“Estamos a pedir orações a todos os benfeitores!” Regina Lynch, directora de projectos da Fundação AIS, sintetizava assim, a meio da manhã de ontem, o estado de espírito da Ajuda à Igreja que Sofre face às notícias que apontavam já para um sismo de consequências trágicas no norte da Síria, com milhares de mortos e feridos e ainda muitos desaparecidos.
Um sismo, de magnitude 7.8 na escala de Richter atingiu ontem de madrugada não só a Síria mas também a Turquia, tendo havido um novo abalo, igualmente muito forte, às 10:52 horas. “A Igreja na Síria está em choque com a catástrofe”, disse Regina Lynch, directora de projectos da Ajuda à Igreja que Sofre, após uma primeira ronda de contactos com paróquias, dioceses e comunidades religiosas. “Mesmo tão longe como Beirute as pessoas foram para as ruas, preocupadas que outra explosão estivesse prestes a perturbar o seu país”, acrescentou a responsável, referindo-se à brutal explosão acidental que destruiu o porto e alguns bairros da capital libanesa em Agosto de 2020. “Por agora, a Igreja está a verificar os seus colaboradores e famílias…”, disse ainda Lynch.
NOTÍCIA CORREU DEPRESSA
De facto, tal como referiu a directora de projectos da Fundação AIS, o abalo sísmico foi sentido a muitos quilómetros de distância e causou medo em muitas pessoas. Foi o que aconteceu com a Irmã Maria Lúcia Ferreira. Ela vive em Qara, no Mosteiro de São Tiago Mutilado, relativamente perto da fronteira com o Líbano. “Acordámos com o sismo às 4:20 horas da manhã. Eu apenas senti durante alguns segundos, mas comecei logo a rezar…” Apesar de as ligações pela Internet serem más e de haver constantes falhas na electricidade, a notícia do terramoto correu célere. Em mensagem enviada a meio da manhã para Lisboa, para a Fundação AIS, a religiosa portuguesa, que é mais conhecida como Irmã Myri, adiantava que, segundo as informações disponíveis, o sismo teria sido sentido principalmente “nas cidades de Alepo, Idlib, Lattakia e Hamã”. “Também no sul, em Tartous, mas aí foi coisa pequena, assim como nós sentimos aqui. Mas lá sim, há muitos mortos e há muitos feridos…”
ARCEBISPO ESCAPA POR POUCO
Mesmo com informações ainda muito imprecisas, e longe de ter ainda sequer uma ideia da real dimensão da catástrofe, a irmã portuguesa mostrava-se já muito apreensiva. Principalmente por causa do mau tempo que se faz sentir em grande parte do território da Síria… “Há três, quatro dias de vento forte e muito frio. As pessoas devem estar bastante abatidas”, disse a irmã. Entretanto, as informações coligidas pela Irmã Myri foram sendo confirmadas também pela AIS Internacional. Em Alepo, por exemplo, na zona oriental, dezenas de edifícios desmoronaram, em grande parte por causa da sua má construção, mas também por esta região ter sofrido constantes bombardeamentos durante os terríveis tempos de guerra, o que também terá contribuído para eventuais danos estruturais. E foi precisamente em Alepo, por causa do desmoronamento de um edifício, que o antigo Arcebispo Católico Melquita escapou por pouco à morte, tendo sido encaminhado para um hospital local. Mas outros não tiveram a mesma sorte. O Padre Emad Daher morreu nos escombros desse edifício, assim como um outro cristão, que não foi ainda identificado.
SÍRIA, UM PAÍS EM CRISE
O sismo, que teve uma réplica de 7.7 na escala de Richter pouco antes das 11 horas da manhã de ontem, ocorre numa altura em que a Síria vive tempos muito duros, com falhas constantes no fornecimento de electricidade e de combustíveis, o que tem agravado, e muito, as condições de sobrevivência das populações. A situação é tão grave, principalmente ao nível energético, que, conta ainda a Irmã Myri, as escolas passaram a estar encerradas mais um dia por semana pois falta o “mazout”, o óleo usado para o aquecimento das casas e sem isso não é possível receber os alunos, especialmente os mais pequenos. Mas não só. Dando o exemplo da região de Qara, onde vivem as Monjas de Unidade de Antioquia, a irmã portuguesa diz que, agora, “só há electricidade uma hora por dia”, mas que houve dias “sem nenhuma electricidade”. E se juntarmos isso ao racionamento do gás, a vida das famílias fica muito mais difícil, quase impossível. “A nível energético é que as coisas estão realmente a ficar bastante complicadas”, descreve a irmã. “É o combustível para cozinhar, a ligação à internet, o telefone, a rede telefónica… tudo o que pede alguma energia está a ficar cada vez mais fraco. Os transportes estão caríssimos, as deslocações caríssimas, por causa da falta de gasolina e da [sua] má qualidade, assim como os preços altíssimos da comida, de tudo o que é roupa, sapatos…”
APOIO PERMANENTE
A Fundação AIS está a avaliar continuamente a situação, recolhendo o máximo de informação possível junto dos seus parceiros no terreno sobre as necessidades imediatas da Igreja local, para que esta possa cumprir com a sua missão de ajuda de emergência a estas populações. O apoio alimentar através de cantinas paroquiais, ajuda aos idosos e auxílio médico, são projectos da Fundação AIS que ganham agora, neste contexto de desastre que se vive na Síria uma importância ainda maior.