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LÍBANO: Papa e líderes cristãos rezam no Vaticano pela paz e para o país ultrapassar a “grave crise” em que se encontra
“Reunimo-nos hoje para rezar e refletir, impelidos por uma grande preocupação pelo Líbano ao ver mergulhado numa grave crise este país, que trago no coração e desejo visitar”, disse o Santo Padre, na Basílica de São Pedro.
Na sua intervenção. O Papa falou num “povo desiludido e exausto” que precisa de “projectos de paz”. “Chega de usar o Líbano e o Médio Oriente para interesses e lucros alheios! É preciso dar aos libaneses a possibilidade de serem protagonistas dum futuro melhor, na sua terra e sem interferências indevidas”, disse ainda o Papa Francisco, lembrando que este país tão especial transporta consigo “uma mensagem universal de paz e fraternidade que se eleva do Médio Oriente”.
O encontro ecuménico ficou marcado também pelo pedido de intercessão junto do túmulo de São Pedro por todos os participantes neste encontro convocado pelo Santo Padre, pelos momentos de debate, que decorreram à porta fechada na Sala Clementina do Palácio Apostólico e pela oração final na Basílica de São Pedro com a presença não só dos líderes religiosos libaneses mas também dos embaixadores da Santa Sé e membros de comunidades religiosas e de leigos residentes na capital italiana.
A situação económica tem-se agravado extraordinariamente nos últimos tempos, como aliás, a Fundação AIS deu conta ainda esta semana através de uma mensagem enviada por uma religiosa portuguesa residente na vila de Qara, na Síria, mas cuja comunidade está presente também no Líbano.
A Irmã Maria Lúcia Ferreira [mais conhecida como Irmã Myri] descreveu, nessa mensagem enviada para a AIS em Lisboa, que até as famílias que pertenciam à classe média, “habituadas a viver muito bem”, estão “numa situação de pobreza, de fome…”, havendo relatos de mães que não conseguem sequer alimentar os filhos. “Os frigoríficos estão vazios”, descreveu esta religiosa que pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia.
Outro sinal de alarme é a crise no sector energético. “A partir de 22 de Junho, deixou de haver electricidade estatal no Líbano”, disse a Irmã Myri. “Quer dizer que muitas famílias vão ficar às escuras, nem poderão carregar um telefone, etc..”
A crise tem crescido de dia para dia, com a moeda local a desvalorizar-se permanentemente e a fazer diminuir o poder de compra das famílias. O país atravessa uma fase de hiper inflação. Entre Abril de 2019 e Abril de 2021, o Índice de Preço do Consumidor subiu mais de 208% e os libaneses sofreram com um aumento de 670% na compra de alimentos e bebidas. As taxas de desemprego dispararam e mais da metade dos libaneses vive agora na pobreza, segundo dados divulgados entretanto pelas Nações Unidas.
A situação é extremamente grave afecta também directamente a vida de instituições católicas. Regina Lynch, directora de projectos da Fundação AIS, diz mesmo que “as escolas católicas estão em risco de fechar. Os institutos católicos como hospitais e clínicas estão a lutar para sobreviver, mesmo para encontrar os fundos de que necessitam para comprar medicamentos e equipamento médico importante…” Por isso, acrescenta esta responsável da AIS, sublinhando a urgência desta situação, esta poderá “ser a última possibilidade para ajudar o Líbano”.
Foi para procurar caminhos, soluções, perante esta realidade dramática que o Papa Francisco convocou este encontro “religioso”. A Fundação AIS, através do seu presidente executivo internacional, manifestou desde logo o seu apoio incondicional, lembrando que o Líbano “precisa das nossas orações e da nossa solidariedade com mais urgência do que nunca”. Thomas Heine-Geldern disse que o Líbano “é o eixo e a pedra angular do cristianismo no Médio Oriente”, sendo também “o símbolo da coexistência pacífica entre religiões”.
Esta questão é também sublinhada por Regina Lynch. A directora de projectos da Fundação AIS lembra que “ao longo dos anos, ao assistir a um aumento do extremismo noutros países, o Líbano tem sido um lugar onde os cristãos e os muçulmanos poderiam viver juntos, ser educados juntos, trabalhar juntos, e gostaríamos de ver isto continuar…”
Também recentemente, o Padre Jad Chlouk, da Arquidiocese Maronita de Beirute, reiterou à Fundação AIS a necessidade de apoio internacional ao Líbano. Numa conferência virtual promovida pela instituição, o sacerdote sublinhou a importância, do “apoio humanitário a todos os libaneses”, lembrando que “os cristãos estão a passar por tempos difíceis, dúvidas e confusão após a pandemia, a crise económica e, acima de tudo, a explosão.”
O Padre Chlouk referia-se à brutal explosão no porto de Beirute no dia 4 de Agosto do ano passado, que dizimou alguns dos bairros predominantemente cristãos situados nesta zona da capital libanesa, matando cerca de duas centenas de pessoas e destruindo quase 100 mil edifícios. A explosão, considerada como uma das maiores não nucleares que já ocorreram no mundo, deixou também milhares de pessoas desabrigadas de um momento para o outro.
Para Thomas Heine-Geldern, essa explosão “tornou a catástrofe humanitária já existente simplesmente insuportável para muitos” dos habitantes do país. O Líbano foi, recorde-se, o terceiro país, em 2020, a receber mais ajuda por parte da Fundação AIS.
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