SERRA LEOA: Num dos países mais pobres do mundo, uma irmã polaca tenta ensinar o que é a esperança

SERRA LEOA: Num dos países mais pobres do mundo, uma irmã polaca tenta ensinar o que é a esperança

É com um sorriso que a irmã Gianna fala da sua missão em Kambia, um lugar onde não há electricidade e onde tudo parece estar ainda por fazer. Ela está cheia de projectos. Quer ensinar as crianças a ler e a escrever e as mulheres a cozinhar, a tratar dos filhos, a lidar com as coisas mais básicas do dia-a-dia. É essencial o trabalho destas Irmãs de Jesus Misericordioso, congregação que é apoiada pela Fundação AIS.

Deus trocou as voltas à irmã Gianna. Ela própria confessa isso à Fundação AIS. Antes de ter pensado em seguir a vida religiosa, esta jovem polaca de sorriso generoso tinha outros planos para a sua vida. “Queria ter um marido, muitos filhos, uma casa com jardim e piscina…” Tudo menos viver em África. “Nem em sonhos.” Mas Deus não lhe fez essa vontade.

Hoje, Gianna é uma das três irmãs de Jesus Misericordioso na Serra Leoa. Ela está em Kambia. Por ali, além da exuberância da natureza, falta quase tudo. A começar pela electricidade. Mas o mais importante talvez seja a falta de esperança num tempo melhor.

A Serra Leoa ainda hoje vive os fantasmas da guerra civil que se prolongou por uma década, entre 1991 e 2002. Terão morrido mais de 50 mil pessoas e mais de quinhentas mil tiveram de fugir das suas casas. Esta guerra foi particularmente dolorosa, foi particularmente cruel. As pessoas eram raptadas, mutiladas, violadas, as crianças eram forçadas a combater. Foi de tal forma brutal que o país ficou arrasado. E depois, mais tarde, veio ainda a epidemia do Ébola e a pandemia do coronavírus.

É difícil sonhar num país ainda com memórias vivas de tanta tragédia. Mas este é o país onde vive agora a irmã Gianna. E logo ela, que “nem sem sonhos” se imaginava em África, tinha de vir parar a um dos países mais pobres do mundo. Que fazem estas irmãs na Serra Leoa? Procuram mostrar que Deus é amor. “Tentamos fazê-lo por todo o lado onde vamos. Estamos neste lugar há muito pouco tempo, mas tentamos, com o nosso modo de vida, mostrar o que significa ser Deus misericordioso, que Deus é amor…”

Ajudar os jovens, as mulheres…

Chegou em Dezembro de 2016 e já diz que ama esta terra que adaptou como a sua nova pátria. Gianna é polaca, o seu inglês não é famoso, mas ela vai-se desenrascando. “Eu amo este lugar. As pessoas que vivem aqui, por exemplo os nossos vizinhos são muçulmanos, são muito abertas connosco. O meu inglês não é perfeito e no início era difícil falar línguas diferentes, falar em inglês. Mas eles diziam: ‘Tente, irmã, tente! Queremos que fale, fale em inglês. Tente. Nós vamos tentar perceber o que quer dizer’. Mesmo quando eu não entendia aquilo que me queriam dizer, repetiam-no muitas vezes e eu tentava entender.”

A vida na Serra Leoa é difícil. Não haverá um lugar neste país onde as pessoas não tenham dificuldades, onde não precisam de ajuda. As irmãs estão ali para isso, para estenderam as suas mãos, para ajudarem a construir sonhos, para ajudarem a reconstruir vidas. E ideias para isso não faltam. “Temos planos para este lugar”, diz, sempre sorrindo, a irmã Gianna. E com a ajuda da AIS, alguns desses sonhos foram-se tornando realidade. Foi assim com a escolinha para os mais novos.

O edifício que existia foi renovado sempre a pensar nas crianças. O telhado foi reparado e construíram-se casas de banho, uma novidade por ali. “Agora, podemos ensinar as crianças a utilizá-la e melhorar o seu nível de vida. Vêm aqui todos os dias e aprendem, estudam e brincam, mas também recebem uma refeição quente, o que é raro para elas. São felizes e afortunadas”, diz a Ir. Gianna, agradecendo a todos os benfeitores que tornaram possível esta obra.

Actualmente, o infantário é frequentado por cerca de uma centena de crianças. As irmãs acreditam que elas poderão vir a ser uma semente de fé para a comunidade local. E há sinais de que alguma coisa está já a mudar… “A maior parte das famílias são dos arredores. Aos domingos, vestem os seus filhos com as suas melhores roupas para os levar a rezar connosco. Este tipo de evangelização está a funcionar. Não podemos evangelizar muito com palavras, mas acredito que, graças ao nosso exemplo, muitas destas crianças poderão aproximar-se de Cristo no futuro”, diz a irmã, sempre com um sorriso bondoso.

Ensinar a esperança

Um dos projectos que mais entusiasma a irmã Gianna é o Centro da Divina Misericórdia. É um espaço aberto a todos, uma igreja sempre de braços abertos, pronta a acolher, pronta a abraçar. “É um local onde podemos organizar retiros aos fins-de-semana, porque queremos ajudar as pessoas a crescer espiritualmente na fé. Nós, as irmãs, queremos lembrar a todos que todos temos valor aos olhos de Deus, porque Jesus deu a sua vida na cruz por todos nós”, explica à Fundação AIS.

A presença destas irmãs tem tido um impacto muito positivo na vida das pessoas, na vida da comunidade local, especialmente entre os jovens e as crianças. As irmãs chegaram, estabeleceram laços de proximidade e deixaram que o amor falasse mais alto. O amor aos outros, esse ingrediente tão especial que levou a irmã Gianna a deixar de lado o sonho de ter um marido e uma casa grande com jardim e piscina e muitos filhos para abraçar a humanidade num dos países mais pobres do mundo.

A irmã não tem filhos mas ali, em Kambia, seguramente que haverá muitas crianças que olham para ela e sentem a ternura de uma mãe. E ela sonha em deixar rasto, em deixar marcas, em deixar obra construída com amor. Neste país, a Serra Leoa, um dos mais pobres do mundo, a irmã Gianna está a fazer algo de extraordinário. Está a ensinar o que é a esperança.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

As perspectivas para a liberdade religiosa na Serra Leoa continuam a ser positivas, e é pouco provável que a situação se altere num futuro previsível. Dado que a principal fonte de agitação social provém dos elevados níveis de desigualdade económica, os agentes religiosos desempenham um papel importante na educação e na construção da sociedade civil.

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