IRAQUE: Sete anos depois da invasão do ISIS, os jovens iraquianos estão empenhados em seguir em frente na sua terra natal

IRAQUE: Sete anos depois da invasão do ISIS, os jovens iraquianos estão empenhados em seguir em frente na sua terra natal

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IRAQUE: Sete anos depois da invasão do ISIS, os jovens iraquianos estão empenhados em seguir em frente na sua terra natal

Segunda-feira · 9 Agosto, 2021
Os Cristãos do Iraque nunca vão conseguir apagar da sua memória o dia 6 de Agosto de 2014. Numa noite fatídica, o Estado Islâmico varreu a Planície de Nínive e milhares de famílias tiveram que fugir com o que tinham vestido, para Erbil, a capital do Curdistão, deixando tudo para trás para salvar as suas vidas. Foi uma data que mudou a vida de muitos jovens cristãos iraquianos, como a Rita e o Rami.

Naquela região iraquiana, situada a nordeste de Mossul, tudo tem um “antes do ISIS” e um “depois do ISIS”. É o caso de Karamlesh, cidade cristã de grande importância para os Católicos caldeus por ter sido no passado a residência de três patriarcas caldeus. “Antes do ISIS” tinha cerca de quatro mil habitantes e quase todos fugiram antes da chegada dos jihadistas. Um dos últimos a sair foi o pároco, tendo ficado apenas algumas pessoas idosas.

O ISIS impôs o seu reinado de terror. Karamlesh foi uma importante base de acção na luta contra os combatentes curdos, os peshmerga e as forças iraquianas. Os jihadistas cavaram túneis para circular pela cidade, também debaixo da Igreja de São José e do Santuário de Santa Bárbara. A Igreja de Santo Adday foi queimada, a sacristia destruída e o cemitério vandalizado. As casas da cidade abrigaram os combatentes do Estado Islâmico e estavam conectadas umas às outras por túneis e buracos nas paredes. O jardim de infância foi usado como fábrica de armas.
IRAQUE: Sete anos depois da invasão do ISIS, os jovens iraquianos estão empenhados em seguir em frente na sua terra natal
Os Cristãos do Iraque nunca vão conseguir apagar da sua memória o dia 6 de Agosto de 2014.

Entre os milhares de cristãos que fugiram de Karamlesh para Erbil estavam Rami e Rita, dois jovens que mal se conheciam naquela época. Rami tinha 22 anos e foi recebido num dos muitos campos que a Igreja preparou para as famílias deslocadas. Rita, que tinha apenas 16 anos, e a sua família encontraram abrigo numa casa alugada. Um dia, Rita visitou um campo de refugiados onde conheceu o Rami. Apesar das condições difíceis, tornaram-se amigos.

Em 24 de Outubro de 2016, Karamlesh foi libertado pelo exército iraquiano. As mensagens de ódio dos militantes do ISIS estavam grafitadas nas inúmeras portas e paredes. Tudo foi saqueado ou destruído, primeiro pelo ISIS e depois pelos ataques aéreos para a libertação da vila.

Rami foi o primeiro a regressar a Karamlesh com a sua família. Karamlesh foi uma das povoações que mais rapidamente regressou à normalidade. As cruzes foram colocadas nas principais igrejas e as estradas e escolas foram reconstruídas. Passado pouco tempo, também a Rita regressou. Aos poucos, a vida voltou à aldeia. Abriram-se lojas, incluindo duas barbearias e uma padaria.

“As pessoas daqui são muito afáveis e pacíficas. Nunca suspeitávamos que algo tão mau pudesse acontecer. O ISIS transformou as nossas casas em instalações militares. A Igreja de Santa Bárbara passou a ser a sua sede ”- explica o Rami.

No total, quase metade das famílias já regressou, embora em muitas delas alguns dos seus membros tenham permanecido na capital ou emigrado do país. Efectivamente, apenas um terço dos habitantes regressou para Karamlesh e em muitos lares ainda existem lugares vazios à volta da mesa.

Mas Rami e Rita decidiram dar um passo em frente. Com coragem, conquistaram o que parecia impossível há sete anos, quando foi preciso deixar tudo e fugir, vivendo primeiro como deslocados e depois obrigados a recomeçar do zero: ficar e começar uma nova família. “A nossa vida não é isenta de riscos, mas a vida não pára, haja riscos ou não. Temos que seguir em frente”, disse Rami à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Foi o primeiro casal a celebrar o seu casamento no Centro Caldeu de São José. Antes da chegada dos jihadistas o centro era usado para várias actividades: casamentos, velórios, conferências, filmes, debates, exposições, actividades juvenis e muito mais. Além disso, as famílias das aldeias vizinhas e até as comunidades minoritárias étnico-religiosas Shabak que vivem em Karamlesh usaram-no para as suas celebrações.

O ISIS deixou o edifício muito danificado: os telhados, o sistema de ventilação, as instalações sanitárias, a electricidade, a canalização, a cozinha e o sistema telefónico… tudo ficou danificado. Nos andares superiores, as paredes foram esburacadas para permitirem aos jihadistas disparar em toda a extensão da planície.

Com o apoio dos benfeitores da Fundação AIS, tudo isso se tornou um “antes”. Rami e Rita puderam inaugurar o Centro de São José e celebrar o seu casamento na sua terra natal, aquela que perderam e reconquistaram. Jovens e velhos brindaram ao jovem casal entre danças tradicionais iraquianas. Sete anos depois do medo e da morte que dominaram Karamlesh, uma nova vida e esperança estão a criar raízes.

“Na parede da igreja os jihadistas escreveram: ‘Não haverá mais Cristianismo no Iraque.’ Mas não conseguiram. Graças a Deus, nós, Católicos iraquianos, estamos de volta”, diz Rami.

Maria Lozano | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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