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CAMARÕES: Superar o medo face à brutal onda de violência no país é aposta das Irmãs de Sant’Ana na cidade de Bamenda
Desde o dia 1 de Outubro de 2017, faz agora quatro anos, quando grupos separatistas activos no noroeste e sudoeste dos Camarões proclamaram a independência da região, chamando o novo país de “Ambazónia”, teve início uma onda de violência que não dá sinais de abrandar e que já causou milhares de mortos e de deslocados.
Esta questão é muito complexa mas pode resumir-se à ambição das populações que vivem na região onde predomina a língua inglesa, precisamente no sudoeste e noroeste do país, em ganhar a independência face ao poder central que é controlado por pessoas que falam essencialmente o francês.
A ineficiência do poder face aos problemas que os cidadãos enfrentam no dia-a-dia veio agravar este sentimento de exclusão de uma parte do país que se sente menorizada pelas autoridades. O Cardeal Christian Tumi, falecido em Abril deste ano, disse, em várias intervenções, que “as razões da crise” nos Camarões “residem na má governação”.
Esta luta pela independência já custou um preço elevado não só em vidas humanas mas também em pobreza, deslocamento forçado de pessoas e medo nas comunidades. Calcula-se que mais de 3 mil pessoas perderam já a vida de forma violenta e cerca de 500 mil estão a viver fora das suas casas, das suas aldeias e vilas.
Estes deslocados internos são uma das faces visíveis desta guerra pela independência que tem vindo a ganhar nos últimos tempos uma enorme violência, com pessoas assassinadas, raptadas, nomeadamente padres e até bispos, num clima geral de intimidação, e a destruição de infraestruturas e povoações. Há registo de escolas, hospitais e aldeias incendiadas. É comum mesmo falar-se em guerra civil.
É neste contexto que as Irmãs de Sant’ Ana decidiram promover uma série de encontros e de seminários para ajudar as pessoas mais traumatizadas pela violência. Esta congregação, fundada em Itália no século XIX, tem como carisma principal a educação e apoio a crianças e jovens oriundos de sectores mais pobres e desfavorecidos da sociedade.
Para concretizarem este projecto, que tem o apoio da Fundação AIS, as irmãs vão utilizar a casa de formação que fica situada a apenas dois quilómetros de distância da cidade de Bamenda, um dos locais onde têm ocorrido mais episódios de violência. “Há um clima de medo”, diz a irmã Pamela Bongben, que administra esta casa de formação.
Para já, as irmãs procuram ajudar a ultrapassar os traumas da violência, por vezes brutal, que tem tomado conta do país a algumas dezenas de religiosas. Três postulantes, cinco noviças e 37 jovens irmãs com votos temporários. Todas ficaram traumatizadas com a violência a que assistiram em primeira mão e pelo permanente clima de medo.
A congregação propõe, por isso, oferecer-lhes agora um seminário de duas semanas no qual aprenderão a ultrapassar estas experiências. O objectivo é inspirar uma nova confiança e ajudar a superar o persistente clima de medo e de insegurança.
As Irmãs de Sant’Ana são uma congregação pobre que ajuda os mais pobres. Esta iniciativa está a revelar-se muito oportuna e importante mas faltam os meios materiais necessários para consolidar o projecto alargando-o a todos os que já experimentarem, de alguma forma, episódios de violência nos Camarões. Por isso, as irmãs pediram ajuda à Fundação AIS para o financiamento dos custos básicos destes seminários, nomeadamente para as deslocações e alojamento.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt