SUDÃO DO SUL
"Não têm comida, nem água"
O Sudão do Sul, o mais jovem e um dos mais pobres países do mundo, enfrenta uma realidade dura. Desde Abril do ano passado, a brutal guerra civil no vizinho Sudão provocou já uma das mais graves crises humanitárias no continente africano, com centenas de milhares de refugiados. O Sudão do Sul é, precisamente, um dos países que mais tem acolhido pessoas em fuga, apesar de não ter recursos para ajudar tantas famílias. Como nos diz o Bispo de Juba, muitos destes refugiados “não têm comida, nem água”.
A Igreja é, neste contexto, um verdadeiro farol de esperança. Todos os dias há novos refugiados, há novas necessidades, há novas urgências. A Fundação AIS está no terreno para ajudar. O seu apoio é fundamental.
Juntos podemos semear esperança e transformar vidas no Sudão do Sul.
Junte-se a nós nesta missão de amor e de fé!
"Por favor, venham em ajuda"
D. STEPHEN AMEYU
A guerra no Sudão está a gerar uma grave crise humanitária em África. Milhares de pessoas estão em fuga e procuram acolhimento em países da região. Um deles é o Sudão do Sul.
O Arcebispo Stephen Ameyu responsável pela Arquidiocese de Juba, capital do Sudão do Sul, fala em milhares de pessoas que ficaram sem nada, e garante ainda que no Sudão, por causa da guerra, nem as igrejas têm sido poupadas. “Todas as igrejas em Cartum sofreram danos, todas as paróquias…”
O conflito armado no Sudão arrisca-se a ser mais uma guerra esquecida em África apesar das consequências dramáticas a nível humanitário que se estão a verificar na região. Milhares de pessoas procuram refúgio nos países vizinhos, como o Sudão do Sul, fugindo dos combates muito acesos desde 15 de Abril de 2023, entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), um grupo paramilitar.
“Não têm comida, nem água…”
D. Stephen diz que o seu país se tornou um porto de abrigo para estes refugiados, mas alerta que “as necessidades são gigantescas. Por favor, venham em ajuda destas pessoas deslocadas, que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade. Deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida. Muitos destes refugiados encontram-se em Juba, onde estão a ser instalados campos de refugiados. A fuga das populações é generalizada. É urgente o apoio de organizações internacionais.”
“Mesmo alguns sul-sudaneses que tinham permanecido no Norte estão a voltar ao Sudão do Sul para encontrar refúgio. Estão a partilhar a vida, juntamente com os seus irmãos no Sudão do Sul. Não fazemos diferença entre quem é do Norte e do Sul, deixamos as pessoas entrar. O Governo do Sudão do Sul também tem cooperado, desde o início, afirmando que todas as pessoas devem ser acolhidas, abrindo as fronteiras”, diz-nos D. Stephen.
Um dos projectos que a Fundação AIS vai apoiar em Malakal, no Sudão do Sul, irá permitir a sobrevivência imediata a mais de 500 famílias refugiadas, o que significa, na prática, cerca de 3 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças.
Estas famílias fugiram traumatizadas da guerra que está a assolar o vizinho Sudão, e fizeram-no de forma dramática, a pé ou em pequenos barcos, após travessias perigosas e sempre de mãos completamente vazias. Agora, estão em centros provisórios de acolhimento. Um deles é em Wadakona, Malakal, no Estado do Alto Nilo.
► Todas estas pessoas precisam urgentemente de alimentos e de bens essenciais para sobreviver, como D. Stephen nos pede. Este projecto é mais do que uma resposta humanitária… Pode ser mesmo a última oportunidade para oferecer esperança, dignidade e a possibilidade de um recomeço de vida para todos estes refugiados.
A Igreja do Sudão do Sul conta com a sua ajuda para apoiar estas famílias.
» Com 25€ é possível ajudar a alimentar 1 família refugiada em Malakal, durante 1 mês.
Histórias de desespero e esperança
Em visita de trabalho, Kinga von Schierstaedt, responsável de projectos em África, esteve recentemente no Sudão do Sul. Na foto, vêmo-la rodeada por sacerdotes e fiéis em Terekeka, um momento que simboliza a esperança no meio das adversidades. A sua visita revelou histórias comoventes sobre a realidade deste país, destacando a resiliência e a fé inabalável das comunidades, como nos contou.
• Quais são os maiores desafios para as famílias?
Os desafios para as famílias são imensos. Muitas pessoas têm estado em constante fuga durante décadas, incapazes de se estabelecerem ou de construírem uma vida familiar estável. Os factores culturais agravam esta situação. O maior grupo étnico do Sudão do Sul são os Dinka, um povo nómada e pastoril que vive em poligamia. O valor de uma mulher é medido em gado. Quando uma família não pode pagar o preço exigido pelo casamento de um filho, uma das filhas é vendida em troca de gado. Este sistema provoca imenso sofrimento, como testemunhámos durante a nossa viagem.
Uma jovem, casada com um homem com idade para ser seu avô, decidiu deixar de comer para se suicidar, apesar de estar grávida. O seu bebé, um menino, foi acolhido por religiosas e baptizado com o nome de Jérôme. Nós estávamos presentes. Ele morreu apenas duas horas após o baptismo. Este pequeno Jérôme, nascido para o Céu, simboliza a dor e a esperança entrelaçadas na vida destas pessoas.
• O que é que a Igreja significa para as pessoas?
A Igreja é a âncora das comunidades, o ponto de contacto crucial em qualquer dificuldade, tentando sempre levar uma centelha de esperança. Um exemplo marcante é o campo de refugiados em Malakal, onde inúmeras pessoas vivem desde 2016 sem que a sua situação desoladora tenha mudado. À entrada do campo, li um graffiti que dizia “Happy New Year – Feliz Ano Novo”, e senti um nó na garganta. Que felicidade pode existir aqui? Mesmo assim, é precisamente para este lugar que o bispo quer enviar um sacerdote, para levar consolo e fé.
• O que podemos fazer pela Igreja no Sudão do Sul?
Os sacerdotes e os religiosos acompanham o povo que sofre, como verdadeiros pastores. A sua missão é conduzir o povo à santidade e curar as graves feridas deste país. Queremos fortalecê-los com o nosso apoio, pois até eles se sentem esgotados pela prolongada crise. Pretendemos também promover a pastoral familiar e apoiar a formação de futuros sacerdotes. Se ajudarmos agora e concentrarmos os nossos esforços neste país, muitas coisas podem mudar para melhor.
“A maior parte das meninas sofre violência”
IRMÃ BETA ALMENDRA
A violência física, verbal e também sexual sobre meninas e raparigas do Sudão do Sul é muito inquietante. Quando o Papa Francisco visitou o mais novo país do mundo, em Fevereiro, a chefe da missão da ONU alertava para a situação “extremamente vulnerável” em que elas se encontram. Beta Almendra é uma religiosa comboniana portuguesa, a viver na Diocese de Wau e que lida directamente com esta realidade. Ela diz, à Fundação AIS, que toda esta violência “é muito triste”, mas que a Igreja está presente para ajudar.
Aproximadamente, cerca de oito em cada dez raparigas no Sudão do Sul terá já sofrido alguma forma de violência física, verbal ou sexual durante a sua vida. Estes dados foram divulgados recentemente, a 11 de Outubro, Dia Internacional da Rapariga, pela Entreculturas, uma ONG da Companhia de Jesus que aposta na educação para a melhoria das condições de vida das populações mais vulneráveis.
A Irmã Beta Almendra, religiosa portuguesa em missão neste país africano, confirma estes números e diz mesmo que “a maior parte das meninas sofre violência. Por isso, é tão importante estar com elas, escutá-las, e dizer que realmente podem contar connosco e que isso ajuda a superar os problemas.”
A Irmã Beta Almendra, de 53 anos, natural da Ericeira, fala mesmo num ‘bullying’ quase generalizado, causado muitas vezes pela pobreza extrema, e que provoca situações traumáticas nas raparigas e jovens sul-sudanesas.
Este ‘bullying’ pode ser físico, sexual, ou verbal. Todas as meninas aqui têm um bocadinho este trauma porque sofrem. Sofrem porque não têm dinheiro para a escola, vão tentar arranjar dinheiro – os pais mandam até – para os cafés, para os bares, para as estradas, tentando arranjar alguém que lhes pague as propinas para a escola, e trazer [ainda] algum dinheiro para casa para comer…”
IRMÃ BETA ALMENDRA
Nesta vasta região de África, confrontos armados frequentes levam as pessoas a fugirem constantemente, forçando homens e mulheres de todas as idades a vive-rem juntos. A Irmã Beta explica que a pobreza extrema, agravada pela pandemia da Covid-19, intensificou esta situação. “Nos anos de 2020 a 2022, muitas crianças não foram à escola. E muitas jovens, muitas meninas de 15, 16 e até de 14 anos, ficaram grávidas e [agora] têm os seus filhos…”
“Trabalho quase dia e noite com estas jovens, tentando arranjar um projecto aqui, um projecto ali, tentando fazer com que elas estejam juntas, dando formação, criando consciência para que realmente estas situações possam não acontecer. E se acontecem, que nos falem, que nos falem…”, descreve.
A pobreza que gera toda esta violência tenderá, infelizmente, a agravar-se ainda mais com o conflito armado no vizinho Sudão. Desde 15 de Abril de 2023 que neste país os combates não dão tréguas, provocando uma gigantesca onda de refugiados e uma nova crise humanitária.
A Igreja do Sudão do Sul precisa de si!
Vamos ajudar?
Uma equipa especial
De facto, apesar das dificuldades, há também sinais de esperança. Enquanto os olhos do mundo estão voltados agora para o Campeonato da Europa de Futebol, no Sudão do Sul há uma equipa de raparigas que veste a camisola oficial da Selecção Portuguesa e as botas, oferecidas pela Federação Portuguesa de Futebol. As raparigas, equipadas a rigor, treinam todas as semanas. Jogar à bola, na Diocese de Wau, tem um significado muito especial. É que, através do desporto, aprende-se o que é a união, a fraternidade, e até o amor. Para a “treinadora”, a Irmã Beta Almendra, isso é o mais importante, especialmente num país como o Sudão do Sul, marcado pela violência e a guerra…
Mary usa a camisola número 14. Na Selecção Portuguesa de Futebol, apurada para o Campeonato da Europa que está a realizar-se na Alemanha, desde 14 de Junho, esse é o número atribuído a Gonçalo Inácio. Mary, de 21 anos, provavelmente não saberá quem é Inácio, mas conhecerá, seguramente, Cristiano Ronaldo e a sua forma muito efusiva de comemorar os golos e as vitórias. Mas ali, em Wau, no Sudão do Sul, isso pouco importa.
Mary é uma das jogadoras da equipa que a comboniana Elisabete Almendra organizou na diocese. Foi através do pároco da sua terra natal, a Ericeira, no Patriarcado de Lisboa, que a Irmã Beta, conseguiu que a Federação Portuguesa de Futebol oferecesse não só as camisolas mas todo o equipamento e até as botas para as jovens da equipa da igreja.
Para Mary, o mais importante de tudo é a ligação que o futebol dá ao mundo, aos outros, às outras raparigas, à sociedade. “Estamos a jogar futebol, estamos a mostrar que precisamos de estar unidas, que temos de estar juntas e que o futebol nos ajuda a estar com outras pessoas em diferentes lugares, por exemplo em Awiel e Kuajok”, explica a jovem atleta à Fundação AIS.
O futebol liga-nos a imensos lugares e pessoas lá de fora, no mundo, e também nos torna amigos. Não nos traz ódio mas amor, e também queremos mostrar que as raparigas do Sudão do Sul devem jogar futebol, pois isso aproxima-as de outras pessoas e de outras raparigas em todo o mundo.”
IRMÃ BETA ALMENDRA
A religiosa portuguesa explica à Fundação AIS a importância desta ideia singular, de levar raparigas a empenharem-se de verdade no desporto, pois isso é um caminho que ajuda na formação, na educação e, muito importante também, no exemplo que é dado a todas as outras jovens.
“Estamos a passar esta mensagem de que realmente é muito importante para estas jovens poderem continuar a estudar, poderem ir até à universidade e, mais tarde, poderem ter um nível de vida um bocadinho melhor do que o dos seus pais”, diz a Irmã Beta Almendra à Fundação AIS.
A educação é, talvez, uma das ferramentas mais eficazes para se alterar o futuro destas raparigas. Esta realidade, que é “muito triste”, nas palavras da própria religiosa portuguesa, pode ser combatida com ideias simples e divertidas como a prática do desporto, nomeadamente do futebol.
Estes testemunhos não só iluminam a coragem deste povo, mas também reforçam a importância do apoio contínuo da Fundação AIS. Directamente do Sudão do Sul chega-nos este apelo urgente de D. Stephen, que alerta para as necessidades gigantescas que enfrentam.
Ele pede-nos ajuda: “venham em ajuda destas pessoas deslocadas, que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade. Deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida”.
A sua ajuda é fundamental para podermos enxugar as lágrimas destes homens, mulheres e crianças que dependem unicamente da Igreja e de cada um de nós.
Com 25€ é possível alimentar 1 destas famílias refugiadas em Malakal, durante 1 mês. Juntos, podemos fazer a diferença neste campeonato e trazer esperança a quem mais precisa.
SUDÃO DO SUL
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