NIGÉRIA: Mais de 200 cristãos assassinados por militantes jihadistas num dos piores massacres na história do país

NIGÉRIA: Mais de 200 cristãos assassinados por militantes jihadistas num dos piores massacres na história do país

Há relatos de pessoas, que estavam ao cuidado da missão católica local, no estado de Benue, e que foram queimadas vivas, outras que foram abatidas a tiro ou mutiladas à machadada. O Papa Francisco já condenou este “terrível massacre” e fala em “extrema crueldade”. Um padre que se encontrava no local relata o medo que viveu e diz que dá graças a Deus “por estar vivo…”

Aconteceu um terrível massacre, em que cerca de duzentas pessoas foram mortas com extrema crueldade, a maioria das quais deslocados internos, acolhidos pela missão católica local”, denunciou o Papa Leão XIV, neste domingo, antes da recitação do Ângelus, na Praça de São Pedro. “Rezo para que a segurança, a justiça e a paz prevaleçam na Nigéria, país amado e tão atingido por várias formas de violência, e rezo de modo especial pelas comunidades cristãs e rurais do estado de Benu, que têm sido incessantemente vítimas da violência”, acrescentou o pontífice.

O massacre ocorreu na noite de sexta-feira, 13 de Junho, e os terroristas tiveram como alvo principal as famílias deslocadas, incendiando os edifícios onde dormiam e esfaqueando todos os que tentavam fugir. As famílias encontravam-se em edifícios que tinham sido adaptados para alojamento temporário na praça do mercado, em Yelewata, na área governamental de Guma, perto de Makurdi, quando os militantes jihadistas invadiram o local aos gritos de “Allahu Akhbar” – Deus é grande –, antes de começarem com a carnificina.  

Num relato em primeira mão à Fundação AIS, elementos do clero local disseram que a polícia havia repelido os atacantes quando estes tentaram invadir a Igreja de São José de Yelewata, onde dormiam cerca de 700 deslocados internos. Mas os militantes dirigiram-se de seguida para a praça do mercado da cidade, onde, alegadamente, utilizaram combustível para incendiar as portas dos alojamentos onde se encontravam as pessoas deslocadas, antes de abrirem fogo sobre uma área onde dormiam mais de 500 pessoas.

Os relatórios iniciais referiam cerca de 100 mortos em resultado de uma verdadeira matança que durou aproximadamente três horas, mas dados posteriores recolhidos pela Fundação para a Justiça, Desenvolvimento e Paz (FJDP), da Diocese de Makurdi, elevaram esse número para cerca de 200 vítimas.  Esta é a pior atrocidade registada nesta região onde se tem verificado um aumento súbito de ataques, com sinais também crescentes de que serão actos concertados.

“DOU GRAÇAS A DEUS POR ESTAR VIVO”

Entretanto, os líderes da Igreja estão a tentar auxiliar todos os que se tinham refugiado em Yelewata na sequência dos ataques dos Fulani às comunidades de Benue – e que agora fugiram para aldeias vizinhas. Falando à Fundação AIS desde Yelewata, o pároco da cidade, Ukuma Jonathan Angbianbee, descreveu a forma como escapou, assim como outros, à morte, caindo no chão do presbitério da igreja ao som dos tiros. “Quando ouvimos os tiros e vimos os militantes, entregámos as nossas vidas a Deus. Esta manhã, dou graças a Deus por estar vivo”, relatou à AIS horas depois do ataque.

A praça do mercado, onde se deu o massacre, estava então transformada num lugar de horror. “O que eu vi foi verdadeiramente terrível. As pessoas foram chacinadas. Os cadáveres estavam espalhados por todo o lado”, disse o sacerdote. Um relatório inicial da FJDP, cuja equipa esteve também no local do massacre, confirma estas palavras. “Era um espectáculo – não é uma visão para qualquer um contemplar. Alguns [corpos estavam] queimados e irreconhecíveis – bebés, crianças, mães e pais simplesmente dizimados.” O Padre Jonathan sublinha também este aspecto: alguns dos corpos estavam tão queimados que era difícil identificá-los. 

ATAQUE CUIDADOSAMENTE PREPARADO

A cidade de Yelewata, situada na estrada principal para Abuja, tinha acolhido milhares de deslocados internos oriundos das aldeias vizinhas, e era considerada como relativamente segura, mas agora ficou quase deserta, com muitos a refugiarem-se nas povoações vizinhas de Daudu e Abagena. O Padre Jonathan referiu que os atacantes eram militantes Fulanis e que o ataque foi cuidadosamente coordenado, com os terroristas a acederem à cidade de vários ângulos e a aproveitarem as chuvas fortes que se faziam sentir para prepararem o assalto. “Não há dúvidas quanto à autoria do ataque. Foram sem dúvida Fulanis. Estavam a gritar ‘Alahu Akhbar’”, referiu.

O Padre Jonathan e outros membros do clero da Diocese de Makurdi criticaram também a resposta das autoridades, pois os agentes da polícia que conseguiram impedir os militantes de acederem à igreja estavam mal equipados e não foram capazes de impedir o ataque ao mercado vizinho. “Na manhã seguinte ao ataque, havia muita polícia e outros elementos de segurança [nas ruas], mas onde estiveram eles na noite anterior, quando precisámos?” – pergunta um importante sacerdote da diocese. E acrescenta: “Esta é, de longe, a pior atrocidade a que assistimos. Nunca houve nada de semelhante”.

DESLOCADOS PRECISAM DE AJUDA URGENTE

Segundo as autoridades, nomeadamente a Agência Nacional de Socorro da Nigéria, em consequência do ataque de sexta-feira, “o número de pessoas deslocadas ascendia a 1.069 famílias, ou seja, 6.527 pessoas”. Entre esses deslocados, “mais de 3 mil, incluindo muitas mulheres e crianças, precisam urgentemente de alimentos, água potável e suprimentos médicos essenciais”.

O Estado de Benue, especialmente a região de Makurdi, tem assistido ao recrudescimento de actos de violência desde há vários meses, essencialmente entre criadores de gado muçulmanos, os fulani, e agricultores sedentários, principalmente cristãos. Em causa está o controlo das terras e de outros recursos. Os líderes da Igreja têm apelado repetidamente à ajuda internacional, afirmando que está em curso um plano de militantes jihadistas para se apoderarem de terras e limparem etnicamente a região da presença cristã.

Ainda recentemente, no final de Maio, a Fundação AIS denunciava a morte de pelo menos 40 pessoas em ataques brutais contra comunidades rurais situadas nesta região central da Nigéria, precisamente no estado de Benue, onde agora ocorreu o massacre de cerca de duas centenas de pessoas. Ori Hope Emmanuel, da Fundação Justiça, Desenvolvimento e Paz da Diocese, relatou à Fundação AIS Internacional o que se passou entre os dias 24 a 26 de Maio em várias aldeias. Os atacantes, fortemente armados, “abriram fogo indiscriminadamente, causando vítimas civis e provocando pânico e confusão generalizada”. Agora, três semanas depois, a violência voltou a tomar conta da região.

A Fundação AIS apoia a Diocese de Makurdi com diversos projectos, nomeadamente para ajuda de emergência, mas também com iniciativas para a recuperação das pessoas traumatizadas pela violência, além de diversos projectos pastorais.

John Pontifex e Paulo Aido

Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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