MOÇAMBIQUE: “Há o rapto sistemático de pessoas, mulheres e crianças”, denuncia religiosa em Cabo Delgado

MOÇAMBIQUE: “Há o rapto sistemático de pessoas, mulheres e crianças”, denuncia religiosa em Cabo Delgado

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MOÇAMBIQUE: “Há o rapto sistemático de pessoas, mulheres e crianças”, denuncia religiosa em Cabo Delgado

Quarta-feira · 9 Fevereiro, 2022

A vila de Macomia, sede de distrito, “está sob uma tensão muito forte”. A denúncia é de uma religiosa em missão em Cabo Delgado que, por questões de segurança, pede para não ser identificada.

Numa mensagem enviada na passada segunda-feira, dia 7 de Fevereiro, para a Fundação AIS, diz que “muitas aldeias dos arredores [de Macomia] foram atacadas”, e que se está a assistir a uma nova onda de violência. “Há o rapto sistemático de pessoas que se encontram nas aldeias e nas machambas, principalmente mulheres e mães com suas próprias crianças.”

Todas as informações recolhidas pela Fundação AIS vão no mesmo sentido. Grupos armados atacam aldeias, queimam casas, raptam e matam pessoas. O sentimento de insegurança é muito grande.

Eduardo Paixão é missionário do Sagrado Coração, está na paróquia de Santo António, em Metuge, e é o actual responsável pela área missionária de Meluco, na Diocese de Pemba.

MOÇAMBIQUE: “Há o rapto sistemático de pessoas, mulheres e crianças”, denuncia religiosa em Cabo Delgado
A vila de Macomia, sede de distrito, “está sob uma tensão muito forte”.

Ao telefone com a Fundação AIS, o sacerdote brasileiro explica que se está a assistir a um recrudescimento de violência depois de um período de relativa acalmia durante o final do ano. “A sede de Meluco e as demais aldeias não foram atacadas em Novembro e Dezembro. Eu estive em Meluco, celebrámos o Natal com a comunidade e parecia-nos que tudo estava muito tranquilo, que tudo estava a transcorrer muito bem.”

No entanto, era pura ilusão. “Em 30 e 31 de Dezembro, começaram os ataques à aldeia de Nangololo, de Imbada, e depois [a violência] foi-se alastrando durante a primeira semana do ano de 2022 pelas aldeias de Mariri, que é vizinha a Muària, e que tinha uma grande escola, a maior escola do distrito de Meluco…”

Segundo o Padre Eduardo Paixão, “a aldeia de Mariri foi atacada, queimaram casas, e na semana seguinte houve mais ataques nas aldeias em direcção ao distrito de Meluco. Foram cinco aldeias ao todo naquele distrito, que eu tenho conhecimento…”

O clima de insegurança permite ao missionário brasileiro dizer que “o pessoal está com muito medo, muito inseguro”, e que o número de famílias em fuga tem estado a aumentar. O Padre Eduardo Paixão afirma que recebeu a informação de que, “esta semana, em Chiure, num dos acampamentos de deslocados, chegaram mais de 290 famílias”, ou seja, cerca de mil pessoas.

A religiosa, que se encontra também nesta região e que pede para não ser identificada, descreve um cenário muito semelhante. “O problema está agora mais grave, porque pelo menos, no princípio deste absurdo conflito, as pessoas podiam sair e refugiar-se nas suas machambas ou em lugares escolhidos como sendo seguros. Agora, os insurgentes perseguem o povo até às machambas, são despojados dos bens alimentares para a subsistência e alguns são mortos de uma maneira cruel.”

Há registo de ataques nos últimos tempos nos arredores da vila sede do distrito de Macomia. É o caso das aldeias Nova Zambézia, Nova Vida, Nkoe, Nanjaba, Imbada, Bangala 2, e Iba, situada nos limites entre os distritos de Macomia e Meluco.

Nem sempre os insurgentes têm atacado para matar ou raptar. Por vezes, a intenção é apenas levar comida e provocar o medo entre as populações. Diz a religiosa, na mensagem enviada para a Fundação AIS, que, “algumas vezes, só entram e ameaçam a população para abandonar o local. E claro, queimam alguma casa como advertência. É uma situação bem triste…”

Além do pesadelo da violência, do medo de ataques terroristas, as populações desta região de Cabo Delgado têm sofrido também com cortes sistemáticos de energia e de comunicações. “Passámos desde o final de Dezembro praticamente o mês de Janeiro todo sem comunicação e também sem energia. Essas coisas foram retomadas, mas nada disto garante a segurança das pessoas para voltarem [às suas aldeias] ou a tranquilidade”, afirma o missionário do Sagrado Coração.

Desde que os ataques armados tiveram início, em Outubro de 2017, já morreram mais de três mil pessoas. Como consequência directa da violência, há cerca de 800 mil deslocados internos. Toda esta situação tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano, especialmente no que diz respeito ao apoio aos refugiados.

A ajuda da Fundação AIS tem-se materializado nomeadamente em projectos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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