SUDÃO: Comunidade de Sant’ Egídio alerta para a situação humanitária muito grave que se vive neste país de África

A guerra no Sudão, que começou em Abril do ano passado, tem arrastado este país para uma situação gravíssima do ponto de vista humanitário. Ontem, numa conferência de imprensa realizada em Roma, em que participaram diversas organizações, a Comunidade de Sant’Egídio deixa mesmo o alerta de que há já situações de “fome generalizada”. Esta situação preocupa também a Fundação AIS que lançou, em Portugal, uma campanha para ajuda de emergência destinada a apoiar os que fogem deste conflito e que estão agora como refugiados nos países da região, nomeadamente o Sudão do Sul…

A comunidade católica de Sant’Egídio foi um dos promotores, ontem, dia 11, de uma conferência de Imprensa em Roma para denunciar a catástrofe humanitária que se está a viver no Sudão, e que está a alastrar para os países circundantes desta região de África. Marco Impagliazzo, presidente da organização, alertou para a grave situação “política e humanitária”, neste país, sublinhando que há já situações de “fome generalizada”.

“Desde 15 de Abril de 2023, o Sudão mergulhou na crise mais grave da sua história, uma guerra civil em todo o seu território”, apelando a um “cessar-fogo humanitário imediato”, disse, citado pela Agência Ecclesia. Este responsável apelou ainda à comunidade internacional para que intervenha junto dos beligerantes, visando a distribuição de ajuda humanitária “sem restrições, em todo o território nacional”. “Estamos aqui também para incentivar a recolha de fundos para ajuda humanitário, destinada à população que sofre, particularmente para quem hoje passa fome, um dos maiores problemas desta crise humana”, disse ainda.

O Padre Angelo Giorgetti, ecónomo-geral dos Missionários Combonianos; Vittorio Oppizzi, chefe dos programas no Sudão dos Médicos Sem Fronteiras; a Irmã Ruth del Pilar Mora, conselheira para as missões do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (Salesianas); e Pietro Parrino, director do Departamento de Projetos de Emergency, foram também intervenientes nesta conferência de imprensa.

Parrino, por exemplo, descreveu o ambiente de caos que se vive em Cartum, a capital sudanesa:

Não há medicamentos, não há alimentos frescos, apenas alimentos secos e isso significa que muitas pessoas estão desnutridas. Há dias, dezenas de pessoas morreram porque pensaram que estavam a beber sumo de laranja em pó, mas na verdade era veneno...”

POPULAÇÕES TRAUMATIZADAS

A situação é de facto, extremamente grave. Estima-se que já poderão ter morrido cerca de 15 mil pessoas e cerca 10,7 milhões estejam na condição de deslocados e refugiados, o que significa uma das maiores crises humanitárias no planeta. No entanto, apesar da dimensão brutal destes números, esta é, de certa forma, uma das guerras esquecidas no mundo.

O conflito armado no Sudão, que começou em 15 de Abril do ano passado é, na verdade, uma guerra entre dois generais, Abdel Fattah al-Burhan, que lidera as Forças Armadas Sudanesas, e Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como ‘Hemedti’, que comanda o grupo paramilitar RSF, Forças de Apoio Rápido. A Igreja tem estado a acompanhar com particular preocupação a crise humanitária no Sudão e nos países com que faz fronteira.

Ainda no final do mês passado, a Conferência Episcopal dos Bispos Católicos do Sudão (SCBC), que reúne os bispos do Sudão e do Sudão do Sul, deixaram um forte alerta para esta situação. No final de um encontro realizado na cidade de Juba, na primeira semana de Julho, os prelados emitiram um comunicado onde se pode ler que “o tecido da sociedade sudanesa foi dilacerado, com pessoas chocadas, traumatizadas e incrédulas com o nível de violência e ódio”, e que tudo isto não pode ser reduzido à simples expressão de uma guerra. E falam em egoísmo.

“Não se trata simplesmente de uma guerra entre dois generais, pois o exército está inextricavelmente enraizado na vida económica do país, e tanto a SAF (o exército) quanto a RSF (os paramilitares) têm uma rede de ricos indivíduos e cartéis da elite sudanesa e internacional que se beneficiam do controle de vários sectores da economia”, afirmam, citados pelo Vatican News.

Na verdade, “os dois partidos em guerra controlam, cada um, sectores importantes da economia sudanesa e estão ligados a patrocinadores externos que continuam a fornecer armas cada vez mais sofisticadas, como drones”, acrescenta o portal de notícias da Santa Sé.

CAMPANHA DA FUNDAÇÃO AIS

Face a esta situação terrível do ponto de vista humanitário, a Fundação AIS lançou, entretanto, uma campanha de sensibilização dirigida aos seus benfeitores e amigos em Portugal alertando-os para a necessidade de ajuda de emergência para todas as vítimas da guerra.

Muitos dos que fogem do conflito armado procuram abrigo nos países da região. Um desses países é o Sudão do Sul e é precisamente aí que se concentra a campanha que a fundação pontifícia está a desenvolver. A Igreja tem procurado acolher, na medida das suas possibilidades, milhares de novos refugiados em campos onde as urgências são também enormes. Um desses campos fica em Malakal.

O secretariado português da Fundação AIS procura, com esta campanha, auxiliar na sobrevivência imediata de cerca de 500 destas famílias, o que significa, na prática, cerca de 3 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças. Para alertar os portugueses para esta realidade, a Fundação AIS enviou recentemente um boletim para milhares de benfeitores em Portugal onde a directora do secretariado nacional da instituição fala numa situação desafiadora. “A guerra no vizinho Sudão está a provocar uma crise humanitária sem precedentes, obrigando milhares de pessoas a fugir. Estas famílias, despojadas de tudo, procuram agora refúgio e esperança no Sudão do Sul, país onde falta quase tudo. E é aqui que a Igreja e a Fundação AIS entram em acção”, escreve Catarina Bettencourt.

No referido boletim, dá-se voz também a diversos responsáveis da Igreja, nomeadamente o Arcebispo de Juba, D. Stephan Ameyu, que fala em  “necessidades gigantescas”. “Por favor, venham em ajuda destas pessoas deslocadas que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade”, diz o Arcebispo, acrescentando que todos os refugiados que cruzaram a fronteira, fugiram da guerra e estão agora mesmo sem nada. “Deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida”, diz o Arcebispo.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *


The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.

Relatório da Liberdade Religiosa

Em Setembro de 2020, o Sudão, após 30 anos de regime islâmico, tornou-se um Estado constitucionalmente laico. O Pe. Peter Suleiman afirmou que o povo Sudanês pode agora “adorar e praticar as suas várias crenças religiosas sem medo”. Um ano mais tarde, o regime autoritário, e o medo, estavam de volta. Em 2022, as manifestações contra o regime militar intensificaram-se na grande Cartum, organizadas pelos comités de resistência.

SUDÃO

918 125 574

Multibanco

IBAN PT50 0269 0109 0020 0029 1608 8

Papa Francisco

“Convido-vos a todos, juntamente com a Fundação AIS, a fazer, por todo o mundo, uma obra de misericórdia.” 
PAPA FRANCISCO

© 2024 Fundação AIS | Todos os direitos reservados.