UCRÂNIA: Guerra começou há mais de mil dias e Igreja continua na linha da frente a prestar primeiros socorros espirituais

Passaram já mais de mil dias desde que começou a invasão da Ucrânia pelas tropas russas. Ao longo deste tempo, a Igreja tem permanecido ao lado das populações em maior sofrimento. A Fundação AIS tem apoiado o esforço de sacerdotes e religiosas que desde a primeira hora têm transformado paróquias e conventos em lugares de acolhimento, dando abrigo e conforto às vítimas desta guerra em pleno coração da Europa…

A invasão da Ucrânia começou na madrugada de 24 de Fevereiro de 2022. Foi há mais de mil dias, data que se assinalou a 19 de Novembro. Desde então, já morreram milhares de pessoas, muitas cidades e vilas e aldeias foram atacadas e muitas acabaram mesmo por ser destruídas, levando à fuga de milhões de pessoas. Calcula-se que 80% da população foi já directamente afectada pela guerra. Mais de 6,3 milhões de ucranianos deixaram o país desde o início dos combates e mais de 5 milhões estão deslocados internamente. Além disso, cerca de 60% da rede eléctrica da Ucrânia foi destruída. Das pessoas que permaneceram no país, vivendo em casa ou deslocadas noutras localidades, 40% dependem da ajuda humanitária para sobreviver, segundo dados das Nações Unidas.

VIA SACRA DESDE 2022

A Fundação AIS tem procurado apoiar o esforço da Igreja nestes tempos tão duros e sinal disso foi a campanha realizada a nível internacional nesta Quaresma pela Fundação AIS, iniciativa que trouxe a Portugal o bispo responsável pelo Departamento da Pastoral da Migração da Igreja Ucraniana Greco-Católica. D. Stepan Sus falou num tempo de grandes feridas e na experiência de um povo que vive uma verdadeira via-sacra e agradeceu toda a solidariedade dos portugueses e de todos os benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre.

“Para nós, é muito importante ver, durante esta Via Sacra, pessoas que estão dispostas a estar ao nosso lado, pessoas que estão dispostas a apoiar-nos na reconstrução dos nossos mosteiros e igrejas, a curar as feridas da guerra, que foram causadas pela guerra, e também a ajudar as pessoas necessitadas, mulheres e crianças”, disse o prelado.

Obrigado pela vossa generosidade. Obrigado por tudo o que estão a fazer pela Ucrânia para acabar com esta guerra, pelas vossas orações, pelo vosso apoio material, pela vossa abertura e por estarem prontos a apoiar a Ucrânia e o povo ucraniano em necessidade

MENSAGEM DE FÁTIMA

Em entrevista à Fundação AIS, D. Stepan Sus falou também da mensagem de Fátima, da actualidade das palavras de Nossa Senhora aos pastorinhos em 1917, e da urgência, agora acrescida, de se rezar pela paz. “Compreendemos que a Virgem Maria em Fátima sabia mais do que nós sabemos agora. Nas primeiras semanas desta guerra, confiámos e colocámo-nos sob a proteção da Virgem Maria de Fátima, toda a nação ucraniana. Fizemos uma oração comum em todas as igrejas da Ucrânia, pedindo à Virgem Maria que estivesse connosco e nos ajudasse a encontrar a solução, de modo a que a paz pudesse regressar à Ucrânia. Ao mesmo tempo, estamos a rezar pelos nossos inimigos”, disso o Bispo.

“Compreendemos que não podemos alterar as fronteiras entre a Ucrânia e a Rússia. Compreendemos que os russos serão nossos vizinhos durante os próximos séculos. Mas queremos perceber porque é que eles começaram esta guerra e qual é a razão para esta guerra estúpida de hoje. Quando percebemos que as armas que estamos a usar para nos defendermos não são suficientes, acreditamos verdadeiramente na oração, na devoção à Virgem Maria e na oração com a Virgem Maria, porque Nossa Senhora de Fátima ainda está a segurar o Rosário nas suas mãos, ainda está a rezar por todas as nações, tanto pela Ucrânia como pela Rússia, apenas para pedir ao seu Filho que pare esta guerra e que ajude a curar as feridas das pessoas que sofrem com a guerra e que afaste o mal das nossas vidas. Esperamos e acreditamos que a Virgem Maria de Fátima nos ajudará a derrotar e a vencer esta guerra contra o mal”, concluiu o prelado.

PARÓQUIAS COMO LUGARES DE ABRIGO

Tal como D. Stepan Sus que em Março veio a Portugal para agradecer a solidariedade da Fundação AIS para com a Ucrânia em guerra, vários outros bispos têm referido a importância da ajuda que a fundação pontifícia tem prestado ao longo destes mil dias de conflito na Europa. Ainda recentemente, em Outubro, o Bispo Vitaly Krivitskiy, da Diocese latina de Kyiv-Zhytomyr falava do esforço enorme da Igreja procurando amenizar o sofrimento das populações.

Obrigado a gerir toda esta emergência causada pela guerra, o bispo deu instruções para que as paróquias se tornassem refúgios seguros para todos os refugiados. “Quero que as nossas paróquias se transformem em cidadelas onde a guerra não chegue”, explica o bispo à Fundação AIS. “Lugares onde se possa estar quente, protegido das bombas, mas também onde se possa falar com um padre e receber um algum consolo.” Em três cozinhas móveis podem ser preparadas 1.000 refeições por dia para as pessoas mais carenciadas. Sempre com o objectivo de afastar a população da guerra, são organizados campos de férias para os jovens, com a ajuda da Fundação AIS.

“CUIDADOS ESPECIAIS DE EMERGÊNCIA”

Na frente de combate, o bispo pede aos padres voluntários que prestem “cuidados espirituais de emergência”, ao estilo das enfermeiras militares. Devem apoiar os soldados confrontados com o desespero. Distribuem também “kits espirituais de emergência”, uma Bíblia e um terço, tudo isto sem receberem ajuda do Estado. Nas declarações de D. Vitaly Krivitskiy, em Outubro, fazia-se referência aos dias de Inverno que estavam já a chegar e que são sempre duríssimos em terras ucranianas especialmente porque as infraestruturas energéticas têm sido um dos alvos dos bombardeamentos das tropas de Moscovo.

Este Inverno corre o risco de ser terrível para o país, sujeito ao ataque da artilharia russa. A rede eléctrica, que está 80% destruída, poderá ser cortada, o que tornaria impossível a vida da população civil. No entanto, o bispo não está a olhar para muito longe. “Nunca falamos de um futuro distante. Apenas nos perguntamos o que podemos fazer para responder a esta ou aquela emergência.” Para já, diz, são precisas sobretudo orações. “Não se trata apenas de palavras. Quando rezamos pelo nosso próximo, há efeitos reais”, garante o prelado. Depois, espera atravessar o Inverno e, sobretudo, que os geradores funcionem correctamente, pois são o único recurso durante o Inverno gelado, se as linhas eléctricas forem cortadas.

Desde o início da guerra, a Fundação AIS tem apoiado os sacerdotes na sua missão pastoral junto dos fiéis em circunstâncias extremamente difíceis. Desde o início de 2023, a Fundação AIS atribuiu quase 2 milhões de euros a vários projectos pastorais e de emergência na Ucrânia, dos quais cerca de 150 mil euros destinaram-se para a Diocese Latina de Kyiv-Zhytomyr. Para além disso, mais de 2 milhões de euros foram enviados aos sacerdotes sob a forma de Estipêndios de Missa, incluindo 125 mil euros especificamente para a Diocese do Bispo Krivitsky.

Paulo Aido e Sylvain Dorient

Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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O maior desafio à liberdade religiosa na Ucrânia é a situação nos territórios ocupados. Na área controlada pelas autoridades de Kiev, os casos de discriminação religiosa são, até à data, sobretudo incidentes perpetrados contra indivíduos, e não violações sistémicas da liberdade religiosa.
Tragicamente, a guerra parece ter-se enraizado cada vez mais. As violações dos direitos humanos, incluindo as violações da liberdade religiosa, não diminuirão. As perspectivas continuam a ser negativas.

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