Um ataque de pastores nómadas fulani na Sexta-Feira Santa num dos campos de deslocados existentes na Diocese de Makurdi causou mais de três dezenas de mortos “e incontáveis feridos”, relatou o Padre Remigius em mensagem enviada para a Fundação AIS Internacional.
“Os Fulani entraram num campo de deslocados internos para matar estas almas inocentes. Mais de 35 mortos e incontáveis feridos. Os campos de deslocados nas proximidades estão agora todos numa confusão.” Foi assim, quase numa linguagem telegráfica, que o Padre Remigius Ihyula descreveu para a Fundação AIS o ataque ocorrido na noite de Sexta-Feira Santa na Diocese de Makurdi, situada no estado de Benue, na região central da Nigéria. “Tem sido um Sábado negro para nós aqui”, acrescentou o sacerdote, explicando que “os corpos que veem são os depositados num necrotério local”, referindo-se a imagens, impublicáveis, de algumas das vítimas dos pastores nómadas Fulani que nos últimos dias têm protagonizado diversos ataques na região. O Padre Remigius esclarece ainda que o campo de deslocados onde ocorreu o massacre está situado nas imediações da aldeia de Ngban, “ao quilómetro 40 ao longo da estrada de Makurdi”, em cuja escola primária muitas das vítimas procuraram também refúgio. Segundo o sacerdote, “os corpos e os feridos foram transportados para o hospital de Makurdi”. O ataque causou ainda “a destruição de propriedades”, diversos veículos e produtos agrícolas.
“Isto tem de acabar…”
O ataque foi também confirmado por um responsável governamental local, Ongu Anngu, presidente do Conselho da Juventude de Benue, que em declarações a agências de notícias internacionais, referiu que a aldeia foi invadida “por um grande número de homens armados” que dispararam sobre as pessoas, matando-as quando tentavam fugir. “Ainda estávamos de luto”, disse ainda este responsável, acrescentando que “isto tem de acabar”. O presidente cessante da Nigéria, Muhammadu Buhari, numa declaração emitida, entretanto, através do seu porta-voz, Garba Shebu, condenou também este ataque. O Estado de Benue, onde se situa a Diocese de Makurdi, tem sido palco, nos últimos anos, de constantes ataques por pastores nómadas fulani, cada vez mais agressivos e radicalizados, contra comunidades de agricultores cristãos, por causa das terras e da posse dos animais e de recursos naturais como a água.
Campanha da Fundação AIS
Estes ataques ocorridos durante a Semana Santa são a demonstração da importância da Campanha que a Fundação AIS lançou, a nível internacional nesta Quaresma. A Campanha “SOS Cristãos da Nigéria”, de que o Padre Remigius também participa, procura alertar a opinião pública para a situação trágica em que se encontram as comunidades cristãs, alvos constantes de ataques e de perseguição neste que é o maior país de África. Só na Diocese de Makurdi há cerca de dois milhões de deslocados internos em sete campos. Muitos são cristãos. Numa mensagem-vídeo para a campanha da AIS, o Padre Remigius Ihyula recorda que todas estas pessoas “tiveram de abandonar as suas casas” e que “nos campos falta-lhes o essencial para viver”. “Consegue imaginar que pessoas que eram auto-suficientes, tenham agora de mendigar para comer, para se alimentar?” Isto mostra a dimensão desta crise humanitária que o mundo continua a querer ignorar. Há dois milhões de deslocados, mas apenas, por exemplo, cerca de 500 mil esteiras. “Estamos a falar de 1 milhão e pouco de pessoas que dormem directamente no chão”, explica o sacerdote. Na Nigéria há um número gigantesco de pessoas que precisam de ajuda. São milhões os que perderam tudo o que tinham, vítimas de grupos armados, como os pastores nómadas fulani, mas também organizações terroristas como o Boko Haram, que querem impor um califado no norte da Nigéria, obrigando os cristãos à servidão ou forçando-os a fugir. O país parece todo minado pela insegurança. As autoridades nada conseguem fazer para acabar com a onda de raptos, outro problema grave que também tem afectado a Igreja com uma sucessão de sequestros de sacerdotes que só são resgatados com vida perante o pagamento de avultados resgates.