NIGÉRIA: Um mês após o massacre de cerca de 200 cristãos no Natal, Plateau é palco de novos ataques com dezenas de vítimas

É ainda incerto o número de vítimas, mas os relatos que chegam da região de Mangu, no estado de Plateau, na Nigéria, apontam para dezenas de mortos em resultado de confrontos, entre os dias 23 e 24 de Janeiro, entre pastores nómadas fulani e agricultores cristãos. Há Igrejas e mesquitas destruídas. Estes incidentes ocorreram praticamente um mês depois do massacre, durante as festividades de Natal, de cerca de duas centenas de cristãos em 26 aldeias neste mesmo estado nigeriano.

Novos incidentes graves ocorreram na semana passada na região de Mangu, no estado de Plateau, na Nigéria, envolvendo pastores nómadas fulani e a comunidade cristã local, e isso apesar de as autoridades terem decretado o recolher obrigatório na região. Segundo a agência Fides, é “desconhecido” ainda o “número oficial de mortos” na sequência dos “ataques de homens armados que invadiram igrejas e mesquitas nos subúrbios do conselho local de Anguwan Dawo, Old Market e Bayan Kasuwa”.

Os incidentes ocorreram nos dias 23 e 24 de Janeiro, havendo relatos na comunicação social em que se aponta para mais de 40 mortos, cerca de uma centena de casas incendiadas e quatro igrejas e sete mesquitas também destruídas. Estes incidentes ocorreram sensivelmente um mês depois dos violentos ataques a 26 aldeias cristãs também no estado de Plateau em que cerca de duas centenas de cristãos foram assassinados por militantes fulani, tal como a Fundação AIS noticiou.

Nesses ataques, entre os dias 23 e 26 de Dezembro, e que têm sido referenciados como “massacre no Natal”, além dos cerca de 200 mortos há ainda a registar aproximadamente 300 feridos. Os pastores nómadas fulani, cada vez mais radicalizados, deixaram ainda um rasto enorme de violência com casas e colheitas destruídas, igrejas e postos de saúde incendiados.

VIOLÊNCIA EM MAKURDI

Esta violência contra os cristãos não se resume ao estado de Plateau, mas tem vindo a acontecer um pouco por todo o país. Na semana passada, a Fundação AIS Internacional teve acesso a um relatório em que se dá conta de que entre Janeiro e Dezembro do ano passado ocorreram na Diocese de Makurdi e em outros locais do estado de Benue, também situada na região central da Nigéria, pelo menos 119 ataques de pastores fulani. Em resultado desses ataques, ao longo do ano de 2023, mais de 400 pessoas foram mortas e mais de 100 foram feridas, violadas ou raptadas.

Segundo o Pe. Remigius Ihiyula, um parceiro local de projectos da Fundação AIS e que dirige a Fundação para a Justiça, Desenvolvimento e a Paz, da Diocese de Makurdi, esses ataques atribuídos aos pastores nómadas fulani representam uma séria ameaça para as comunidades cristãs, que vivem nesta região conhecida também pelas suas terras férteis e por isso altamente cobiçadas.

Os Fulani vêm de sítios tão distantes como a República do Níger ou os estados nortenhos de Sokoto ou Katsina. Deslocam-se até lá, disfarçados de nómadas em busca de folhagem para o seu rebanho, mas agem como jihadistas, propagando o Islão como ideologia. Estão armados com armas pesadas, destroem aldeias inteiras em ataques de surpresa e perturbam as actividades económicas e sociais sem uma reacção clara do governo nigeriano.”

O sacerdote alertou ainda para o facto de o número real de vítimas indicado no relatório da Diocese poder ser bastante mais elevado, pois nem todos os incidentes terão sido reportados e nem sempre terá sido possível apurar com exactidão quantas pessoas perderam a vida nos vários ataques. De qualquer forma, acrescenta ainda o Pe. Remigius, todos estes incidentes representam uma escalada de violência que está a atingir fortemente a comunidade cristã.

“No passado, o conflito em torno das terras de pastagem nunca registou as mortes e a destruição a que hoje se assiste. Antes, não havia intenção de ocupar e deslocar comunidades como está a ser feito agora. Existiam também mecanismos para resoluções pacíficas e acordos amigáveis, nenhum dos quais existe actualmente”, disse ainda o sacerdote.

A CORAGEM DOS CRISTÃOS

Ainda no rescaldo do “massacre no Natal” de 2023 no estado de Plateau, Kinga von Schierstaedt, responsável de projectos da Fundação AIS para a Nigéria, falou com o semanário católico espanhol Alfa & Omega e destacou a importância da ajuda à corajosa comunidade cristã local, que enfrenta, desde há vários anos, não só os pastores nómadas fulani mas também um dos mais temíveis grupos terroristas da actualidade, o Boko Haram, e ainda a violência de gangues armados que espalham o terror entre as populações.

Tudo isto, toda esta violência tem tido um impacto enorme na vida da Igreja neste país que é o mais populoso de África. “A Igreja e o seu pessoal sofrem o mesmo que o resto [do país] e, em muitos casos, são mesmo o primeiro alvo. Por outro lado, a Igreja Católica procura estar presente ‘onde Deus chora’ e enxugar as lágrimas de quem sofre. Quando perguntei a um bispo de uma área com muita violência e sequestros se não era perigoso para os seus padres viver em áreas tão remotas, ele disse-me: ‘Se os nossos paroquianos ficam nas aldeias, como podemos pedir aos padres que venham para uma cidade mais segura e abandoná-los lá? Que imagem da Igreja daríamos?’ Ele falou com todos os seus sacerdotes sobre o risco e os seus medos, mas todos concordaram em permanecer nas aldeias, apesar do risco diário. Eles veem que sua missão é ficar com quem sofre”, afirmou Kinga von Schierstaedt ao jornal Alfa & Omega.

O APOIO DA FUNDAÇÃO AIS

Por tudo isto, é absolutamente relevante a ajuda que instituições como a Fundação AIS dão à Igreja nigeriana. Até porque os padres e as religiosas são, muitas vezes, as únicas pessoas que, no terreno, conseguem apoiar as populações vítimas dos ataques terroristas, populações que precisam de auxílio até ao nível psicológico.

“Em muitos lugares do Norte não há psicólogos ou psicoterapeutas. Mas há milhares e milhares de pessoas profundamente feridas e traumatizadas e é a Igreja, os padres e as irmãs, que devem intervir e tentar curar as suas feridas. E quem está mais bem preparado do que eles? Eles sabem combinar espiritualidade e fé profunda com psicologia e compreensão de como funciona a alma humana. Isso abre a porta para a cura”, explica ainda a responsável de projectos da Fundação AIS.

Um dos encontros mais impressionantes que tive na vida foi quando conheci algumas viúvas em Maiduguri. Os seus maridos foram assassinados das formas mais horríveis, muitos deles na frente delas. E estas mulheres, muito simples, que não tinham frequentado o ensino secundário, disseram-me: ‘O Boko Haram pode tirar-nos tudo: as nossas casas, as nossas igrejas, os nossos maridos e os nossos filhos. Eles podem até tirar nossas vidas, mas não podem tirar nossa fé’. E dizem-no com uma fé muito profunda, que lhes permite continuar a dizer sim à vida dia após dia, apesar dos desafios.”

No total, no ano passado, acrescentou a responsável, a Fundação AIS financiou, em média, “entre 120 e 145 projectos” que ascendem a “mais de dois milhões de euros”. “Em 2022, o maior montante foi destinado a projectos de construção, tanto de reconstrução como de novas construções, porque a fé está a crescer. Também distribuímos muitos estipêndios de missa, que ajudam os padres nas áreas rurais a sobreviver. A AIS contribuiu para a formação de seminaristas, noviças e também leigos. Estamos tremendamente gratos a tantos doadores em todo o mundo que tornam isto possível”, disse ainda.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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A liberdade religiosa na Nigéria está gravemente ameaçada. As vítimas são predominantemente cristãs, mas também muçulmanas e de religiões tradicionais, líderes religiosos e fiéis que sofrem às mãos dos terroristas, grupos armados jihadistas e criminosos nacionais e transnacionais.

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