O Parlamento Europeu aprovou na passada semana uma resolução de condenação dos ataques “contra comunidades cristãs” cometidos pelos militantes das Forças Democráticas Aliadas [ADF], grupo ligado ao Daesh, o Estado Islâmico, e outras organizações extremistas, e apela “à solidariedade internacional em defesa da liberdade religiosa e da protecção das minorias em zonas de conflito” na República Democrática do Congo. O grupo ADF tem sido responsável por dezenas de ataques especialmente na região leste deste país africano.
O Parlamento Europeu aprovou uma resolução na passada quinta-feira, dia 3 de Abril, condenando os “ataques contra cristãos na República Democrática do Congo”, cometidos pelo grupo insurgente ADF, Forças Democráticas Aliadas, ligado ao Daesh, a organização jihadista Estado Islâmico.
No documento, os deputados europeus reconhecem que este país africano tem sofrido “décadas de violência generalizada” na sua região leste, onde existem conflitos armados que “criaram terreno fértil para o surgimento de mais de 100 grupos extremistas que têm como alvo populações vulneráveis, incluindo comunidades religiosas”.
É neste contexto que se tem destacado o grupo ADF, que persegue “objectivos explicitamente religiosos desde que o seu líder jurou lealdade ao Estado Islâmico” em 2019. Desde então, recordam os parlamentares europeus na resolução agora aprovada, os militantes desta organização terrorista têm “visado especificamente comunidades cristãs em sete distritos no nordeste” do país, nomeadamente atacando uma igreja pentecostal em Kasindi, em que morreram 14 pessoas em 2023, assim como em Beni, já em Janeiro do ano passado, com oito vítimas mortais também numa igreja evangélica.
CRISTÃOS EXECUTADOS
Segundo os dados apresentados no Parlamento Europeu, as ADF foram também responsáveis pela morte de 14 católicos no Kivu Norte, em Maio de 2014, por causa da “sua recusa em se converterem ao islamismo”, assim como outros 11 cristãos “executados” na aldeia de Ndmino, na província de Ituri, em que “outros cristãos” foram igualmente sequestrados.
Entre os muitos ataques da responsabilidade desta organização armada, refira-se o que ocorreu em Fevereiro deste ano, e que foi noticiado pela Fundação AIS. Tratou-se do massacre de pelo menos 70 pessoas, especialmente mulheres, crianças e idosos, cujos corpos amarrados e alguns decapitados foram encontrados numa igreja protestante na aldeia de Lubero, também na província do Kivu Norte.
Embora o documento dos parlamentares foque a sua atenção na actuação dos militantes do ADF, é referido que “outros grupos armados” estão também presentes na zona leste da República Democrática do Congo, “atacando a infraestrutura religiosa como parte das suas estratégias de insurgência”.
SITUAÇÃO DOS CONVERTIDOS
Em resultado disso, no ano passado, pode ler-se também na resolução aprovada pelo Parlamento Europeu, “355 pessoas teriam morrido na RDC por causa de suas crenças religiosas, em comparação com 261 em 2023, enquanto cerca de 10.000 pessoas foram deslocadas internamente por causa de sua religião, um número dez vezes maior do que em 2023; que casas foram saqueadas e queimadas, escolas foram realocadas, igrejas e centros de saúde foram fechados e várias aldeias cristãs foram completamente abandonadas”.
O documento refere explicitamente também a situação dos convertidos ao cristianismo vindos do islamismo e religiões indígenas, e que “enfrentam pressão das suas famílias para retornarem às suas antigas religiões”, como um elemento a ter em conta quando se avalia o que se passa neste país de África e o compromisso da promoção e protecção da liberdade religiosa e da luta contra a perseguição e intolerância baseada na fé.
SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL
Na resolução, o Parlamento Europeu pede às autoridades locais que combatam a propaganda extremista e forneçam segurança armada não só a igrejas, mas também a outros edifícios religiosos, criando, por exemplo, mecanismos de alerta das populações para prevenir ataques do grupo ADF e de outras organizações terroristas.
No documento apela-se ainda à solidariedade internacional “em defesa da liberdade religiosa e da protecção das minorias” nas zonas de conflito, particularmente neste país de África, e incentiva-se a criação “de zonas seguras no leste” do país, “onde as comunidades religiosas e outros civis” possam ter acesso a serviços jurídicos e apoio psicológico. Nos preâmbulos da resolução, os parlamentares recordam que “os cristãos são o grupo religioso mais perseguido no mundo”.
OUTROS SINAIS DE VIOLÊNCIA
Sinal da violência contra os cristãos na República Democrática do Congo há poucas semanas, na noite de 18 para 19 de Março, como a Fundação AIS noticiou, um grupo de bandidos fortemente armados com catanas, barras de ferro e armas, invadiu a casa das dominicanas na capital do país, a cidade de Kinshasa, ameaçando as irmãs, incluindo de as poderem violar e matar, e saqueando e destruindo tudo o que havia por lá, desde armários, telefones, computadores e dinheiro. Apesar de terem pedido socorro, ninguém veio em auxílio das religiosas.
Este assalto violento ocorre numa altura particularmente grave na vida deste país africano, com uma situação de guerra nas províncias do Kivu Norte e no Kivu Sul, com cidades atacadas e ocupadas por milicianos de um outro grupo armado, o M23, que está também presente na região e que é apoiado pelo vizinho Ruanda. Tem havido combates intensos desde Dezembro de 2024, que obrigaram já pelo menos meio milhão de civis congoleses a fugir das suas casas, segundo dados do ACNUR.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt