Num país onde ainda há uma memória viva dos tempos da ditadura comunista, que perseguiu a Igreja, prendeu e expulsou sacerdotes e religiosas, para a pequena mas vibrante comunidade católica ter uma rádio é algo de extraordinário. O Cardeal Leonardo Sandri, que viajou de Roma para a cidade de Sofia para a inauguração da Rádio Ave Maria, sintetizou este sentimento dizendo que “era um grande sonho que agora se tornou realidade”.
Na Bulgária, cerca de 83% da população é cristã, embora a maioria pertença à Igreja Ortodoxa. O número de católicos é muito reduzido, apenas cerca de 70 mil, o que representa aproximadamente um por cento da população. Os muçulmanos são em número maior, cerca de 14%, e a maioria tem raízes turcas. É neste contexto que se percebe a alegria para a comunidade católica ter um instrumento capaz de fazer ampliar a sua voz, levando a mensagem da Igreja aos quatro cantos do país.
Para muitos católicos, a inauguração da Rádio Ave Maria representa também um poderoso instrumento para a evangelização, especialmente os mais jovens. Aliás, foram os jovens os grandes responsáveis por haver uma rádio com estas características no país. D. Hristo Projkov, Bispo de Sofia e presidente da Conferência Episcopal Búlgara, diz isso mesmo.
“Os jovens pedem isto há anos e já começaram a produzir material para a transmissão em casa.” Agora, com a inauguração da nova rádio, a 18 de Outubro, a comunidade católica passa a chegar mais longe e a mais pessoas, prosseguindo e ampliando um trabalho que já vinha a ser realizado a nível local. “De facto, graças às paróquias e aos catequistas, há jovens bem-educados na fé. Mas, em geral, os jovens não tiveram essa educação. Durante a era comunista, os seus pais não receberam nada que pudessem transmitir”, diz ainda o Bispo de Sofia.
Entre 1946 e 1990, durante a época comunista, todos os padres passaram algum tempo na prisão, as propriedades foram confiscadas, os padres estrangeiros foram expulsos e os seminários foram encerrados.
D. Hristo Projkov é, ele próprio, exemplo do que foi a vida da Igreja nos longos anos de ditadura. “Fui ordenado sacerdote em 1971. Fui o primeiro e único padre em 19 anos; foram precisos mais cinco anos antes da ordenação seguinte”, lembra o prelado em declarações à Fundação AIS.
A inauguração agora da rádio significa um tempo novo, mas absolutamente inimaginável há algumas décadas. “Alguns dos nossos edifícios foram devolvidos, e com a ajuda da Fundação AIS conseguimos reparar e construir novos espaços”, explica o Bispo.
A rádio que agora foi inaugurada não se destina obviamente apenas à comunidade católica, mas sim para toda a população. “Há uma fome de formação espiritual e religiosa, mas também temos conteúdo cultural, com programas sobre música e história. Este é um projecto de todos e para todos”, explica ainda o Bispo Projkov.
Inaugurada no dia da festa de São João Paulo II, as instalações da Rádio Ave Maria estão localizadas no edifício que foi residência de Ângelo Roncalli, mais tarde o Papa João XXIII, pois, durante praticamente uma década, entre 1925 e 1934, foi o representante do Vaticano na capital da Bulgária.
Este é um lugar cheio de história que, seguramente, vai inspirar todos os que agora vão fazer da nova rádio um lugar privilegiado para a vida da Igreja neste país do Leste da Europa.
“A nova estação permitirá que a Igreja trabalhe fora das suas instalações, especialmente para aqueles que sofrem ou não têm oportunidade de ir à igreja”, afirmou o Cardeal Leonardo Sandri durante a inauguração da rádio.
O Prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais aproveitou ainda a ocasião para deixar uma palavra amiga e de agradecimento aos benfeitores da Fundação AIS em todo o mundo que, com a sua generosidade, actuam activamente na construção de um mundo mais solidário. “Uma palavra especial para os amigos da AIS, que trabalham para a fraternidade no mundo, através da caridade e do serviço a todas estas pessoas em sofrimento. Vocês são, na Igreja, grandes protagonistas da caridade, do amor e do serviço. Obrigado pela vossa generosidade e colaboração.”