Os governos ocidentais devem exigir às autoridades paquistanesas que seja feita justiça às vítimas dos ataques em Jaranwala, disse à Fundação AIS o Padre Abid Tanveer, vigário-geral da Diocese de Faisalabad. Os Bispos do Paquistão já classificaram este ataque como “o pior incidente de perseguição” aos cristãos no país…
O ataque contra a comunidade cristã em Jaranwala, no Paquistão, ocorrido a 16 de Agosto, na sequência de uma falsa acusação de blasfémia, continua na ordem do dia com responsáveis da Igreja a pedirem aos governos ocidentais para pressionarem as autoridades paquistanesas no sentido de fazerem justiça às vítimas da onda de violência brutal que teve lugar nesse dia. De passagem pelo Reino Unido, o Padre Abid Tanveer afirmou que a pressão internacional sobre as autoridades paquistanesas será essencial, pois um governo economicamente com debilidades poderá mostrar-se mais aberto para abordar este tipo de questões. Em declarações ao secretariado local da Fundação AIS, o sacerdote, que é vigário-geral da Diocese de Faisalabad, diz que, “se não for feita justiça, as vítimas de Jaranwala nunca se sentirão seguras”. A questão da insegurança é real. O Padre Tanveer disse que houve “raiva e ódio” entre os manifestantes que destruíram mais de duas dezenas de igrejas e centenas de casas de cristãos, forçando então milhares de pessoas a fugir. “Os governos do Ocidente devem exigir justiça. O governo do Paquistão vai ouvir o Ocidente porque precisa dele em termos de ajuda e de comércio”, disse ainda o sacerdote, sugerindo que os países ocidentais deveriam questionar as autoridades locais sobre o facto de os cristãos estarem a ser perseguidos. “Jaranwala revelou até onde os extremistas estão dispostos a ir em termos de destruição de casas e igrejas”, denunciou o vigário-geral. “Muitas pessoas continuam com medo. Estão sempre a pensar onde e quando será o próximo ataque”, disse ainda.
O que aconteceu a 16 de Agosto
O ataque em Jaranwala, a 16 de Agosto, surpreendeu tudo e todos. Rumores de que um homem e seu filho haviam desrespeitado o Alcorão acenderam o rastilho para uma verdadeira onda de violência e ódio. Multidões atacaram nesse dia os cristãos, as suas casas, os seus locais de culto e até um cemitério seria vandalizado. As autoridades locais nada fizeram para conter a violência. Os agressores chegaram inclusivamente a bloquear as estradas para Jaranwala para evitar que qualquer ajuda exterior chegasse às vítimas. Milagrosamente, nenhum cristão foi morto, mas centenas de famílias tiveram de fugir, perdendo todos os seus bens e meios de subsistência. A onda de indignação face ao que ocorreu foi de tal ordem que até responsáveis da própria comunidade muçulmana denunciaram e condenaram a violência contra os cristãos. O Padre Abid Tanveer salienta agora a importância das declarações desses líderes muçulmanos que manifestaram também a sua solidariedade para com a comunidade cristã. “Eles foram muito directos na sua condenação dos atentados, afirmando que estes eram fundamentalmente contrários ao Islão. Falaram muito claramente. As suas palavras podem fazer uma grande diferença, especialmente porque foram proferidas com coragem”, disse.
A ajuda da Fundação AIS
A violência contra os cristãos em Jaranwala foi de tal ordem que a Fundação AIS decidiu, a nível internacional, avançar com um pacote de ajuda de emergência para as 464 famílias mais atingidas, que inclui primeiros socorros mas também apoio, por exemplo, para a reparação dos danos causados nas habitações e ainda a aquisição de veículos. Segundo a diocese, as famílias precisam, com a maior urgência, de vestuário, electrodomésticos de cozinha, roupas de cama e colchões, material escolar para crianças e até mesmo veículos, nomeadamente motorizadas e riquexós, que foram destruídos nos ataques e eram o instrumento de trabalho de muitos cristãos que se dedicam à distribuição e venda de produtos. “O Bispo Indrias Rehmat solicitou a assistência financeira da AIS”, explicou já Marco Mencaglia, director de projetos da fundação pontifícia. A resposta da instituição foi imediata, “com o financiamento de um projecto de ajuda para a comunidade cristã e, em particular, para essas 464 famílias, para que se possam reerguer”, acrescentou o responsável. “Estamos prontos para considerar um apoio futuro para a renovação de casas totalmente queimadas e edifícios de igrejas em Jaranwala, se necessário”, disse ainda.
Solidariedade dos portugueses
Nesta campanha global de ajuda para com os cristãos paquistaneses, o secretariado português da Fundação AIS tem sido dos mais activos. Para isso, numa carta enviada no início de Setembro para milhares de benfeitores e amigos da instituição em Portugal, Catarina Martins de Bettencourt explicou a dimensão da tragédia que se abateu sobre a comunidade cristã de Jaranwala apelando à solidariedade de todos. “Foi um dos mais cruéis ataques contra os Cristãos a que este país alguma vez assistiu”, pode ler-se na carta assinada pela directora do secretariado português da Fundação AIS. “Muitos não têm ainda para onde ir, dormem no chão, sem luz eléctrica, sem nada para cozinhar… A situação é dramática.” A carta de Catarina Bettencourt termina com um apelo à solidariedade para com as famílias cristãs mais atingidas por esta onda de violência, lembrando que o tempo urge principalmente para quem ficou sem nada…
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt