Uma série de ataques armados ao longo do fim-de-semana e que se prolongaram até ao Dia de Natal, em várias aldeias no estado de Plateau, na região centro da Nigéria, provocaram mais de 160 mortos e cerca de três centenas de feridos.
O balanço ainda é provisório, mas terão sido mortas desde sábado, dia 23 de Dezembro, e até ao Dia de Natal, pelo menos 160 pessoas em ataques por grupos armados em cerca de vinte aldeias no estado de Plateau, na região centro da Nigéria.
Nos ataques, que as autoridades afirmam terem sido “coordenados”, há ainda a registar mais de três centenas de feridos, muitos dos quais tiveram de ser levados para unidades hospitalares locais, e cerca de duas centenas de casas destruídas.
O ataque foi já descrito pelo governador do estado de Plateau, Caleb Mutfwang, como “bárbaro, brutal e desnecessário”. O responsável, citado pela pelas agências internacionais de notícias, diria que para as populações locais “foi um Natal muito assustador”.
Embora ainda se desconheçam os pormenores de toda esta violência que ensombrou o Natal deste ano na Nigéria, o Plateau é um dos estados que mais têm sido atormentados ao longo dos últimos anos por tensões étnicas e religiosas, com ataques sistemáticos por parte de pastores nómadas fulani contra as comunidades locais de agricultores maioritariamente pertencentes à comunidade cristã.
Além disso, a Nigéria tem sido palco também de enorme violência por parte de organizações terroristas, nomeadamente o Boko Haram – que actua principalmente no nordeste do país, onde procura a instauração de um ‘califado’ – e ainda de inúmeros grupos armados responsáveis por assaltos e muito particularmente pelo rapto de pessoas.
ALERTAS DA FUNDAÇÃO AIS
Há muitos anos que a Fundação AIS tem procurado alertar para a situação dramática dos cristãos na Nigéria, um dos mais perigosos para esta comunidade religiosa em todo o planeta. No mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, editado este ano pela Ajuda à Igreja que Sofre, refere-se que os muçulmanos também são vítimas de violência extremista, mas os cristãos são “desproporcionadamente” visados. De facto, os números são terríveis.
Dados disponibilizados em Agosto de 2021 pela ONG nigeriana Intersociety revelam que 43 mil cristãos foram mortos por jihadistas nigerianos em 12 anos, 18.500 desapareceram permanentemente, 17.500 igrejas foram atacadas, 2.000 escolas cristãs foram destruídas, 10 milhões foram desenraizados no Norte, 6 milhões foram forçados a fugir e 4 milhões são deslocados internos.
Em relação à região onde ocorreram os ataques do Natal deste ano, o Relatório da Fundação AIS explica que as raízes desta violência são complicadas de traduzir, “embora se trate sobretudo de uma luta pelos recursos (terra e água) com elementos étnicos, políticos e religiosos”. Uma luta que opõe sobretudo pastores nómadas fulani, maioritariamente muçulmanos, e agricultores tradicionais, principalmente cristãos.
Desta mistura tóxica emergem os terroristas fulani, que declararam o seu empenhamento numa ideologia islamista recrutada por grupos criminosos jihadistas nacionais e transnacionais. Sob o pretexto da competição pelos recursos, os extremistas islâmicos fulani matam, queimam e mutilam os nigerianos segundo linhas étnicas e religiosas, visando igrejas, líderes religiosos e celebrações, bem como muçulmanos que não aceitam a agenda fundamentalista.”
'Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo 2023'
Face a esta situação, a fundação pontifícia tem procurado também sensibilizar a opinião pública para os tempos difíceis que os cristãos enfrentam na Nigéria. Na Quaresma deste ano, por exemplo, foi promovida aqui em Portugal, e também a nível internacional, uma campanha de apoio à Igreja deste país africano. Um apoio que, como se viu agora no Natal com este ataque é mais urgente do que nunca.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt