PORTUGAL: “Os mártires de hoje são heróis”, disse Bispo de Viseu na inauguração da exposição “Liberdade Garantida”

Depois de Santarém, chegou a vez de Viseu acolher a exposição “Liberdade Garantida”, do artista plástico Miguel Cardoso, sobre o sofrimento de milhões de pessoas que são vítimas de perseguição religiosa. O Bispo de Viseu, D. António Luciano, sublinhou, na cerimónia de inauguração, sábado, dia 17, que “os mártires de hoje são heróis, são exemplo” para todos. A exposição, apoiada pela Fundação AIS, vai estar patente ao público até Fevereiro do próximo ano.

A exposição “Liberdade Garantida”, do artista plástico Miguel Cardoso, que retrata histórias concretas de homens, mulheres e crianças vítimas de perseguição religiosa nos dias de hoje, foi inaugurada no sábado, dia 17 de Maio, no Museu de Arte Sacra, na Catedral de Viseu, depois de um ano de exibição no Museu Diocesano de Santarém.

A cerimónia de inauguração, no âmbito do Dia Internacional dos Museus, contou com a presença do Bispo, da coordenadora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu, da vereadora da cultura e da directora do secretariado nacional da Fundação AIS. O Bispo de Viseu, D. António Luciano, que saudou o trabalho realizado pela Ajuda à Igreja que Sofre a nível mundial, sublinhou a importância de a exposição obrigar o visitante a reflectir sobre “o valor da liberdade” e a necessidade de a divulgar, de a promover, de a ensinar e de a testemunhar.

A exposição apresenta 10 instalações que transportam o visitante para a realidade cruel de milhões de pessoas vítimas de violência, pessoas que são perseguidas por causa da sua fé, homens, mulheres e crianças em sofrimento e tantas e tantas vezes sem que o mundo sequer dê conta disso, sem que o mundo se comova com isso. A primeira das instalações, logo no início da exposição, é uma réplica do Sudário de Turim com a imagem do menino sírio Alan Kurdi, de dois anos de idade, que morreu afogado numa praia da Turquia em Setembro de 2015. Esta tragédia aconteceu há quase dez anos.

MÁRTIRES, SEMENTES DE CRISTÃOS

A exposição está cheia de histórias assim, remete-nos para um quotidiano que também é o nosso, enquanto cidadãos do mundo, e inquieta-nos. Afinal, são histórias que estão a acontecer quase todos os dias.

Um bote de borracha, idêntico aos barcos precários que sulcam o Mediterrâneo e que o transformaram num cemitério, está lá, ao lado das peças do Tesouro da Catedral, para nos abanar a consciência. Uma pequena cruz, em azulejo, com rostos de alguns dos mártires da Igreja, pessoas que foram mortas, que foram assassinadas nos últimos anos, é outra das peças que esteve patente ao público em Santarém e que agora faz parte também da exposição em Viseu.

São, neste caso, 25 rostos de mártires da Igreja, mártires que D. António Luciano referiu como heróis. “Esta gente, em nome da liberdade religiosa tem de fugir do seu país, e é morta, é perseguida, são realmente os mártires de hoje e são para nós heróis, são exemplo. E nós sabemos que na Igreja primitiva houve muitos mártires que deram semente de cristãos, mas hoje também há muitos mártires em nome da fé”, afirmou.

A exposição “Liberdade Garantida” nasceu em Abril de 2024, em Santarém, no contexto das comemorações dos cinquenta anos da revolução. E tal como aconteceu em Santarém, também agora, em Viseu, as peças são apresentadas ao público como se estivessem em diálogo com as que já faziam parte do espólio permanente do museu de arte sacra da diocese. Esse diálogo “é mesmo a chave de leitura”, diz o autor, para a compreensão das histórias, dos dramas humanos que se escondem em cada instalação.

“Não quis que esta fosse uma exposição bonita e o facto de estar integrada num museu de arte sacra, com a sua iconografia própria, é um desafio. O objectivo – explicou o artista plástico Miguel Cardoso –, é que isto nos desperte para uma realidade que, infelizmente, não se vai resolver tão depressa.”

HISTÓRIAS DE FALTA DE AMOR

De facto, o drama da perseguição religiosa, associado a guerras, a surtos de violência regional, a organizações terroristas, não tem dado sinais de abrandar. Pelo contrário. Os relatórios produzidos pela Fundação AIS atestam-no. Por isso, os visitantes são interpelados desde o primeiro instante da exposição. Tudo por ali fala em pessoas concretas, em homens, mulheres e crianças reais, com nome, identidade. E mesmo que não saibamos como se chamam, sabemos de alguma forma a tragédia que lhes aconteceu. E dificilmente se fica indiferente a isso.

Esta é uma exposição para se ver, mas também para meditar, para rezar. Na breve cerimónia de inauguração, a coordenadora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu lembrou que o Museu acolhe peças notáveis de Arte Sacra e alfaias religiosas, algumas que remontam ao século XII, e algumas dessas peças “falam daquilo que foi a falta de amor no tempo em que Jesus viveu, mas esta exposição fala-nos da falta amor sobre aqueles que são perseguidos a nível mundial nos dias de hoje”. “A verdade é que os mártires continuam e muitos são rostos anónimos”, disse ainda Fátima Eusébio, concluindo que “esta exposição deve abalar consciências, deve questionar-nos”.

A responsável deixou ainda a ideia de que outras dioceses portuguesas devem também acolher este trabalho de Miguel Cardoso. “Esta exposição deve ser itinerante e gostava muito que depois de Viseu fosse para outras zonas do país e disponibilizo o Secretariado Nacional dos Meios Culturais da Igreja para ajudar a passar essa mensagem às várias dioceses. Deixo aqui este desafio à Fundação AIS”, disse, a terminar a sua intervenção, repto que foi prontamente acolhido pela directora do secretariado nacional da Fundação AIS, ali presente.

CRISTÃ PRESA DOIS ANOS NUM CONTENTOR

Catarina Martins de Bettencourt sublinhou de facto que será importante levar a exposição “Liberdade Garantida” a outras dioceses, pois é necessário “alertar as pessoas, informá-las, para que todos possam saber o que se passa em tantos e tantos lugares do mundo”.

A responsável pela Fundação AIS em Portugal deixou ainda o convite, às cerca de quatro dezenas de pessoas que assistiram à inauguração da exposição, para visitarem diariamente o site da instituição, “pois lá temos todos os dias informações, notícias sobre a Igreja que sofre no mundo, mas também os relatórios que vamos produzindo sobre os 196 países do mundo, e o que analisamos sobre esta temática da liberdade religiosa”.

“É muito importante sabermos o que se passa”, acrescentou Catarina Bettencourt. O nome da exposição, “Liberdade Garantida”, foi inspirado na história concreta de uma mulher cristã da Eritreia que esteve presa durante dois anos. Pior do que ter estado presa, esteve fechada durante esses 24 meses num contentor metálico.

“Quando foi libertada, explicou Miguel Cardoso, ela escreveu um livro para contar o que lhe aconteceu e para alertar as novas gerações. E termina o livro dizendo: nunca tomem a vossa liberdade por garantida. Ela esteve presa dois anos num contentor por uma coisa ‘terrível’ que foi andar a cantar cânticos religiosos e a distribuir Bíblias. Por muito que nos espante, uma das razões por que mais pessoas são presas e perseguidas, é por andarem a cantar cânticos e a distribuir Bíblias, ou a rezar o Terço”, disse Miguel Cardoso. “Não é por andarem a fazer atentados ou manifestações”, concluiu.

A exposição “Liberdade Garantida”, apoiada pela Fundação AIS, vai estar patente ao público em Viseu até dia 18 de Fevereiro do próximo ano.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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