SÍRIA: Travar o êxodo dos cristãos é uma das prioridades da Igreja neste país em guerra há 14 anos

“Não esqueçamos a Síria, um país que há muito sofre com a guerra”, disse o Papa Francisco no domingo, dia 17, ao final da oração do Angelus. De facto, a Síria é um país em crise profunda. Os preços altíssimos, a escassez de bens de primeira necessidade, a pobreza que se generaliza e o espectro da violência, estão a levar a população a emigrar e a provocar também o quase desaparecimento da comunidade cristã. A Fundação AIS está fortemente empenhada em combater esse êxodo através de diversos projectos de apoio às famílias.

O dia 15 de Março não passou despercebido certamente para a maioria dos sírios. Foi nessa data, em 2011, que começou o conflito armado brutal que ceifou já a vida a mais de 400 mil pessoas e que provocou uma das maiores crises de deslocados em todo o planeta. Calcula-se que mais de 13 milhões de sírios [numa população de cerca de 23 milhões de habitantes] fugiram do país ou estão a viver fora das suas casas, das suas terras de origem, noutras regiões dentro das fronteiras da Síria. E os que ficaram sonham em partir.

Esse parece ser um denominador comum a quase toda a população. “Noventa por cento dos cidadãos sírios estão a pensar em emigrar”, diz, à Fundação AIS, o Padre Basilios Gergeos, da paróquia de São José, em Dwel’a, um subúrbio cristão de Damasco. 

A guerra – que persiste em algumas zonas, principalmente no noroeste do país e que estão ainda sob controlo de grupos rebeldes –, aliada às sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos e União Europeia, e até as consequências de catástrofes naturais, como o violentíssimo terramoto de Fevereiro do ano passado, estão a arrastar a Síria para uma pobreza generalizada, onde a sobrevivência das famílias é cada vez mais difícil.

“O POVO ESTÁ A MORRER À FOME”

E se isto afecta toda a população, tem um impacto brutal na cada vez mais pequena comunidade cristã que caminha para a irrelevância. Segundo estimativas recentes, restam neste momento na Síria apenas cerca de 175 mil famílias cristãs. Antes da guerra, estimava-se que viveriam cerca de 1,5 milhões de cristãos no país. E o êxodo não dá sinais de abrandar.

A Igreja tem alertado sistematicamente para esta situação. “Não é justo! O nosso povo está a morrer à fome! Após 13 anos de sofrimento, as pessoas estão cansadas, perderam a esperança. É terrível ouvi-los…”, diz a Irmã Annie Demerjian à Fundação AIS Internacional, depoimento que é semelhante ao da Irmã Maria Lúcia Ferreira, religiosa portuguesa que vive num mosteiro na vila de Qara. Ainda em Janeiro, esta irmã falava em relatos de fome.

Há pessoas que só comem uma vez por dia. As pessoas guardam o que têm só para comer, nem roupa podem comprar… Sim, pode-se dizer que estão a deixar o povo morrer à fome… É verdade.”

E não é só da falta de alimentos que os sírios se queixam. As falhas constantes na electricidade ou o custo exorbitante dos combustíveis têm levado as famílias ao desespero. “O Inverno até tem sido menos rigoroso do que noutros anos – descreveu a Irmã Myri – mas as pessoas têm menos electricidade e têm menos ‘mazout’ [óleo usado para o aquecimento das casas]. Este ano, as pessoas estão a aquecer-se com lenha, mas tudo é caríssimo, caríssimo, caríssimo. Isso é o maior problema. Muita gente só consegue viver por causa da diáspora, por causa daqueles que vivem fora e que conseguem enviar dinheiro, nem sei como”, acrescentou ainda a religiosa portuguesa à Fundação AIS.

O MILAGRE DA DIVISÃO DO PÃO

Face a esta situação, o apoio da Igreja tem-se revelado crucial. No Natal do ano passado, recorde-se, a Fundação AIS lançou mesmo uma campanha internacional de apoio aos cristãos deste país. Inúmeros projectos têm sido promovidos e são expressão da solidariedade dos benfeitores e amigos da Ajuda à Igreja que Sofre em todo o mundo.

É o caso da Paróquia de São Youssef, no bairro de Tabbaleh, em Damasco, a capital do país. Foi aí que nasceu o projecto “refeições solidárias”, uma iniciativa local que tem o apoio da fundação pontifícia. Entre os mais pobres foram detectadas cerca de 300 pessoas. Por ali pratica-se todos os dias o milagre da divisão do pão. O pouco que se tem vai sendo distribuído para que ninguém fique com o prato vazio.

Para preparar as refeições quentes para estas centenas de pessoas, foi criado um refeitório a que se chamou muito apropriadamente de ‘Beital eileh’, ou seja, Casa de Família. Assim, através deste projecto da Fundação AIS, a Igreja não só apoia os funcionários e as suas famílias, mas também proporciona refeições quentes três vezes por semana a todas as pessoas necessitadas. Além disso são também entregues refeições aos idosos que, devido às suas condições de saúde, não conseguem sair de casa.

UMA AJUDA TAMBÉM EM HOMS

Recentemente, o Arcebispo de Homs referiu também a importância da ajuda que a Fundação AIS está a promover na Síria. D. Jacques Mourad destacou vários projectos relacionados precisamente com a Campanha de Natal, nomeadamente o que envolveu a distribuição de “presentes a crianças e pessoas com deficiência”, mas também, por exemplo, o auxílio à própria sobrevivência dos sacerdotes na sua Arquidiocese “com estipêndios de missa, a sua única fonte de rendimento”, e ainda o apoio, anual, “aos campos de férias para crianças, jovens, escuteiros e coros”.

“Estes campos – explicou o prelado – desempenham um papel essencial na cura dos traumas da guerra e dos problemas psicológicos decorrentes da instabilidade e da pobreza que assolam o país.”

Neste contexto, os microprojectos co-financiados pela AIS constituem também um apoio importante para as famílias criarem os seus próprios negócios, pois permitem a aquisição de equipamentos, maquinaria e ferramentas, por exemplo, através da concessão de pequenos empréstimos. O programa alivia os danos económicos causados pelo aumento da pobreza e da insegurança, preservando simultaneamente a dignidade humana, o que, em última análise, salvaguarda a existência de uma comunidade cristã activa na Síria.

UMA PARÓQUIA SOLIDÁRIA

Garabed Avedisian, que trabalha para o Centro Esperança na Síria, uma das entidades promotoras destes micro-projectos, agradece aos benfeitores da AIS e comenta: “Com estes projectos, não estamos apenas a construir o nosso país, estamos a construir a nossa casa”. O Padre Basilios Gergeos agradece também aos benfeitores da Fundação AIS tudo o que tem sido feito pelo seu país. “Sem eles, não poderíamos estar tão perto das pessoas como gostaríamos. Eles ajudam-nos a servir as pessoas.”

Na paróquia de Dwel’a, onde trabalha com outros dois sacerdotes, os projectos apoiados pela AIS incluem uma clínica psiquiátrica de dia, campos de férias e actividades de escuteiros, um jardim-de-infância, uma sopa dos pobres e a distribuição mensal de leite às famílias mais pobres, muitas das quais têm crianças com problemas de crescimento devidos à má nutrição.

“Todas estas acções mostram às famílias que a Igreja se preocupa com elas e está aqui para as ajudar. Os projectos desempenham um papel importante para a permanência das pessoas na Síria”, comenta o Padre Basilios.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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