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NEPAL: Comunidade cristã “em choque” com prisão de duas irmãs idosas que se dedicavam a ajudar os mais pobres
A comunidade cristã do Nepal está chocada com a prisão, há já mais de um mês e meio, de duas religiosas coreanas, ambas idosas, da Congregação das Irmãs de São Paulo de Chartres. As irmãs Gemma Lucia Kim e Martha Park estavam a trabalhar em Pokhara, a cerca de 200 quilómetros da capital, Kathmandu, quando foram detidas pelo polícia na noite de 14 de Setembro.
Ficaram sob custódia policial durante 13 dias e foram depois enviadas para a prisão distrital após as autoridades judiciais terem negado a libertação com o pagamento de uma fiança.
O vigário apostólico do Nepal, D. Paul Simick, manifestou a sua incompreensão perante esta situação, tanto mais que as duas irmãs vinham desenvolvendo um trabalho absolutamente meritório, nomeadamente distribuindo alimentos junto das populações mais pobres e vulneráveis das favelas da região. Segundo as autoridades, as duas religiosas coreanas estariam a procurar seduzir estas populações levando-as a converterem-se ao catolicismo.
“Acreditamos que as alegações de conversões são totalmente infundadas e injustas. Este acto revela não só o fanatismo por parte daqueles que acusaram as irmãs mas também a ignorância das necessidades dos pobres”, explica o Bispo em declarações à Fundação AIS. “As irmãs são conhecidas por fazerem um trabalho exclusivamente social”, diz ainda o prelado, rejeitando qualquer actividade de proselitismo.
Pouco antes de ter falado com a Fundação AIS, o vigário apostólico do Nepal tinha visitado as duas religiosas no estabelecimento prisional para onde foram colocadas. “Estavam muito calmas e serenas. Elas não têm instalações especiais e vivem com as outras reclusas. Ambas as irmãs são idosas e eu estou preocupado com a saúde delas…”
As audiências para a fiança ocorrem apenas às quintas-feiras, mas foram suspensas por causa da realização de um festival Hindu, ignorando-se se as autoridades vão hoje, dia 4 de Novembro, avaliar ou não o processo referente às duas irmãs de São Paulo de Chartres.
Independentemente da avaliação dos responsáveis judiciais, este caso está a ser visto pela comunidade cristã local como “um ataque” às minorias religiosas e uma tentativa de se “criminalizar as actividades missionárias, tais como os serviços sociais, o apoio na área da educação e os cuidados de saúde, que podem ser interpretados como uma forma de promover as conversões”, afirma o bispo Simick.
O vigário apostólico do Nepal agradeceu a “preocupação” manifestada pela Fundação AIS pela situação das duas irmãs e pediu a todos os benfeitores da instituição para “continuarem a rezar pela Igreja do Nepal”.
No mais recente Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, editado pela Fundação AIS e publicado em Abril deste ano, é referida uma crescente hostilidade para com as minorias religiosas no Nepal, nomeadamente depois da entrada em vigor da nova Constituição do país, em 2015, e do novo Código Penal, três anos mais tarde. Nos últimos tempos têm sido negados vistos de permanência a alguns sacerdotes e religiosas, forçando-os a abandonar o país.
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