TERRA SANTA: Apesar da guerra, os cristãos vão celebrar o Natal, assegura cardeal Pizzaballa

O Patriarcado Latino de Jerusalém continua a apoiar a pequena comunidade cristã de Gaza e também as famílias muçulmanas que vivem próximas aos complexos católicos e ortodoxos do território. Numa conferência de imprensa promovida pela Fundação AIS Internacional, o cardeal Pizzaballa garante que o Papa Francisco continua a telefonar todos os dias para a paróquia católica em Gaza e que se transformou numa figura paterna para as crianças…

Todos os dias há agora um ritual em Gaza. Por volta das 19 horas, mais coisa menos coisa, o Papa telefona para a Igreja da Sagrada Família e aos poucos por causa desse gesto, foi-se transformando numa figura familiar, num avô. Para a comunidade de Gaza, “é um apoio muito grande”, afirmou o Cardeal Pierbattista Pizzaballa numa conferência de Imprensa promovida pela Fundação AIS Internacional. O gesto do Papa ganha um significado especial até por causa de guerra e de destruição que se vive na zona.

Tal como o telefonema do Papa, também a celebração do Natal pode ajudar a superar este ambiente de sofrimento e angústia. A pensar nisso, a Igreja está a preparar algo de especial. Actualmente, a paróquia católica da Sagrada Família abriga pouco mais de 450 pessoas, enquanto o complexo ortodoxo acolhe cerca de duas centenas, mas, apesar das condições difíceis, o Patriarca assegura que “todos estão juntos” e, por isso, celebrarão o Natal como uma comunidade unida. “Eles tentarão viver o Natal da melhor forma possível, mesmo enfrentando condições precárias”, afirma o cardeal Pizzaballa. Em 2023, as Igrejas Cristãs da Terra Santa realizaram celebrações mais discretas devido ao contexto de dor e sofrimento. Este ano, no entanto, o cardeal garante que o Natal será o mais “normal” possível, dadas as circunstâncias. “Teremos uma alimentação melhor, momentos de oração e algo especial para as crianças”, afirmou.

O Natal é a festa das crianças. Se pudermos, enviaremos não apenas alimentos, mas também brinquedos ou algo que possa fazer a diferença no dia-a-dia das crianças.

Isso também será uma alegria para as famílias. O Patriarca destacou a situação difícil das crianças de Gaza, que estão no segundo ano consecutivo sem aulas e enfrentam poucas perspectivas de regresso à normalidade.

O REGRESSO DOS TURISTAS É IMPORTANTE

O Natal é um tempo de excepção numa região onde a destruição e o sofrimento causados pela guerra estão presentes em todo o lado. O Patriarca Pierbattista Pizzaballa acredita que o conflito armado vai ter o seu fim mais tarde ou mais cedo. O que o preocupa é o nível de ódio que existe entre as pessoas. Quando a operação militar terminar, como é que será a vida em Gaza? Quem é que vai ficar lá? Serão seguramente necessários vários anos para a reconstrução, e o mais certo é que a fronteira com Israel continuará fechada. “Por isso, qual será o futuro da população?”, pergunta o Patriarca. E lançou uma questão importante: “Podemos reconstruir as infraestruturas” destruídas pela guerra, “mas como podemos reconstruir as relações?”

A comunidade cristã é pequena, apenas cerca de 1,5% da população, mas isso pode ser uma vantagem. “A Terra Santa é uma terra especial, é a terra da Revelação. A presença cristã manterá a memória de Cristo” nesta região, disse ainda o prelado. E para manter viva essa memória, o Patriarca desafiou os cristãos em todo o mundo a peregrinarem até à Terra Santa. A viagem é segura, garante. “É importante começarem a pensar em voltar…”

É DIFÍCIL FAZER CHEGAR AJUDA HUMANITÁRIA

A guerra está a ter, de facto, uma implicação enorme na vida das populações locais. Quase todos os cristãos da Cisjordânia e que trabalhavam em Israel viram as suas autorizações canceladas e existe, além disso, uma quase paralisia no sector do turismo. Tudo isso afecta, como é evidente, a vida das famílias e vai ter repercussões nas próprias celebrações de Natal.

O Patriarcado Latino está fortemente comprometido com o apoio humanitário em Gaza e na Cisjordânia, com o auxílio da Fundação AIS. Estamos a distribuir alimentos não apenas para a comunidade cristã, mas para cerca de 4 mil famílias. Esse trabalho humanitário reflecte a nossa identidade como Igreja. Não podemos falar de Jesus e do amor ao próximo sem traduzir essas palavras em acções concretas.

Mas fazer chegar esta ajuda às famílias mais carenciadas, não é uma tarefa fácil. “Trazer alimentos e itens de necessidade básica para o norte de Gaza exige coordenação com muitos agentes de ambos os lados da fronteira. Foi um processo longo, mas conseguimos estabelecer canais. Temos também uma vantagem: a nossa comunidade local está directamente envolvida na distribuição, o que gera um senso de propósito e fortalece a rede de apoio entre as famílias, cristãs ou não.”

A conferência de Impresa, coordenada por Maria Lozano, responsável internacional de informação da Fundação AIS, contou ainda com a participação de Regina Lynch, a presidente executiva internacional da fundação pontifícia, que enfatizou a importância do trabalho da Ajuda à Igreja que Sofre não só ao nível da ajuda de emergência, mas também na criação de condições para a promoção da paz e da reconciliação na região. A missão da AIS não é apenas fornecer ajuda material aos cristãos na Terra Santa, mas também rezar por eles e fazer com que as suas vozes sejam ouvidas. Para além disso, temos o dever de promover a reconciliação e a paz entre os diferentes grupos religiosos e étnicos, por mais impossível que isso possa parecer por vezes”, afirmou Regina Lynch.

Paulo Aido e Filipe D’Avillez

Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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