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SÍRIA: “O desespero é generalizado entre os cristãos”, diz Regina Lynch, responsável de projectos da Fundação AIS
“Pelo menos 90 por cento da população síria vive abaixo da linha de pobreza”, diz a responsável de projectos da Fundação AIS para o Médio Oriente, que esteve recentemente em Damasco para uma conferência da Igreja Católica sobre caridade e a sinodalidade.
A situação é grave e arrisca-se agora a passar despercebida aos olhos do mundo com a comunicação social concentrada na guerra na Ucrânia e esquecendo, de certa forma, os outros conflitos que há no mundo, nomeadamente na Síria.
A guerra neste país já entrou no décimo segundo ano e são cada vez mais visíveis, alerta Regina Lynch, os efeitos devastadores das sanções impostas pelos Estados Unidos e União Europeia ao regime de Bashar al-Assad. “Antes do início da guerra, os cristãos da Síria não dependiam de ajuda externa”, diz a responsável da Fundação AIS.
“Agora é muito triste ver como uma percentagem tão grande da população precisa urgentemente de ajuda e, sem dúvida, na Síria as sanções afectam as pessoas comuns. A inflação é galopante, motivo pelo qual não podem mais financiar medicamentos ou operações, nem comprar carne ou leite para os seus filhos, nem mesmo a passagem de autocarro para ir à escola ou à universidade. Mesmo quem tem familiares no exterior não pode receber dinheiro devido aos embargos bancários”, explica Regina Lynch.
“A realidade é que a maioria das sanções está a prejudicar as pessoas comuns mais do que qualquer coisa. Por esta razão, a Igreja local manifestou-se fortemente contra e nós estamos de acordo”, acrescentou. E dá exemplos de como “a situação só está a piorar”. “Especialmente nos meses mais frios do ano, porque em muitas partes do país as temperaturas caem abaixo de zero à noite e pelo menos 90 por cento da população vive abaixo da linha da pobreza, isso significa que as pessoas não têm dinheiro para comprar combustível para o aquecimento ou para a electricidade…” Por tudo isto, diz ainda Regina Lynch, que acompanha desde há anos as comunidades sírias, “o desespero é generalizado entre os cristãos”.
Os sírios não sofrem apenas com as consequências das sanções impostas a Damasco, são vítimas também da violência de uma guerra que teima em não acabar. Para a responsável de projectos da Fundação AIS, há pessoas que precisam de ajuda, de solidariedade, e até de reconciliação com as suas próprias memórias.
“Muitos cristãos sírios sofreram traumas terríveis nos últimos onze anos. Eles perderam ente queridos, testemunharam violência extrema e até receberam ameaças de morte por serem cristãos. Acredito que a fé é a razão pela qual muitos têm resistido. No ano passado – diz Regina Lynch à conversa com Filipe D’Avillez –, visitámos uma mulher cujo marido foi sequestrado, e provavelmente morto, por extremistas islâmicos em Maalula, e que encontrou consolo somente na Igreja e na fé, e em particular nas religiosas que sustentam a sua família. Para muitos cristãos, a guerra teve um efeito positivo na sua fé e deu à Igreja a oportunidade de colocar em prática os seus ensinamentos sobre a caridade e o perdão.”
O trabalho da Fundação AIS na Síria destina-se a apoiar as populações independentemente da sua religião. “A AIS é uma fundação católica com doadores principalmente católicos, e os nossos parceiros de projecto na Síria são líderes das Igrejas Católicas ou Ortodoxas que, por sua vez, ajudam principalmente as suas próprias comunidades, mas também há projectos que beneficiam muçulmanos que precisam de ajuda”, diz Regina, dando também o exemplo das “escolas católicas apoiadas pela AIS onde muitos ou [mesmo] a maioria dos alunos não são cristãos, mas muçulmanos”.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt