PAQUISTÃO: Cristã acusada de blasfémia que passou 8 anos na prisão diz que sobreviveu apenas graças à sua fé

Shagufta Kausar foi presa e condenada à morte em 2013 após ter sido acusada injustamente de blasfémia. Libertada em 2021, vive agora exilada num país europeu. Em entrevista à Fundação AIS, esta cristã, mãe de quatro filhos, fala do tormento que viveu na cadeia, da força que encontrou na fé e denuncia a situação terrível em que vivem os cristãos – “os mais pobres dos pobres” – no Paquistão.

Por ter enviado uma mensagem de texto considerada imprópria através do seu telemóvel, apesar de se ter provado na Justiça que tanto ela como o marido – que também chegou a ser detido – são analfabetos, Shagufta Kausar foi presa e condenada à morte por blasfémia em 2013. Uma situação que aconteceu quando ela e o marido, Shafqat Emmanuel, viviam com os filhos em Gojra, no Punjab. Foi a 21 de Julho de 2013 e foi também o início de um longo calvário que só terminou em Agosto de 2021, com o Supremo Tribunal a decretar a inocência de ambos.

Onze anos depois da prisão, Shagufta Kausar – que vive agora num país europeu por causa das contínuas ameaças à sua segurança no Paquistão – conta a sua história à Fundação AIS. E faz questão de lembrar que os cristãos vivem sob intimidação no seu país.

No Paquistão há perseguição contra os cristãos, muitos são injustamente acusados de blasfémia e encarcerados na prisão. Para nós, até as coisas simples da vida quotidiana são difíceis.”

Shagufta, mãe de quatro filhos, alerta que qualquer um, até um vizinho, pode lançar um boato sobre alguém e com isso transformar por completo a vida dessa pessoa, tal como aconteceu consigo. A sua história tem, aliás, grandes semelhanças com a de Asia Bibi. Esta mulher cristã, recorde-se, foi também acusada falsamente de blasfémia por, no seu caso, ter bebido um copo de água de um poço.

Asia Bibi esteve também cerca de oito anos na prisão, tendo sido libertada em 2018, após absolvição decretada pelo Supremo Tribunal do Paquistão. Hoje vive com a família no Canadá, pois as autoridades do seu país não conseguiam também garantir a sua segurança.

“DEUS ESTAVA COMIGO”

Shagufta Kausar passou também praticamente oito anos na cadeia. Foram tempos duros marcados pelo sofrimento, chegando a estar em regime de isolamento, longe de todos os outros detidos. “Depois de ter sido condenada à morte, sofri com o calor, a fome e a separação da minha família. A única coisa que me alimentava, e que se tornou a minha fonte de serenidade, foi a minha fé em Jesus Cristo”, diz, sublinhando que no longo tempo de privação da liberdade a sua ligação a Deus saiu reforçada: “Meditei e reflecti sobre a minha fé e senti-me fortalecida por dentro. Já não estava sozinha. Deus estava comigo nesta luta entre a vida e a morte”.

A situação da sua família, o que estaria a acontecer com os filhos e com o marido, deficiente, que também chegou a ser detido, inquietavam-na profundamente. “Quando estive na prisão, esperava reunir-me com os meus filhos, mas durante três anos não me foi permitido vê-los. Os rapazes foram levados para um centro de proteção estatal. Estavam aterrorizados porque, como eram menores, foram considerados filhos de uma pessoa que tinha cometido blasfémia e, por isso, tratados com extremo preconceito e mantidos em isolamento. O meu marido, que é deficiente, também foi preso”.

“Na prisão”, explica Shagufta, chegou a ser espancado pois queriam obrigá-lo “a admitir que tínhamos cometido blasfémia”.

O relato prossegue com Shagufta a assumir a importância inalienável da fé na sua vida e na da sua família.

Nós estávamos inocentes e não podíamos admitir algo que não tínhamos feito. Fomos pressionados a converter-nos ao Islão, mas recusámos porque valorizávamos a nossa fé em Jesus Cristo”

OS CRISTÃOS SÃO OS MAIS POBRES

Shagufta mostra-se também inquieta face à situação de fragilidade em que se encontra a população cristã no Paquistão, uma minoria religiosa que se tem vindo a revelar um alvo fácil de grupos radicais e que tem dificuldade em defender-se na Justiça.

“O Paquistão é muito pobre e os cristãos são os mais pobres dos pobres. Como têm uma fé diferente da maioria da população, acabam por ser discriminados e marginalizados”, diz, explicando que, quando um cristão é acusado de blasfémia, “nenhum advogado aceita de bom grado o seu caso e nenhum juiz está disposto a decidir sobre ele de forma justa, porque, no passado, grupos radicais assassinaram advogados ou mesmo juízes que declararam a inocência dos cristãos”.

Isto significa, acrescenta esta mulher, que os cristãos “precisam de ajuda financeira” para assegurarem a sua defesa legal. E Shagufta Kausar deixa, por isso, uma palavra de agradecimento ao apoio que a Fundação AIS tem dado a tantos cristãos do Paquistão vítimas da intolerância religiosa e da iníqua lei da blasfémia. “Graças aos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e a tantos outros amigos no mundo que nos ajudam, conseguimos não só sobreviver, mas também professar a nossa fé”, afirma esta cristã que passou quase oito anos na cadeia e que agora vive como exilada num país da Europa.

Paulo Aido e Massimiliano Tubani | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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