PAQUISTÃO: “Nunca tomem como garantida a liberdade para expressar a vossa fé”, alerta sacerdote

Num país como o Paquistão, onde os cristãos são uma pequena minoria, a vivência quotidiana da fé e a celebração de um tempo festivo como o Natal têm um significado especial. O Padre Lazar Aslam, um sacerdote franciscano capuchinho, tem servido a comunidade cristã em Lahore e diz, em entrevista à Fundação AIS, que “a fé é muitas vezes mais forte na adversidade”. E lembrando exemplos de mártires como Akash Bashir ou Shahbaz Bhatti, alerta que nunca se deve tomar como garantida a liberdade religiosa.

Apesar de serem uma minoria numa sociedade predominantemente muçulmana, os cristãos de Lahore, tal como em todo o Paquistão, continuam a viver o Natal como uma celebração de fé, diz, em entrevista à Fundação AIS Internacional, o padre Lazar Aslam, que desenvolve desde há anos uma grande actividade em defesa dos direitos humanos e em especial dos cristãos perseguidos. E diz que a comunidade cristã se tem inspirado no exemplo de dois mártires, Akash Bashir e Shahbaz Bhatti.

“Apesar dos desafios, mantemo-nos firmes na nossa crença, tal como o fizeram os primeiros cristãos. Recordamos e honramos mártires como Akash Bashir, que deu a sua vida para salvar outros, e Shahbaz Bhatti, um corajoso defensor da liberdade religiosa, que foi assassinado pelo seu empenho na justiça e na protecção das minorias”, disse o sacerdote capuchinho. “O legado de Shahbaz Bhatti continua a inspirar-nos, pois ele foi um defensor dos oprimidos e uma voz incansável para aqueles que foram perseguidos pela sua fé. A sua vida recorda-nos que defender a verdade e o amor pode ter um grande custo pessoal, mas é através desses sacrifícios que encarnamos verdadeiramente o espírito de Cristo”, acrescentou.

O EXEMPLO DOS DOIS MÁRTIRES

As histórias destes dois mártires são particularmente conhecidas e veneradas no Paquistão. Akash Bashir era ainda um jovem quando, na manhã de um domingo, 15 de Março de 2015, impediu, sacrificando a própria vida, que um homem-bomba se fizesse explodir no meio da Igreja de São João em Youhanabad, um bairro cristão de Lahore, que naquele momento acolhia mais de mil fiéis para a celebração da Missa. Por sua vez, Shahbaz Bhatti o antigo ministro federal das minorias foi assassinado a tiro a 2 de Março de 2011, em Islamabad, depois de uma vida em defesa dos direitos dos cristãos e dos mais pobres, marginalizados e vulneráveis da sociedade paquistanesa.

Neste país, a violência contra os cristãos é acentuada. Ainda no final do ano passado, no Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, publicado pela Fundação AIS, se referia ao “recrudescimento dos ataques em larga escala” e que os dados disponíveis apontam para um aumento também de casos de “raparigas cristãs, algumas de apenas 10 anos, que são vítimas de rapto, violência sexual, casamento e conversão forçada”, situação que também se verifica com mulheres jovens.

Neste contexto, as palavras do padre Aslam ganham um particular significado. E ele dá o aviso para que nunca se tome por garantida a liberdade religiosa. “Aos nossos irmãos e irmãs de todo o mundo, pedimos que se lembrem de que a fé é muitas vezes mais forte na adversidade”, diz o capuchinho. “Nunca tomem como garantida a liberdade de expressar a vossa fé, e deixem que a nossa perseverança vos recorde o poder do amor de Deus para nos sustentar em todas as circunstâncias”, acrescenta.

NATAL COM FÉ E DEVOÇÃO

O Padre Lazar Aslam pede, através da Fundação AIS, orações e solidariedade aos cristãos em todo o mundo, e lembra que apesar de todas as circunstâncias adversas, o Natal continuou a ser celebrado “com fé e devoção”. “Como minoria, celebramos o Natal com fé e devoção, assegurando que a verdadeira essência da época não se perde. Embora as restrições externas possam limitar as expressões públicas de fé, reunimo-nos nas nossas casas e igrejas, reflectindo sobre a mensagem da Natividade.”

O sacerdote capuchinho afirma ainda que na celebração do Natal é sempre dada prioridade à Eucaristia. “Através da oração, dos cânticos e de pequenos actos de bondade no seio da nossa comunidade, mantemos vivo o espírito do Natal, sublinhando a esperança e a alegria que Jesus traz, apesar dos nossos desafios”, conclui.

Maria Lozano e Paulo Aido

Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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Relatório da Liberdade Religiosa

A vida continua a ser difícil para as minorias no Paquistão. Dada a grave crise económica e a instabilidade política do país, não se prevêem melhorias no futuro imediato. Além disso, a subida ao poder dos talibãs no vizinho Afeganistão poderá contribuir para o crescimento do fundamentalismo islâmico.

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