Asia Bibi esteve presa durante cerca de nove anos no corredor da morte no Paquistão, acusada injustamente de blasfémia por ter bebido um copo de água de um poço. Para o Papa Francisco, esta mulher, entretanto absolvida e por cuja liberdade a Fundação AIS se envolveu profundamente a nível internacional, é um “caso de vida cristã vivida em contínuo martírio”.
No final dos trabalhos da conferência anual do Dicastério para a Causa dos Santos, no Vaticano, o Papa Francisco falou sobre os santos do nosso tempo e referiu, entre outros exemplos, o de Asia Bibi, a mulher cristã, mãe de cinco filhos, condenada à morte injustamente por ter bebido um copo de água de um poço em 2009.
O Santo Padre disse que não houve período na história da Igreja “que não tenha tido seus mártires até aos dias de hoje”. Citado pelo Vatican News, o Papa referiu que, muitas vezes, se trata de “comunidades inteiras que viveram heroicamente o Evangelho ou ofereceram a vida de todos os seus membros a Deus”, falando então na história de Asia Bibi.
Absolvida em Outubro de 2018, após cerca de 9 duros anos de prisão e em resultado também de uma intensa campanha internacional pela sua libertação, em que se envolveu fortemente a Fundação AIS, Asia Bibi é hoje um símbolo da injustiça que tantas vezes é associada à lei da blasfémia no Paquistão, que tantos cristãos tem feito sofrer. E o Papa Francisco referiu isso agora, no dia 16 de Novembro, quando comparou o sofrimento passado por esta mulher cristã ao próprio martírio.
E nós achamos que esses mártires são coisas que não existem... mas pensemos num caso de vida cristã vivida em contínuo martírio: o caso de Asia Bibi, que por tantos anos esteve na prisão, e a filha lhe levava a Eucaristia... E tantos anos até ao momento em que os juízes disseram que ela era inocente. Quase 9 anos de testemunho cristão! Ela é uma mulher que continua a viver, e há muitos, muitos assim, que com o testemunho dão testemunho de fé e caridade. (...) E não esqueçamos também da nossa época que tem tantos mártires!”.
Papa Francisco
“NINGUÉM DEVERIA SOFRER ASSIM…”
Após a sua libertação, Asia Bibi deu uma entrevista ao secretariado italiano da Fundação AIS. Foi em Setembro de 2020. A viver no Canadá, Bibi passou a ser uma forte defensora dos direitos humanos, empenhando-se na libertação de outras raparigas e mulheres vítimas também, como ela, da lei da blasfémia no Paquistão.
Na altura, os casos mais conhecidos eram o de Maira Shahbaz e de Huma Younus. “Sei que essas meninas estão a ser perseguidas e apelo ao primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, por favor, ajude as nossas meninas, porque nenhuma delas deveria sofrer assim”, referiu na entrevista ‘online’.
Qualquer destas jovens, ambas com 14 anos de idade, haviam sido vítimas de sequestro, violência e abuso, e forçadas à conversão e a contraírem matrimónio. “Como vítima, estou a falar por experiência própria. Sofri muito e passei por tantas dificuldades, mas agora estou livre e espero que essas leis possam ser alteradas de forma a prevenir qualquer abuso”, acrescentou ainda.
“AGRADEÇO À AIS”
Asia Bibi agradeceu também o empenho da Fundação AIS na campanha pela sua libertação e “a todos os benfeitores, em Itália e em todo o mundo”, por apoiarem pessoas que “são perseguidas por causa da sua fé”, e revelou o apreço pelo Papa Francisco e pelo Papa emérito Bento XVI.
“Tenho dois terços que me foram oferecidos pelo Santo Padre. Um ficou no Paquistão e o outro tenho-o comigo e rezo com ele todos os dias pelo dom da fé e por aqueles que são perseguidos no Paquistão. Agradeço ao Santo Padre Francisco e também ao Papa Bento XVI que também intercedeu por mim, e agradeço à AIS e a todas as outras pessoas que rezaram por mim”, acrescentou na entrevista com o secretariado italiano da Ajuda à Igreja que Sofre.
A história de Asia Bibi ajudou a denunciar ao mundo a situação de profunda injustiça em que vivem por vezes as minorias religiosas no Paquistão. Prova disso é o facto de, por exemplo, nos anúncios públicos de emprego para trabalhadores do saneamento básico, como varredores de rua, ser indicado muitas vezes como “reservado a não muçulmanos”.
A LEI DA BLASFÉMIA
O mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, editado pela Fundação AIS em Junho deste ano, explica o que significa a Lei da Blasfémia no Paquistão e de que forma a sua aplicação restringe severamente a liberdade religiosa. “A violação do Alcorão e o insulto ao Profeta Maomé acarretam penas máximas de prisão perpétua e de morte, respectivamente. A complicar tudo isto, o conceito de ‘blasfémia’ é bastante amplo, e é frequentemente abusado…”, pode ler-se neste documento.
Frequentemente, as acusações de blasfémia estão na origem de ataques contra minorias religiosas, nomeadamente os cristãos, ataques que ocorrem também muitas vezes perante a ausência ou a passividade das autoridades.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt