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SUDÃO SUL: “A Igreja sofre com o povo”, diz Christian Carlassare, Bispo eleito de Rumbek, em entrevista à Fundação AIS
“Obviamente a população sofre com o conflito, sofre instabilidade, pobreza endémica, falta de serviços básicos, e entre esta população também há cristãos …” Numa breve entrevista ao programa de televisão da Fundação AIS em Espanha, o missionário comboniano Christian Carlassare, Bispo eleito de Rumbek, no Sudão do Sul, traça um retrato do mais jovem país do mundo mergulhado praticamente desde a primeira hora em conflitos, guerras e divisões. “A Igreja local sofre com as mesmas necessidades da população, tanto a pobreza como as consequências da violência também afectam a Igreja”, disse ainda desde Itália, onde se encontra em convalescença após o atentado de que foi vítima em Abril deste ano.
Escolhido a 8 de Março pelo Papa Francisco para liderar os destinos da diocese de Rumbek, e quando todos aguardavam pela sua ordenação episcopal a 23 de Maio, o Padre Christian seria violentamente atacado por dois homens que o balearem nas pernas na noite de 25 de Abril. O ataque, disse agora o missionário italiano à Fundação AIS, colheu-o completamente de surpresa, pois nunca se sentiu ameaçado. “Para mim esse ataque foi um choque, pois em muitos momentos difíceis no Sudão do Sul nunca me tinha sentido em perigo, porque estava protegido pelas pessoas. Porém, nesse dia, dois jovens apontaram-me uma arma, à noite, sem eu ter como fugir. Graças a Deus, dispararam, mas o Senhor guiou as balas para que não provocassem demasiados ferimentos. Atingiram as pernas e os músculos, mas não zonas vitais…”
Sujeito a diversas intervenções cirúrgicas, o Bispo eleito de Rumbek fez questão, entretanto, de oferecer a Nossa Senhora as balas com que foi atingido nas pernas. Na breve entrevista à Fundação AIS, diz olhar “com humildade” para tudo o que lhe aconteceu e mostra o seu compromisso total em ajudar o povo do Sudão do Sul a ultrapassar os tempos difíceis em que se encontra desde que ganhou a sua independência face ao vizinho do norte, o Sudão, em 2011. De facto, apenas dois anos depois, em 2013, estalou um conflito entre partidários do presidente, Salva Kiir, e do seu então vice-presidente, Riek Machar, de que resultaria a morte a cerca de 400 mil pessoas e milhares de deslocados e refugiados. Em Setembro de 2018, foi assinado um acordo de paz na capital etíope de que resultou, já em Fevereiro do ano passado, a constituição de um governo de transição.
Para o Bispo eleito de Rumbek, o atentado de que foi alvo é exemplo das feridas que têm feito sangrar o Sudão do Sul nos últimos anos. “O que me aconteceu, vejo-o como uma ferida que representa as feridas do povo do Sudão do Sul e que é também um momento de graça, pois deu-me a humildade para me fazer povo com o povo e voltar a levantar-me para ser um sinal para as pessoas, e mostrar também que se podem levantar novamente, apesar das feridas que sofrem devido a um conflito que não acaba, com tantas armas presentes no território, com tantos territórios ocupados por milícias e tantas pessoas deslocadas”, disse o missionário italiano ao programa “Perseguidos pero no olvidados”, da Fundação AIS na televisão espanhola. “Perante esse desespero, [procuro] dar esperança de que se podem curar as feridas, de que é possível voltarmos a levantar-nos e percorrer o caminho da paz. Podemos fazer tudo isto apesar de tudo”, acrescentou ainda o Bispo eleito de Rumbek.
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