O ano de 2024 termina com a Fundação AIS a mobilizar os seus benfeitores e amigos em Portugal para uma campanha de ajuda de emergência para os cristãos da Síria, país que está a viver dias históricos com a queda do regime de Bashar al-Assad. Mas este é apenas um exemplo das acções de solidariedade e de oração promovidas pela Ajuda à Igreja que Sofre no nosso país. Foram mais de duas dezenas de campanhas que mobilizaram milhares de portugueses e que permitiram acudir milhões de cristãos em países como a Ucrânia, Burquina Fasso, Moçambique, Haiti ou Iraque.
“Chegamos ao fim do ano com o sentimento de que há sempre muito por fazer no apoio aos cristãos perseguidos, no apoio à Igreja que sofre em tantos lugares do mundo”, reconhece a directora do secretariado português da Fundação AIS. Durante todos os meses ao longo de 2024 houve sempre, pelo menos, uma iniciativa concreta destinada a algum lugar do Planeta onde os cristãos são perseguidos, onde a Igreja sofre por ser muito pobre, ou onde a guerra e o terrorismo têm forçado multidões a fugir, ficando numa situação de absoluta indigência e dependendo da solidariedade de instituições como a Fundação AIS.
Todos os meses, além da ajuda concreta destinada a algum país, a alguma diocese, a Fundação AIS mobilizou também os seus benfeitores e amigos em Portugal para rezarem pelos cristãos perseguidos, pelos que, por causa da sua fé, são vítimas de violência, do ódio e do desprezo às vezes até da própria sociedade. “Todas as campanhas que promovemos revelaram-se essenciais”, afirma Catarina Bettencourt. “Agora que estamos a chegar ao fim do ano, e olhando para trás, para o que foi feito desde Janeiro até Dezembro, temos a convicção absoluta de que, graças à solidariedade dos portugueses, graças às campanhas que foram realizadas, salvámos vidas concretas, salvámos pessoas, alimentámos quem estava a passar fome, demos roupa a quem não tinha que vestir, demos educação às crianças e jovens, demos abrigo a quem perdeu tudo, por causa da guerra e dos ataques terroristas, mas, acima de tudo, demos esperança. Penso que isso é mesmo o mais importante: demos esperança”, diz ainda a directora do secretariado nacional da AIS.
Demos esperança, rezámos muito – porque nós acreditamos muito no poder da oração – e procurámos denunciar ao mundo as situações de injustiça em que se encontram tantas e tantas comunidades cristãs, vítimas da intolerância religiosa.
Catarina Martins de Bettencourt
SÍRIA, BURQUINA FASSO, LÍBANO…
De facto, a campanha mais recente promovida em Portugal pela Fundação AIS destina-se à ajuda aos cristãos na Síria, surpreendidos pela queda do regime em pouco mais de uma semana. Mas, ao longo do ano, foram muitas as iniciativas de ajuda concreta promovidas pelo secretariado nacional da fundação pontifícia.
Ainda em Novembro, por exemplo, foi lançada uma campanha para os cristãos do Burquina Fasso. Uma campanha que permitiu apoiar, na alimentação e com medicamentos, as famílias deslocadas na Paróquia de Lininghin, na Diocese de Ouagadougou. Mas também houve um apoio específico para a formação de 360 sacerdotes, religiosos e catequistas que estão envolvidos na recuperação emocional dos refugiados, dos que fugiram da violência jihadista na Diocese de Ouahigouya, e também para as crianças e famílias deslocadas nas Dioceses de Fada N’Gourma e Nouna.
Isso foi em Novembro, pois em Outubro, a ajuda principal foi canalizada para o Líbano, em resultado da situação de guerra neste país. Neste caso, tratou-se de uma campanha internacional, que envolveu todos os secretariados, mas que mobilizou e muito a equipa em Portugal que lançou uma iniciativa concreta, “SOS Líbano”, para ajuda a milhares de famílias em Tiro, Sidon e também Beirute, a capital.
Já no mês anterior, em Setembro, os portugueses mostraram a sua veia solidária excepcional apoiando o regresso às aulas de milhares de crianças também no Líbano. A Fundação AIS distribuiu centenas de cabazes escolares onde além dos lápis e cadernos e borrachas, havia também sempre um exemplar da Bíblia…
NIGÉRIA, EGIPTO, SUDÃO, SUDÃO DO SUL…
Por vezes, as comunidades cristãs precisam de ajuda por causa não apenas das guerras, ou da violência terrorista, mas também por calamidades naturais. Foi o que sucedeu em Setembro, com as piores cheias dos últimos trinta anos na diocese de Maiduguri, na Nigéria. Cerca de 40% da cidade ficou submersa e a Igreja lançou um pedido de socorro para ajuda de emergência, que foi de imediato correspondido.
No mês de Agosto, a AIS apoiou, como aliás, já vem sendo tradição, a realização de mais de 1600 campos de férias para crianças em necessidade em 18 países. Desde o Egipto à Jordânia, do Iraque à Geórgia e Cazaquistão, os campos de férias promovidos pela Fundação AIS também permitiram momentos de descanso e lazer a crianças e jovens em regiões devastadas pela guerra e por conflitos, incluindo a Terra Santa, o Líbano, a Síria, a Ucrânia, a Arménia, Moçambique e Venezuela.
Em Junho, as atenções estiveram voltadas para a terrível guerra no Sudão, que ceifou já milhares e milhares de vidas e tem levado milhões a fugir, naquela que é, neste momento, uma das mais graves crises humanitárias no planeta. E muitos fugiram já para o Sudão do Sul. E a Igreja local pediu apoio. Foi o caso de D. Stephen Ameyu, Bispo de Juba. “As necessidades são gigantescas. Por favor, venham em auxílio destas pessoas deslocadas, que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem bens de primeira necessidade. Deixaram tudo para trás, fugindo para salvar a vida”, referiu o prelado numa mensagem enviada para a AIS. E a Fundação AIS em Portugal mobilizou-se logo e avançou com uma campanha para ajuda concreta para o campo de Malakal, que passou a ser a casa provisória de milhares de deslocados.
CABO DELGADO, EM MOÇAMBIQUE, E UCRÂNIA…
Muito significativa foi também a campanha lançada em Portugal de apoio à Igreja em Cabo Delgado, em Moçambique. O ano de 2024 termina, como a Fundação AIS noticiou na semana passada, com uma nova onda de ataques terroristas, mas este ano terá sido mesmo um dos mais graves desde Outubro de 2017, quando a região foi sobressaltada pelo primeiro acto de violência de grupos armados que agora reivindicam pertencer ao Daesh, a organização jihadista Estado Islâmico.
Em Abril, a Fundação AIS lançou uma campanha de ajuda de emergência para a Diocese de Pemba – que corresponde geograficamente à província de Cabo Delgado –, na sequência de uma vaga de ataques em Fevereiro, a várias aldeias no Distrito de Chúre, em que, como nos relatou então D. António Juliasse, “todas as capelas cristãs foram destruídas”. Na ocasião, o Bispo de Pemba agradeceu toda a solidariedade da “mão sempre amiga” da fundação pontifícia.
Outra campanha que marcou claramente o ano de 2024 foi a de apoio à Igreja da Ucrânia. Durante o tempo da Quaresma, os portugueses foram convidados a “curar as feridas da guerra” neste país no centro da Europa. Uma campanha em que se alertou para a situação gravíssima em que milhões de pessoas se encontram desde que a Ucrânia foi invadida pelas tropas russas a 24 de Fevereiro de 2022.
D. Stepan Sus, Bispo responsável pelo Departamento da Pastoral da Migração da Igreja Ucraniana Greco-Católica, veio a Portugal, a convite da Fundação AIS, para testemunhar a urgência e importância de toda a solidariedade para com o seu país. A ajuda disponibilizada pela Fundação AIS destinou-se a diversas áreas, com destaque para a formação de padres, religiosas e leigos que estão envolvidos por exemplo no tratamento de pessoas com síndrome de stress pós-traumático. Mas o apoio estendeu-se também a 522 seminaristas e dezenas de religiosas e sacerdotes que acolhem deslocados. É o caso dos irmãos Albertinos, em Lviv, das irmãs beneditinas em Zhytomyr e Lviv, e das irmãs em Zhytomir, que estão ao serviço de crianças e órfãos.
RELATÓRIO E MONUMENTOS DE VERMELHO
Além das campanhas de ajuda directa à Igreja, o trabalho da Fundação AIS teve também uma profunda vertente na área da informação e de sensibilização da opinião pública para as questões da perseguição religiosa e da perseguição aos cristãos.
Sinal disso, em Novembro foi divulgado em Lisboa o Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, sobre a violência contra os cristãos no mundo, documento que foi apresentado no Mude, o Museu do Design, pelo professor Jorge Bacelar Gouveia. Uma sessão que contou com o testemunho do padre Jacques Sawadogo, um sacerdote do Burquina Fasso que veio a Portugal para contar de viva-voz a situação trágica que os cristãos enfrentam no seu país. Além de Lisboa, o sacerdote esteve também nas dioceses de Santarém, Aveiro e Évora. O lançamento do relatório inseriu-se numa iniciativa mais vasta, que envolveu inúmeras paróquias e instituições em Portugal, em que dezenas de igrejas e monumentos foram iluminados de vermelho, simbolizando desta forma o sangue os mártires.
Semanas antes, Portugal acolheu também o arcebispo de Erbil, no Iraque, que veio recordar como tem sido difícil a vida dos cristãos que há apenas 10 anos, no Verão de 2014, chegaram a ser expulsos das suas casas, das suas aldeias na Planície de Nínive.
GESTOS QUE FAZEM A DIFERENÇA
Mas o ano de 2024 ficou também marcado muitos momentos de oração e de solidariedade. Em Outubro, por exemplo, a Fundação AIS juntou mais de 1 milhão de crianças em todo o planeta a rezar pela paz, iniciativa internacional da organização, mas que teve o seu momento mais simbólico na Capelinha das Aparições, em Fátima.
Em Maio, centenas de portugueses responderam também ao desafio lançado pela Fundação AIS de oração pela paz no mundo e rezaram o Rosário ininterruptamente durante todo o mês.
E houve até iniciativas promovidas em Portugal que correram mundo. Foi o que aconteceu com Sílvia Duarte, uma cabeleireira que decidiu participar numa corrida de atletismo em Lisboa para chamar a atenção para o drama do terrorismo em Cabo Delgado. Foi em Maio, a notícia galgou fronteiras, chegou até Moçambique e, em Outubro, de passagem por Lisboa, o próprio Bispo de Pemba fez questão de se encontrar com ela para lhe dar um abraço sentido em nome de todos os moçambicanos que enfrentam o flagelo do terror. Sílvia Duarte, uma cabeleireira, correu com as cores da Fundação AIS e conseguiu arrecadar com esse gesto solidário cerca de 5 mil euros. “É isto que me faz sentir útil ao mundo”, disse ao saber que a sua corrida tinha sido um sucesso! Um sucesso de tal forma inspirador que no próximo ano já está a planear novas iniciativas…
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt