A guerra entre o Hamas e Israel está a provocar um sentimento de medo na região, caso o conflito se estenda para outros países. É o caso do Líbano e da Síria. Uma jovem libanesa, que colabora em projectos locais da Fundação AIS, fala em “sombras da guerra” que trazem consigo “velhos medos”.
Ninguém consegue adivinhar como a situação vai evoluir. Desde o dia 7 de Outubro, quando o Hamas desencadeou um violento ataque em Israel, que a palavra “guerra” está presente em toda a região, como uma ameaça bem real.
É o caso do Líbano, um país que faz fronteira com Israel, e onde muitos ainda recordam, com angústia, o conflito devastador que durou cercas de 30 dias em 2006. É o caso de Marielle Boutros. Esta jovem libanesa, que trabalha nos projectos da Fundação AIS neste país do Médio Oriente, fala na guerra que evoca velhos medos. “O que estamos a testemunhar agora em Gaza e no sul do Líbano está a trazer de volta velhos medos. Sentimo-nos assombrados pelas sombras da guerra de 2006.”
Marielle sabe bem o que significa a guerra e por isso diz ter muito medo caso o seu país seja arrastado de novo para um conflito militar.
“Enquanto cristãos a viver no Líbano, rezamos pelas vítimas e pelas suas famílias, mas também estamos preocupados com a nossa própria nação: não queremos ver o Líbano arrastado para outra guerra. A minha geração já viveu duas guerras. Não estamos preparados para passar por tudo isso de novo.”
Marielle Boutros
PIOR CRISE DESDE A II GUERRA MUNDIAL
Como se não bastasse o espectro da guerra, o próprio Líbano vive desde há vários anos uma crise económica brutal que tem conduzido a sua população para a pobreza. Ainda recentemente, em Agosto, a propósito do apoio da Fundação AIS para que algumas centenas de jovens cristãos libaneses pudessem recriar no seu país o espírito da JMJ de Lisboa, Xavier Stephen Bisits, director de projectos da Fundação AIS para a Síria e Líbano, falava de um país mergulhado no caos.
“O Líbano está há nove meses sem governo, num impasse político e na sua pior situação económica desde a Segunda Guerra Mundial. Uma das tragédias desta crise é o facto de a maioria dos jovens católicos apenas poder sonhar com a possibilidade de viajar para a JMJ em Portugal, numa altura em que, mais do que nunca, precisam de um gesto de encorajamento e solidariedade por parte da Igreja. Este evento local foi organizado com um enorme profissionalismo e esperamos que dê um novo fôlego à Igreja em termos de vocações, obras de caridade e iniciativas pastorais”, afirmou Bisits.
Como é a região sul do Líbano que faz fronteira com Israel, há já quem procure sair desta região em busca de um lugar mais protegido. A Fundação AIS sabe que alguns fiéis de Tiro, cidade situada no sul do país, já procuraram refúgio em Beirute. A situação actual recorda-lhes o período difícil e doloroso sofrido durante as guerras anteriores na sua terra.
Este sentimento de medo não se resume ao Líbano. Em toda a região há quem tenha receio de que o conflito armado possa extravasar fronteiras. Os Cristãos da Síria, do Iraque, da Jordânia, do Egipto e de outros países da região olham para este conflito com apreensão.
APOIO DA FUNDAÇÃO AIS
A situação dramática que se vive no Líbano, assim como na Síria, preocupa a Fundação AIS desde há muito tempo. Ainda no ano passado, no Natal, a Ajuda à Igreja que Sofre promoveu uma ‘Campanha de ajuda na emergência’ em socorro das comunidades cristãs de ambos os países.
A Campanha permitiu que os portugueses se envolvessem com histórias reais de famílias e de religiosos que têm procurado ajudar as populações em maior risco tanto no Líbano como na Síria. A campanha incluiu projectos de ajuda aos hospitais, aos idosos e enfermos, na distribuição de alimentos e de outros bens de primeira necessidade, assim como apoio na educação de jovens e de crianças em escolas da Igreja que, face à crise económica, estavam em risco de fechar.
Além disso, a campanha da Fundação AIS procurou também dar apoio na formação de seminaristas, assim como na subsistência de sacerdotes. Um ano depois, o Líbano continua em crise, mas o pior mesmo é o receio de que uma guerra possa voltar a eclodir no país.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt