foram já “muitos”. Centenas, seguramente. “Alguns são com um desenho da minha mãe, fez vários, fazia muitas coisas, era pintora. Ela era mesmo artista. Eu não sou artista, sou artesã.”

Os Registos são, normalmente, imagens de santos. Para Maria Antónia Cabral, qualquer imagem serve desde que seja bonita. “Como eu digo, faço o Registo para a imagem e a imagem para o Registo. Se tenho uma imagem de que gosto muito, arranjo um Registo. Se tenho materiais quer quero aplicar, arranjo uma imagem. A não ser que sejam encomendas, não faço cerimónia…”

Ao longo dos anos, têm sido muitas as encomendas feitas a esta Arquitecta de sorriso bonito. São Registos para oferecer em casamentos, baptizados, aniversários, jantares…

“NUNCA COMPREI NADA”

A artista, que se considera apenas artesã, faz da escolha dos materiais uma das partes mais gostosas desde “hobby”. O olhar foi-se refinando e ela passou a descobrir no desperdício de quase tudo as matérias-primas para os seus trabalhos.

O marido teve uma oficina de artes-gráficas e era lá que ela ia buscar o que estava condenado ao lixo, especialmente os vidros coloridos que eram usados antigamente nos processos de impressão. As caixas de papel fotográfico transformaram-se, também, nas suas mãos, em caixas-moldura de muitos Santos Antónios ou de Nossas Senhoras.

“As embalagens do IKEA são estupendas, é um cartão lisinho, perfeito”, diz. Uma coisa é certa: “Nunca comprei nada”. Em todos estes anos como artesã já utilizou vestidos antigos que eram da sua mãe, cortinados velhos, almofadas gastas pelo tempo, roupa em desuso. De tudo retira alguma coisa que transforma no adorno, no aconchego de algum santo. E o melhor de tudo, diz, é mesmo a recolha dos materiais…

“Uma vez, ia com o meu marido a descer as ramblas e dei com um desses painéis de cartazes, de anúncios, e um deles estava com o vidro partido. Era desses vidros que se partem e ficam em pedacinhos. Tirei um lenço da mala e enchi-o com aquilo. O meu marido até perguntou se ia mesmo levar aquilo…. Era uma oportunidade! Levei o lenço assim cheio de vidrinhos para o hotel. Ainda fiz uns dois ou três Registos com aquilo. Ficaram pesadíssimos…”

AMIGA DA FUNDAÇÃO AIS

Desde há cerca de uma dúzia de anos que Maria Cabral é benfeitora da Fundação AIS. Em casa recebe os boletins e cartas enviadas pela instituição e isso ajuda-a a estar informada sobre a realidade por vezes dramática da Igreja perseguida, dos cristãos que sofrem no mundo. 

“A Fundação AIS apareceu na minha vida há algum tempo já. Confio na instituição, porque vejo que é uma coisa que é da Igreja, e o que faz é bem entregue… Há tanta coisa que nos faz impressão ver no mundo e tudo o que puder aliviar o sofrimento é bem-vindo”, diz, explicando a razão por que escolheu agora ajudar uma vez mais a Fundação AIS com a venda do seu trabalho.

“Eu vejo isso nos Boletins que mandam cá para casa. Lá vêm essas descrições, e isso motiva-me a ajudar no que puder. E agora, tendo ali tantos Registos e não tendo um destino para lhes dar, decidi fazer uma exposição e [o valor angariado] vai para a AIS.” Um gesto que diz muito de alguém que, aos 97 anos, se inquieta com o mundo e se incomoda com o sofrimento dos cristãos que são perseguidos por causa da sua fé.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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