“Este é o pior momento desde que começou a guerra. Muitas pessoas estão a passar fome. Há muitas crianças que não conseguem ter uma refeição por dia. Nós ajudamos, mas não é suficiente…”
As palavras são da Irmã Annie Demerjian, da congregação de Jesus e Maria, durante uma conferência ‘online’ com a Fundação AIS.
A religiosa, que já esteve em Portugal a convite do secretariado local da Ajuda à Igreja que Sofre, fez um retrato amargo da Síria, país que atravessa uma profunda crise em resultado da guerra civil que começou há 12 anos e que deixou marcas de devastação em todo o território.
“A situação está a ficar pior e pior de dia para dia. Há pessoas que gostariam de voltar aos tempos da guerra, pois ao menos tinham alguma coisa para comer… As crianças ficam doentes por causa da falta de comida e [há famílias que] não têm nada nos frigoríficos.”
A Irmã Annie, que é responsável na Síria por diversos projectos promovidos com o apoio da Fundação AIS, descreve uma situação crítica que se agravou desde o início da guerra na Ucrânia. “Devido à crise económica, 85% da população na Síria vive abaixo do limiar da pobreza. O salário de uma família não é suficiente para uma semana, pois os preços estão sempre a aumentar… Há muitas pessoas realmente a passar fome…”. Annie Demerjian não tem dúvidas em afirmar que “a maioria da população depende da caridade”.
A crise na Síria é o resultado não só da destruição causada pela guerra como também pelas sanções impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos da América e pela União Europeia, e mais recentemente pela pandemia do coronavírus.
SUICÍDIOS E MENDICIDADE
A pressão causada pela crise económica está a afectar as famílias. A religiosa da Congregação de Jesus e Maria fala em desespero, alerta para situações de abuso sobre mulheres e crianças, e diz que os casos de divórcio e de suicídio estão a aumentar. “O divórcio e o suicídio estão a aumentar. Há apenas duas semanas, ouvimos falar de uma mulher que tentou atirar-se de uma ponte porque não tinha como alimentar os filhos. As pessoas convenceram-na a não o fazer, mas por quanto tempo? Precisamos de uma solução.”
A falta de recursos está a provocar uma onda enorme de mendicidade que afecta inclusivamente as próprias crianças. “Costumávamos encontrar dez crianças a mendigar, agora vemos centenas. Não víamos isto antes da guerra. Há muitas organizações que ajudam as mulheres, mas as necessidades são grandes. Eu ajudo 100 ou 200 mulheres, mas e o resto?”, questiona a Irmã Annie.
SINAIS DE ESPERANÇA
“Tenho muito orgulho em dizer que os padres, as irmãs são um sinal de esperança nestes tempos de escuridão. Mas ficar na Síria sem ajuda é difícil.” Apesar da crise e do desespero da maioria da população, há sinais de esperança. A solidariedade de instituições como a Fundação AIS é muito relevante. Mas mais importante ainda do que a ajuda material é a certeza da comunhão espiritual.
“O apoio espiritual é mais importante do que o material. Continuem a rezar por nós para que não percamos a esperança, e o nosso povo não perca a esperança. Queremos que os cristãos permaneçam nesta terra santa. Rezo por cada um de vós, muitas vezes oferecemos missa por vossa intenção e as intenções dos benfeitores”, disse ainda Annie Demerjian.
No encontro promovido ‘online’ pela Fundação AIS participou também a Irmã Helen Mary, uma religiosa inglesa que pertence também à mesma congregação e que está a viver no Líbano.
Actualmente, a Fundação AIS apoia dezenas de projectos na Síria e no Líbano, em diversas esferas, incluindo a prestação directa de ajuda financeira e material às famílias, ajuda às escolas católicas e, por exemplo, construção e reconstrução de infraestruturas. No ano passado, a fundação pontifícia apoiou, em mais de cinco milhões de euros, 79 projectos somente no Líbano. Na Síria, foram realizados 118 projectos.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt