Regina Lynch, presidente executiva internacional da Fundação AIS, saudou a libertação, no domingo, de 19 clérigos pelo regime de Manágua, entre os quais dois bispos, mas continua preocupada com a falta de liberdade religiosa neste país do continente americano. “Rezamos para que a Igreja e o povo da Nicarágua sejam um dia livres de dizer o que pensam e de praticar a sua fé sem medo ou repercussões”, diz a responsável da fundação pontifícia.
“É uma boa notícia o facto de o Bispo Rolando Alvarez já não se encontrar na prisão, embora não se deva esquecer que esteve detido durante 16 meses”, afirmou Regina Lynch mal se confirmou a notícia da libertação do prelado. “Esperamos que ele possa receber o apoio necessário para recuperar após o longo período de detenção”, disse ainda a presidente executiva internacional da Fundação AIS.
A AIS também se regozija com a libertação do outro bispo, de 15 padres e de dois seminaristas que estiveram presos durante um período mais curto, mas não podemos deixar de sublinhar a tremenda injustiça que é o facto de terem sido obrigados a viver longe dos seus rebanhos e das suas famílias. A incerteza e o medo entre a comunidade também são grandes.”
Regina Lynch
PRESSÃO INTERNACIONAL
A libertação dos 19 clérigos, ocorreu no domingo, dia 14 de Janeiro, e além de D. Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa e administrador apostólico de Estelí, incluiu ainda D. Isidoro del Carmen Mora, da diocese de Siuna. A libertação em massa e o exílio de clérigos parece enquadrar-se num padrão de comportamento do regime contra a Igreja e os seus membros.
Em Outubro do ano passado, recorde-se, outros 12 padres foram libertados da prisão e enviados também para o Vaticano. O mesmo aconteceu em Fevereiro de 2023 com outro grupo exilado para os Estados Unidos. A pressão internacional, tanto a nível político, desde Washington ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, como mediático, vinha a intensificar-se nas últimas semanas em resposta a um contexto de repressão que tem poucos precedentes na América Latina.
UM CLERO EM DECLÍNIO
O exílio forçado desta última vaga de sacerdotes e de bispos vem juntar-se, de facto, a uma lista já enorme de clérigos que tiveram de deixar o país desde que o regime começou a aumentar a sua opressão contra a Igreja, e que incluiu, tal como a Fundação AIS recordou ontem, a expulsão do Núncio Apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag, em Março de 2022, ou das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá.
Toda esta drenagem de sacerdotes e irmãs já colocou mesmo dificuldades pastorais e administrativas em algumas dioceses. “Três das dioceses da Nicarágua são actualmente dirigidas por bispos que se encontram no exílio, nomeadamente Matagalpa e Esteli – ambas dirigidas por Alvarez – e Siuna.
Anteriormente, em 2019, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez Ortega, foi para o exílio devido a maiores preocupações com a segurança. Uma outra diocese tem um bispo com idade superior à da reforma e o Arcebispo de Manágua, Cardeal Leopoldo Brenes, fará 75 anos em Março”, alerta Regina Lynch.
VIVER A FÉ SEM MEDO
Desde 2022, foram detidos 50 padres. De acordo com algumas estimativas, cerca de 15% do clero da Nicarágua vive no estrangeiro. Alguns exilaram-se por receio de serem presos, outros foram deportados pelo regime e a outros ainda foi-lhes negada a reentrada no país depois de terem viajado para o estrangeiro.
A liberdade religiosa é uma pedra angular da liberdade, e os regimes autocráticos temem sempre o testemunho e a voz daqueles cujas vidas são dedicadas a viver e a espalhar o Evangelho do amor. As restrições à liberdade religiosa continuam num país onde quatro em cada nove dioceses têm actualmente bispos a viver no estrangeiro.”
Regina Lynch
“Rezamos para que a Igreja e o povo da Nicarágua sejam um dia livres de dizer o que pensam e de praticar a sua fé sem medo ou repercussões”, concluiu Regina Lynch.
Paulo Aido, Filipe D’Avillez e Maria Lozano
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt