A paróquia católica da Sagrada Família, em Gaza, foi ontem gravemente atingida num ataque. Três pessoas morreram e várias ficaram feridas, sendo que pelo menos dois paroquianos permanecem em estado preocupante. Entre os feridos, a maioria por estilhaços causados pelo rebentamento do engenho militar, está o Padre Gabriel Romanelli, o pároco local que foi atingido sem gravidade numa perna. O Papa Leão XIV reagiu de imediato a este ataque, mostrou-se “profundamente entristecido” e apelou a um “cessar-fogo imediato”.
A igreja da Sagrada Família, em Gaza, foi atingida ontem de manhã, 17 de Julho, por um projéctil lançado pelas tropas de Israel. Os dados mais recentes apontam para três mortos e vários feridos, entre os quais o Padre Gabriel Romanelli, o pároco local a quem o Papa Francisco falava ao telefone quase todos os dias.
O edifício sofreu grandes danos estruturais e a comunidade cristã local permanece em estado de choque, uma vez que o conflito em curso continua a devastar a região. Num telegrama assinado pelo cardeal Pietro Parolin, o Papa Leão XIV expressou ainda na manhã de ontem, que estava “profundamente entristecido” pelo ataque. O Pontífice assegurou ao pároco Romanelli a sua proximidade espiritual e orações por toda a comunidade paroquial. O Santo Padre reiterou ainda o seu constante apelo por um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza, e expressou a “profunda esperança” por “diálogo, reconciliação e paz duradoura na região”.
“CAOS E MALDADE DA GUERRA…”
Na quarta-feira, dia anterior ao ataque, e numa mensagem de vídeo enviada à Fundação AIS Internacional, o Padre Gabriel Romanelli alertava para a deterioração da situação em Gaza, mas falava também no “milagre de cada manhã”, em que a comunidade começava o dia a rezar.
Hoje tivemos muitos bombardeamentos durante toda a noite, e também pela manhã. Na verdade, agora entrei um pouco na nossa capela para aproveitar que temos internet também para enviar este vídeo, mas há um cheiro a pólvora... No meio de tanto caos, tanta maldade da guerra, Deus concede-nos respirar ares de eternidade com esse milagre da manhã”.
Padre Gabriel Romanelli
No vídeo, que tem um pouco mais de sete minutos, o sacerdote argentino do Verbo Encarnado – que ainda em Março enviou uma mensagem para o Jubileu dos Cristãos Perseguidos, organizado em Portugal pela Fundação AIS – descrevia alguns dos momentos da vida quotidiana da comunidade refugiada na paróquia.
“Ontem [terça-feira, 15 de Julho], durante a Missa, uma senhora sentiu-se mal. Chama-se Juda, teve uma quebra de tensão, por causa da glicose. Ela está bem, agora está estável, mas está fraquinha. Terminámos a Missa rezando por ela, e ela conseguiu chegar ao hospital num carro nosso, porque todas as estradas estão fechadas ou bombardeadas. Esperemos, não sei como estarão os pneus agora, só Deus sabe. Mas o importante é que a puderam levar, e depois puderam trazê-la à noite para dormir, aqui no salão, junto com a sua família.”
Após o grave ataque ao complexo da Igreja da Sagrada Família em Gaza, Sua Beatitude o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, juntamente com Sua Beatitude Teófilo III, Patriarca Ortodoxo Grego de Jerusalém, entraram em Gaza esta manhã como parte de uma delegação eclesiástica, expressando a solicitude pastoral compartilhada das Igrejas da Terra Santa e sua preocupação pela comunidade de Gaza.
CRIANÇAS APANHADAS NO BOMBARDEAMENTO
Durante meses, a paróquia da Sagrada Família tem sido um refúgio para cerca de 500 cristãos, incluindo famílias deslocadas de toda a Faixa de Gaza. Entre eles, estão crianças que, apenas alguns dias antes do ataque, partilharam os seus sonhos e medos com a Fundação AIS. Sonhos agora ensombrados pela incerteza, uma vez que as salas de aula onde encontraram abrigo estão neste momento fortemente danificadas.
Julia, de 10 anos, disse: “Estou na igreja desde o início da guerra. Vivo com a minha família numa sala de aula do convento latino. Tenho duas irmãs, a Leila, que tem 13 anos, e a Natalie, que tem 9. Tenho saudades da escola e dos meus amigos. Sonho em tornar-me dermatologista. Quando tenho medo, a minha família dá-me uma sensação de segurança. Espero que a guerra acabe bem, que tudo reabra e que toda a gente regresse às suas casas.”
Tal como ela, Tarek, de 14 anos, partilha também o mesmo desejo de uma vida normal. “Estou na Igreja há cerca de oito meses. Vivo com a minha família numa sala de aula. Tenho duas irmãs. Tenho saudades da escola e dos meus colegas. Às vezes acordo e as coisas estão calmas, não há bombardeamentos, por isso vou ajudar na Igreja. Sonho em ser médico. Os meus pais dão-me uma sensação de segurança. Espero que a guerra acabe, que toda a gente regresse às suas casas e que a passagem seja reaberta.”
Estes testemunhos têm apenas alguns dias, mas, neste momento, a situação de Julia, Tarek e das outras crianças que estão abrigadas na paróquia é incerta. Esta situação realça a necessidade crítica de paz e de acesso humanitário.
APELO À ORAÇÃO E À AJUDA
A Fundação AIS apela a todos os benfeitores e amigos da instituição pontifícia para rezarem pela paz, pelo repouso das almas dos que morreram e de todos os que ficaram mais afectados por esta tragédia, incluindo o Padre Gabriel Romanelli e as crianças abrigadas na paróquia.
Regina Lynch, presidente executiva internacional da fundação pontifícia lembra também a importância da solidariedade activa para com todos os cristãos na Terra Santa, em Gaza e na Cisjordânia.
“Depois do trágico ataque de ontem à paróquia católica em Gaza e do contínuo sofrimento das famílias cristãs na Cisjordânia, pedimos a todos os nossos amigos e benfeitores que se solidarizem com os nossos irmãos e irmãs cristãos na Terra Santa. Por favor, rezem por eles e, se possível, apoiem os nossos esforços para ajudar a Igreja em Gaza e na Cisjordânia durante este período crítico”, afirma a responsável da AIS.
De facto, a ajuda humanitária é extremamente necessária, pois milhares de pessoas continuam sem acesso a cuidados médicos e a recursos essenciais. A paróquia agora atingida por um bombardeamento, tornou-se um refúgio vital, oferecendo abrigo, medicamentos e apoio não só aos cristãos, mas também a milhares de pessoas que fora do complexo carecem das necessidades mais básicas.
Na mensagem enviada para Portugal, em Março deste ano, para o Jubileu dos Cristãos Perseguidos – que a AIS organizou em Arouca – o Padre Romanelli explicava a importância da oração de todos para que a paz se sobreponha à violência e à guerra, pondo-se fim ao tormento que se vive na região.
“Na minha opinião, para vós, em Portugal, ou para todas as pessoas de boa vontade, a primeira coisa a fazer é rezar”, disse o Padre Romanelli já no final da sua mensagem. “Rezar, rezar a Nossa Senhora, a Nossa Senhora de Fátima, a quem temos muita devoção e a quem rezamos o terço todos os dias com as crianças e os adultos diante do Santíssimo”, explicou o sacerdote, concluindo: “Deus conceda que a paz chegue de verdade, o fim desta guerra”.
Maria Lozano e Paulo Aido
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt