O Parlamento Europeu aprovou uma resolução apelando à protecção dos Cristãos na Síria na sequência do atentado terrorista de 22 de Junho à Igreja greco-ortodoxa de Mar Elias, em Damasco, que causou mais de 80 vítimas, entre mortos e feridos. Entretanto, e após o incêndio da Igreja de São Miguel e de algumas dezenas de casas de cristãos em Suwayda, na semana passada, os cristãos estão receosos do que possa vir a acontecer e, segundo relata à Fundação AIS a Irmã Maria Lúcia Ferreira, a religiosa portuguesa que vive num mosteiro em Qara, “as pessoas agora têm medo de se reunir”.
O Parlamento Europeu aprovou uma resolução apelando à protecção dos cristãos na Síria, na sequência do atentado terrorista de 22 de Junho à Igreja greco-ortodoxa de Mar Elias, na cidade de Damasco, e que provocou mais de 80 vítimas, entre mortos e feridos. No documento, consultado pela Fundação AIS, os parlamentares europeus exprimem a sua preocupação pela crescente violência sectária neste país do Médio Oriente, visível na perseguição a minorias religiosas, como os cristãos e os drusos, e exigem a responsabilização do governo sírio e instam as autoridades a tomarem medidas na defesa das populações.
A resolução, que foi aprovada a 10 de Julho, e que teve, entre outros subscritores, os deputados portugueses Sebastião Bugalho e Francisco Assis, refere que o atentado terrorista suicida contra a igreja cristã em Damasco foi “o ataque mais mortífero desde há vários anos contra os cristãos”.
O Parlamento Europeu “condena veementemente”, o atentado, que classifica como “traumático”, e denuncia também “todas as ameaças contra locais de culto, alguns dos quais de importância histórica”, na Síria.
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Na resolução, o Parlamento Europeu reitera o apoio da União a este país que vive um período de transição política desde a queda do regime de Bashar al Assad, em Dezembro passado. Um apoio que se manifesta, por exemplo, no “levantamento condicional das sanções” impostas ao país.
No entanto, os deputados enfatizam a necessidade de as novas autoridades empreenderem uma política “baseada nos direitos humanos”, com “luta contra a impunidade, proibição de violência arbitrária” e baseada em “governação inclusiva” e promovendo o diálogo inter-religioso. Na resolução, constata-se e salienta-se a situação “de vulnerabilidade das comunidades cristãs na Síria”.
MEDO ENTRE OS CRISTÃOS
Sinal desta “vulnerabilidade”, a Irmã Maria Lúcia Ferreira, a religiosa portuguesa mais conhecida como Irmã Myri, e que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, refere, em mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, que “as pessoas agora têm medo de se reunir por causa do que está a acontecer no país”, e que isso se reflecte nas cerimónias religiosas. “Pode haver alguém que se venha a fazer explodir, pode haver a intervenção da polícia, sabe-se lá…” diz.
No fim de semana, relata ainda a religiosa, houve a festa de Santo Elias, em Rableh, em cujo mosteiro está o ícone de Nossa Senhora das Dores – Consoladora dos Sírios – e que foi oferecido pela Fundação AIS em 2019. “A missa foi presidida pelo bispo greco-católico [D. Jean Abdo Arbach], havia gente, mas contrataram um guarda para que não acontecesse nada”, explica a irmã.
“NÃO QUEREMOS MAIS SANGUE…”
Este prelado, recorde-se participou recentemente, em Março, em Madrid na “Noite dos Testemunhos”, uma iniciativa do secretariado espanhol da Fundação AIS. Na altura, ainda com a memória viva de uma série de ataques indiscriminados ocorridos na região de Latakia e Tartus, em que mais de mil pessoas foram mortas, o prelado reafirmou a urgência de se colocar um ponto final em toda a violência que tem abalado a Síria desde a queda do regime de Bashar al Assad.
“Não queremos mais sangue. Apelamos à unidade e à reconciliação. Após 14 anos de guerra, não precisamos de outro conflito”, disse o arcebispo, referindo os imensos desafios que se colocam agora à Igreja neste país-chave para a presença cristã no Médio Oriente.
Estamos a apoiar os nossos fiéis de todas as formas: pagando a renda das casas, fornecendo medicamentos, alimentos e vestuário, e ainda tentando apoiá-los espiritualmente para que se sintam próximos de Deus e para os encorajar a permanecer na sua terra, no seu país, e para preservar as raízes da Síria, que são os cristãos.”
D. Jean Abdo Arbach
APELO À ORAÇÃO PELA SÍRIA
O Arcebispo Arbach agradeceu também o apoio recebido da Fundação AIS para a comunidade cristã na Síria e voltou a alertar para o perigo real do desaparecimento do cristianismo no Médio Oriente. “Encorajo as pessoas a terem esperança e a manterem-se firmes, porque sem os cristãos não pode haver futuro para a Síria. Os cristãos são as raízes da Síria e a Síria é o berço do cristianismo. Em Damasco, estão preservados os locais do primeiro século, onde o apóstolo Paulo se converteu ao cristianismo. Existem ainda templos e mosteiros do século I e ainda se fala aramaico, a língua de Jesus”, disse.
Perante a gravidade dos incidentes que têm acontecido na Síria, a Fundação AIS reitera o apelo aos cristãos de todo o mundo para que rezem pelas vítimas dos atentados e dos ataques, que rezem também pela paz na Síria e pela protecção das comunidades mais vulneráveis. A fundação pontifícia reafirma o seu compromisso de continuar a prestar ajuda espiritual, psicológica e material, e apela à solidariedade da comunidade internacional neste momento crítico.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt