Quando a Síria assinala a primeira semana de transição para o novo regime, a Fundação AIS recolheu testemunhos em primeira mão que permitem uma visão da situação actual no terreno em regiões-chave do país, incluindo Homs e Alepo, onde as pessoas lidam com as incertezas de um tempo pós-regime.
Em Homs, o ambiente continua cauteloso enquanto as pessoas saíram à rua para as manifestações da passada sexta-feira. O abastecimento de alimentos e combustível é limitado e os preços não param de subir. O medo do que o futuro reserva aos cristãos é palpável. As escolas reabriram na passada segunda-feira, dia 16. A Fundação AIS falou com um contacto que sublinhou a crescente preocupação dos cristãos com o futuro do país.
A minha mensagem para o mundo é a importância do apoio internacional aos cristãos para se estabelecer uma constituição civil, em vez de uma constituição islâmica baseada na Sharia. Se a constituição se basear na lei da Sharia, os cristãos terão, sem dúvida, de abandonar o país porque as liberdades pessoais serão restringidas.
A preocupação é que o país esteja a transitar de um regime que suprimia toda a dissidência para um regime que pode limitar as liberdades pessoais em nome da religião. “Os cristãos não têm qualquer força capaz de garantir os seus direitos em termos de constituição, vida institucional e pela governação civil. Teme-se que tenhamos passado de um regime que silenciava toda a gente para um regime que não permite que os outros vivam como querem, com liberdades pessoais”, continuou a fonte. Existe um receio crescente de que o país possa evoluir para um sistema islâmico extremista, em que a ideologia religiosa se sobreponha às liberdades individuais.
SINAIS DE NATAL EM ALEPO
Entretanto, em Alepo, a atmosfera é mais moderada, mas ainda cautelosamente optimista. As pessoas estão a tentar retomar a vida normal, com pequenos sinais de Natal a aparecerem pela cidade. As igrejas começaram a colocar decorações, com as novas autoridades a exortar os cidadãos a celebrar e a melhorar o ambiente da cidade. “Viemos para deixar tudo melhor do que estava”, disseram as autoridades à população, de acordo com as fontes consultadas
Apesar da subida inicial dos preços, a AIS sabe que os preços começaram a estabilizar, com as marcas estrangeiras, nomeadamente da Turquia, a estarem agora disponíveis a valores mais baixos do que os produtos locais. As novas autoridades de Alepo garantiram ao público que as escolas cristãs continuarão a funcionar, abrindo as suas portas. Os hospitais também reabriram e as fábricas de medicamentos locais começaram a produzir novamente.
Embora o país ainda esteja a recuperar das dificuldades e dos rigorosos embargos da última década, a situação está a melhorar lentamente. As Missas de Domingo decorreram sem incidentes tanto em Homs como em Alepo. Oferecendo um momento de esperança e um sopro de alívio da incerteza para a comunidade cristã em antecipação do Natal, os fiéis reuniram-se para rezar no meio de um futuro imprevisível que enfrentam.
LIBERDADE RELIGIOSA
É um facto que a comunidade cristã continua cautelosa quanto ao futuro, com a sua confiança nas autoridades profundamente abalada após 13 anos de conflito. “Depois de todo o sofrimento e dificuldades, é-nos muito difícil confiar facilmente em alguém ou nas novas autoridades”, explicou à AIS um dos cristãos de Alepo.
A investigação da AIS revela que, embora se tenham registado incidentes e relatos ocasionais de discriminação ou agressão religiosa, não há sinais de perseguição sistemática nesta altura, e estes continuam a ser incidentes isolados.
A Fundação AIS continuou a manter contactos directos com os seus múltiplos parceiros e com os líderes da Igreja na Síria, que se reuniram várias vezes com as novas autoridades, tanto em Alepo como em Damasco, durante a semana passada. A organização, empenhada em apoiar os cristãos desde o início da guerra, em 2011, pede à comunidade internacional que acompanhe este período de transição de forma a se garantir a liberdade religiosa na Síria.
María Lozano | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt