MOÇAMBIQUE: “De forma surpreendente” autoridades mandam encerrar a Rádio Encontro, da Arquidiocese de Nampula

Na passada terça-feira, dia 11, as autoridades moçambicanas mandaram encerrar a Rádio Encontro, da Igreja católica da Arquidiocese de Nampula – que desenvolve um trabalho de parceria com a Fundação AIS –, alegando interferências no serviço móvel aeronáutico. O padre Serafim Muacua, director-adjunto da rádio, mostra-se surpreendido e reafirma o “compromisso com a verdade”. Duas outras rádios, uma cristã evangélica e a outra de orientação islâmica foram também encerradas.

Por decisão do Instituto das Comunicações de Moçambique, a rádio Encontro, emissora da Igreja Católica da Arquidiocese de Nampula, teve de encerrar as suas emissões na passada terça-feira, dia 11, por alegadamente estar a criar interferências nos serviços móveis aeronáuticos. Os responsáveis da rádio foram convocados para uma reunião dia 13 de Fevereiro, nas instalações do referido instituto, para a avaliação da situação.

Em declarações à Fundação AIS, o Padre Serafim João Muacua, director-adjunto da Rádio e TV Encontro – que tem uma parceria com a Fundação AIS, emitindo desde há vários anos o programa “Igreja no Mundo, produzido em Lisboa – considera a ordem de encerramento “muito surpreendente”, até porque aconteceu “sem pré-aviso”.

A emissora tem procurado, como explica o Padre Muacua, ser aquilo que se espera de uma rádio da Igreja. “A nossa política editorial é da Igreja, mas também não deixa aquilo que são as realidades sociais. É uma rádio com compromisso à verdade. É uma rádio profética, que traz a verdade, para que também todos os outros tenham conhecimento do que está a acontecer na nossa sociedade, sobretudo onde o nosso âmbito de cobertura chega.”

O responsável não adianta mais pormenores sobre o que poderá ter estado na origem desta suspensão, para já temporária, das emissões da rádio católica que está no ar desde 1995, ou seja, há precisamente 30 anos. Duas outras rádios, uma cristã evangélica e a outra de orientação islâmica foram também encerradas por ordem da Autoridade Reguladora das Comunicações de Moçambique.

Hoje, dia 13 de Fevereiro, celebra-se o Dia Mundial da Rádio. A exemplo da parceria que existe com a Rádio Encontro, da Arquidiocese de Nampula, são inúmeros os exemplos, espalhados pelo mundo, de apoio a este meio de comunicação social tão importante. Sinal disso, no ano passado, a fundação pontifícia destinou mais de 550 mil euros para 22 projectos de rádio em 19 países.

ATAQUES A EDIFÍCIOS DA IGREJA

O encerramento da rádio da Arquidiocese de Nampula ocorre num momento sensível da vida política deste país africano de língua oficial portuguesa, depois de Daniel Chapo ter assumido a presidência da República no dia 15 de Janeiro.

O processo eleitoral foi fortemente contestado, especialmente por Venâncio Mondlane, que ficou classificado em segundo lugar, e deu origem a inúmeras manifestações um pouco por todo o país e que ficaram marcadas, muitas delas, por momentos de grande violência, havendo mais de 300 mortos, centenas de feridos e milhares de detidos. A província de Nampula foi palco de algumas dessas manifestações de protesto e houve mesmo, tal como a Fundação AIS noticiou então, no decorrer de uma dessas marchas populares, a vandalização de edifícios da Arquidiocese, assim como um ataque à missão de religiosas brasileiras em Micane.

Os incidentes decorreram entre os dias 24 e 25 de Dezembro, ou seja, em plenas festividades de Natal, com os manifestantes a invadirem, vandalizarem a destruírem tudo o que se encontrava numa casa de hóspedes, numa residência paroquial e numa antiga farmácia. Todos estes edifícios estão situados nas imediações do Paço Episcopal. Na ocasião, D. Inácio Saure, Arcebispo de Nampula e presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, enviou uma mensagem ao governador da Província pedindo a intervenção das autoridades.

Nessa mensagem, a que a Fundação AIS teve acesso, o bispo pede às autoridades para acautelarem o património da Igreja. “O nosso guarda (idoso) arriscou a vida quando foi tentar impedir de continuarem com o crime. O que se poderia fazer para se tentar poupar os bens da Igreja neste local?”, perguntava o prelado ao governador.

Na curta mensagem, D. Inácio refere especificamente também o que aconteceu na missão de Micane, dizendo que “os atacantes roubaram um computador e outros bens”, e que as irmãs, apesar de não terem sido violentadas, “todas elas, idosas, estão muito traumatizadas”.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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