O anúncio do cessar-fogo no Líbano, entre Israel e o Hezbollah, abre um tempo de esperança para o Líbano depois de dois meses de guerra, de destruição, morte e muito sofrimento no país. Marielle Boutros, coordenadora local dos projectos da Fundação AIS, manifestou o seu contentamento com a notícia, mas pediu as orações de todos, para que a paz seja uma realidade não só no Líbano mas em todo o Médio Oriente.
Às quatro horas da manhã de hoje, quarta-feira, 27 de Novembro, começou a trégua, o cessar-fogo entre Israel e a milícia Hezbollah, depois de dois meses de intensos bombardeamentos, de uma guerra aberta que causou milhares de mortos e de deslocados. A notícia de que havia um acordo para o fim das hostilidades, foi recebida com natural contentamento por Marielle Boutros, a coordenadora, no Líbano, dos projectos da Fundação AIS Internacional. Numa curtíssima mensagem, esta responsável lembra que ainda no dia de ontem, terça-feira, 26 de Novembro, a guerra esteve presente com toda a violência. “Como sabem, o cessar-fogo foi anunciado… ontem foi realmente terrível, foi o pior”, explicou Marielle.
A intensidade dos ataques aéreos, referidos pela responsável da AIS, foram também descritos pelo Vatican News numa notícia em que, no entanto, se falava já do optimismo das negociações para um fim das hostilidades. “Aviões de guerra de Israel atingiram os subúrbios ao sul de Beirute com uma vaga de ataques aéreos na terça-feira, pouco antes do gabinete israelita reunir-se para discutir um acordo de cessar-fogo com os membros do Hezbollah”, escreveu o site do Vaticano. Para Marielle Boutros, o importante é que “o cessar-fogo vai acontecer”. Com tão poucas horas ainda volvidas, o essencial é esperar que a guerra tenha mesmo terminado. Por isso, na mensagem, Marielle Boutros apela a todos para rezarem pela paz para o seu país e para toda a região.
Obrigado pelas vossas orações e por favor, continuem a rezar pela paz no Médio Oriente e Líbano.
Marielle Boutros
EXAUSTÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA
A situação no país é muito delicada e grave. Ainda recentemente, no final de Outubro, numa conferência online promovida pela Fundação AIS Internacional, Marielle Boutros falava do cansaço, da exaustão física e psicológica até dos que têm procurado ajudar as populações vítimas da guerra no Líbano.
“Neste momento, temos 1,5 milhões de pessoas deslocadas, ou seja, um em cada quatro cidadãos do país, a maioria concentrada na região do Monte Líbano. São acolhidas em abrigos como escolas, igrejas, centros de retiro ou casas particulares. Precisam de tudo: comida, medicamentos, água, roupa, produtos sanitários, porque saíram de casa muito depressa e não levaram nada consigo”, explicou.
Com muitos dos refugiados a fugirem para zonas cristãs, as dioceses locais têm estado na linha da frente da prestação de assistência. No entanto, sem qualquer planeamento a nível estatal, esta generosidade corre o risco de esgotar as provisões financeiras e materiais, que já foram pressionadas por anos de crise financeira agravada pelo impasse político e pela explosão no porto de Beirute em 2020: “A Igreja teve uma resposta muito rápida e continua a acolher as pessoas com um grande sorriso e muita caridade, mas apesar de estarem a fazer um grande trabalho, sente-se que estão cansados, porque isto não começou no dia 22 de Setembro, começou muito antes”, afirmou Boutros. “As pessoas que acolhem os deslocados estão cansadas por causa do trabalho e da falta de recursos, mas os deslocados também estão muito cansados, longe das suas casas, com mais necessidades, zangados e com medo. Portanto, o cansaço é muito visível agora, e vai aumentar ainda mais, entre os que acolhem e os deslocados”, referiu a coordenadora de projectos da fundação pontifícia.
“SOS LÍBANO”
A Fundação AIS desenvolve actualmente 15 projectos com as dioceses e ordens religiosas mais afectadas que estão a cuidar dos deslocados internos. As escolas católicas, que permaneceram todas abertas, quer fisicamente quer online, continuam a ser uma grande prioridade para a AIS, porque muitas famílias não conseguem pagar as propinas, mas os professores ainda precisam de receber os seus salários no final do mês.
“Se queremos reforçar as comunidades cristãs da região, temos de nos concentrar nas instituições cristãs do Líbano. Para além de todo o trabalho pastoral que já está a ser feito pelas dioceses e pelas ordens religiosas, o sistema educativo é muito importante. Se há alguma coisa que está de pé no Líbano neste momento, são as escolas católicas”, explicou, nessa conferência no final de Outubro, Marielle Boutros. Recorde-se que a Fundação AIS em Portugal lançou mesmo um grande apelo aos benfeitores e amigos da instituição no nosso país para acudirem, com a sua generosidade, à Igreja do Líbano que tenta acudir a todo este sofrimento.
No início de Outubro, Catarina Bettencourt, a responsável do secretariado português da AIS, sintetizava a urgência desta ajuda, falando mesmo que o país atravessa “uma hora de aflição”. “É preciso ir em socorro dos que mais sofrem é preciso ajudar as famílias cristãs que estão assustadas e de mãos completamente vazias. A vossa ajuda é essencial, tal como as vossas orações. Muito obrigada, uma vez mais, por todos os gestos de carinho e solidariedade que os portugueses têm dado à Igreja que sofre no mundo”, conclui nessa mensagem a responsável do secretariado português da fundação pontifícia.
Uma ajuda que tem sido acolhida com muita gratidão no Líbano. Resta agora saber se o cessar-fogo agora acordado é mesmo o início de um tempo de paz.
Paulo Aido e Filipe D’Avillez
Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt