É mais um poderoso alerta para as condições dramáticas em que vivem as pessoas na Faixa de Gaza. A Irmã Nabila Saleh, que continua “entrincheirada” na Paróquia latina da Sagrada Família, descreve ao Vatican News como a vida se transformou num inferno por causa da guerra. “Peço a todos que ajudem Gaza, porque a população está a sofrer”, diz a religiosa. Dada a deterioração da situação humanitária na região, a Fundação AIS vai enviar, até Abril, um segundo pacote de ajuda de emergência no valor de 500 mil euros.
Ao telefone, desde a Paróquia latina da Sagrada Família, apesar da extrema dificuldade nas comunicações, a Irmã Nabila Saleh falou com o Vatican News e deixou mais um veemente alerta para a situação humanitária que se está a viver na região e que se tem vindo a agravar de dia para dia.
Ao mundo peço a paz, o respeito pelos direitos humanos. Peço a todos que ajudem Gaza, porque a população está a sofrer.”
Irmã Nabila Saleh
É um apelo urgente pois não há mesmo tempo a perder.
As palavras da irmã publicadas neste sábado, dia 3 de Fevereiro, não permitem qualquer dúvida. “As casas já não existem mais, a comida quase acabou e aquele pouco que se encontra custa cinco vezes mais que o normal”, esclarece. Na Paróquia latina da Sagrada Família permanecem ainda sete pessoas feridas no tiroteio que ocorreu em Dezembro e que, como a Fundação AIS então noticiou, provocou a morte a duas mulheres, mãe e filha. Estes sete feridos continuam no local e alguns deles “ainda têm muitos estilhaços no corpo”, explica a religiosa.
“E os medicamentos não são suficientes para todos”, acrescenta Nabila Saleh, que pertence à Congregação do Rosário de Jerusalém e que continua “entrincheirada” – na expressão usada pelo Vatican News – nesta paróquia com a maioria dos cristãos que ainda vivem da Faixa de Gaza.
A situação humanitária tende a agravar-se com o passar das horas, dos dias, das semanas. A região está praticamente isolada do resto do mundo. “Nada entra e nada sai, nem mesmo um alfinete”, escreve o Vatican News. Depois de alguns dias de acalmia nos combates, nas operações militares, os tanques de Israel voltaram às ruas. “A guerra voltou tão violenta como antes. Os tanques ficam no bairro, também ficam perto da nossa escola. Ouvimos tiros, mas graças a Deus nada aconteceu na nossa paróquia”, relata a religiosa.
À pergunta se a esperança ainda está viva, responde: “Certamente. Esperamos no Senhor. Se não tivéssemos fé aqui já estaríamos todos mortos”.
REFORÇO DA AJUDA DA FUNDAÇÃO AIS
Desde o primeiro dia, quando ocorreu o ataque terrorista do Hamas em Israel, a 7 de Outubro do ano passado, que desencadeou esta nova guerra na região, a Fundação AIS tem estado em permanente contacto com a comunidade cristã, com a Igreja local, procurando assegurar o máximo de ajuda possível face às condições extremamente precárias que se fazem sentir.
Sinal desse compromisso, foi decidido o envio, que se vai materializar até Abril, de um segundo pacote de ajuda de emergência para os Cristãos da Terra Santa, num valor adicional de 500 mil euros. Metade desta verba destina-se a apoiar os cristãos que vivem na Cisjordânia. Esses 250 mil euros são, essencialmente, para suportar o custo de medicamentos, cuidados médicos e hospitalares, alimentos, apoio escolar e ajuda no pagamento de rendas.
O restante valor, também de 250 mil euros, tem como objectivo o apoio aos Cristãos da Faixa de Gaza, onde está a Irmã Nabila, e que permanecem refugiados no Mosteiro Católico da Sagrada Família e na Igreja Ortodoxa Grega de São Porfírio. Neste caso, o valor da ajuda da Fundação AIS é, essencialmente, para refeições, combustível, colchões, e materiais médicos e medicamentos.
A MÃO AMIGA DA IGREJA
Esta ajuda revela-se vital junto de uma população que ficou praticamente sem nada e num território onde, como relata a Irmã Nabila ao Vatican News, os bens essenciais escasseiam de forma dramática ou têm um preço incomportável. Os Cristãos, que perderam completamente as suas casas devido aos intensos bombardeamentos, precisam de ajuda directa em dinheiro para repor as suas necessidades básicas. As famílias dormem nos corredores e quartos da igreja e nos edifícios adjacentes.
Desde o início da guerra, a 7 de Outubro, a Igreja tem sido a única responsável por fornecer alimentos, água, cuidados médicos, entre muitos outros serviços humanitários e pastorais. A Fundação AIS tem procurado estar em contacto permanente com a irmã Nabila ao longo destes meses de conflito armado na região.
No final de Outubro, a religiosa falou ao telefone com a AIS Internacional e relatou como já então – e a guerra tinha começado apenas há algumas semanas – a situação humanitária era dolorosa e todos ansiavam pela paz, todos desejavam o fim dos combates, o fim da violência.
Só queremos paz, paz. Já tivemos seis guerras em Gaza. As crianças só conhecem a guerra. Há tanto mal, tanto sofrimento. É terrível. Neste momento, só temos Deus.”
Irmã Nabila Saleh
Entretanto, passaram já mais de três meses. E a guerra não abrandou. Tal como o sofrimento das populações…
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt