ITÁLIA: Comunidade de Vittorio Veneto recorda irmã Maria de Coppi, assassinada em Moçambique há um ano

Uma vigília de oração e o lançamento de um livro foi a forma como a comunidade católica de Vittorio Veneto recordou na passada quarta-feira, dia 6, a memória da filha da terra, a irmã Maria de Coppi, assassinada precisamente há um ano na missão de Chipene, em Moçambique

A Igreja de Ramera foi o palco escolhido pela diocese de Vittorio Veneto para homenagear a irmã comboniana Maria de Coppi, uma filha da terra assassinada barbaramente aos 83 anos na noite de 6 de Setembro do ano passado, durante um ataque terrorista à missão de Chipene, na Diocese de Nacala, Moçambique, onde vivia. 

A vigília de oração decorreu na Igreja de Ramera, no município de Mareno di Piave, em Treviso, onde a religiosa cresceu, e foi presidida pelo Bispo local, D. Corrado Pizziolo. Além do Bispo, participou também na cerimónia o padre moçambicano Osorio Afonso Citora, missionário da Consolata, que explicou a situação que se vive em Moçambique, país africano de língua oficial portuguesa vítima de ataques terroristas desde Outubro de 2017, ataques que já causaram mais de 4 mil mortos e mais de 1 milhão de deslocados internos.

A homenagem à religiosa italiana incluiu ainda o lançamento do livro “Irmã Maria de Coppi: uma vida entregue a Deus e ao povo moçambicano”. Logo nas primeiras páginas da obra, o Bispo de Vittorio Veneto fala da “querida irmã” como uma “mártir”. “Cada palavra e cada gesto adquirem um significado muito particular. E é justo que os recolhamos e guardemos com muito respeito e gratidão, captando neles os sentimentos e atitudes interiores que a levaram a oferecer-se totalmente ao Senhor e aos seus irmãos, até ao ponto de dar a sua própria vida”, pode ler-se no livro.

A obra, que tem a chancela do “L’Azione”, o semanário diocesano local, contém cartas de Maria de Coppi que estavam guardadas no centro missionário diocesano.

Nacala lembra a irmã

Também a Diocese de Nacala, em Moçambique, onde se situa a Missão de Chipene, onde a irmã foi assassinada, recordou a religiosa italiana. Na sua página na Internet, foi publicada na quarta-feira, dia 6, uma prece – “Maria de Coppi, Rogai por nós” – em que a comunidade recorda alguns aspectos do seu trabalho em favor das populações moçambicanas.

Entregaste a tua vida ao Senhor pela missão evangelizadora de África. […] Acolheste e escutaste muitas pessoas, procurando ajudar no máximo possível quem passava dificuldades e provas pesadas na vida. (…) No teu coração havia uma forte preocupação pela formação e promoção das mulheres e foste animá-las nas comunidades até quando conseguiste. (…) No Lar feminino acompanhaste a formação humana das meninas, escutando muito os desafios da vida delas, aconselhando e consolando muitas vezes…”

O martírio de Maria de Coppi

Desde o seu assassinato, há um ano, que têm sido várias as vozes de altos responsáveis da Igreja de Moçambique admitindo a abertura do processo para a beatificação da religiosa italiana.

Ainda em Março deste ano, D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, quando esteve de passagem pela sede da Fundação AIS, em Lisboa, admitiu como provável este cenário, apesar de a abertura do processo depender da decisão do bispo diocesano, neste caso D. Alberto Vera, e só depois de ter decorrido um período de cinco anos após a ocorrência dos factos.

“Eu penso que [o processo] tem pernas para andar”, disse D. Diamantino, acrescentando que isso será algo de muito positivo para a Igreja. “Penso que sim porque no que diz respeito à virtude da caridade, ela foi uma irmã que viveu totalmente, durante 50 anos, para o povo moçambicano, totalmente dedicada ao serviço da evangelização e da promoção humana, e portanto eu penso que sim, que pode ter grandes possibilidades de poder, um dia, o heroísmo, o martírio da irmã Maria de Coppi vir a ser reconhecido pela Igreja.”

Para o Bispo de Tete, este processo de beatificação, a ocorrer, será também muito importante para a Igreja de Moçambique. “Acho que é muito bom porque já temos uma causa de leigos [24 catequistas de Guiúa], uma causa de sacerdotes [dois padres jesuítas, conhecidos como os mártires de Chapotera], e assim, haver uma causa de uma irmã religiosa também será muito importante porque nestes anos, em Moçambique, sobretudo no tempo da guerra civil, houve também várias irmãs que foram assassinadas no desenvolvimento do seu ministério”, afirmou D. Diamantino Antunes, à Fundação AIS.

Visita do Bispo Alberto Vera Aréjula após o ataque em Nacala, em setembro de 2022

O ataque à Missão de Chipene

De facto, apesar de o processo para a beatificação da irmã Maria de Coppi só poder avançar cinco anos após a sua morte, ou seja, em 2027, D. Alberto Vera, Bispo de Nacala, a diocese a que pertence Chipene, referiu-se já em Outubro do ano passado, e de forma aberta, a essa possibilidade durante uma conferência organizada pela Fundação AIS Internacional.

Na ocasião, D. Alberto lembrou o perfil generoso da irmã, que dedicou mais de cinco décadas da sua vida ao povo moçambicano. “Eu conhecia-a e posso dizer que ela era a imagem de uma mãe, de uma santa. Ela estava realmente a ajudar toda a gente, com amor simples e humilde”, afirmou, acrescentando que se vai abrir “um processo” de forma a se apurar se este é um caso de martírio. Também o Bispo de Pemba, D. António Juliasse, já havia admitido esta possibilidade e também em declarações à Fundação AIS.

Para este prelado, os terroristas mataram uma irmã que é agora um símbolo do cristianismo. “A razão da sua morte foi a sua fé e a sua missão”, disse. Questionado se estamos a falar já de uma mártir da Igreja, D. Juliasse respondeu de imediato: “Neste sentido, sim, sem dúvida”.

Durante o ataque à missão de Chipene, e em que a irmã italiana foi assassinada, que começou às 21 horas e prolongou-se até às 2 horas da madrugada, foi incendiada e destruída não só a Igreja da missão, assim como a escola, centro de saúde, a casa das religiosas, a biblioteca, o lar dos rapazes e das raparigas e viaturas. “Destruíram tudo”, descreveu horas depois do ataque, o Bispo de Nacala, D. Alberto Vera, à Fundação AIS.

Moçambique; enterro da irmã María de Coppi a 06.09.2022, em Chipene

Retrato desolador

Na missão de Chipene, na noite de 6 de Setembro do ano passado, estavam além de Maria de Coppi, pelo menos mais duas irmãs e dois sacerdotes. Com excepção de uma religiosa espanhola e de uma irmã do Togo, todos os outros eram de nacionalidade italiana e todos conseguiram fugir para as matas juntamente com os jovens que se encontravam na missão católica.

“Roubaram o sacrário, vandalizaram parte da sacristia e o sacrário, à procura de qualquer coisa, provavelmente dinheiro”, disse ainda D. Alberto. O Bispo soube do ataque ainda durante a noite de 6 de Setembro através de uma mensagem de um sacerdote local, o padre Lorenzo, que estava em Chipene.

Na mensagem enviada ao Bispo, e a que a Fundação AIS teve acesso, o sacerdote descrevia os momentos angustiantes que se viveram quando os terroristas chegaram à missão.

Fomos assaltados esta noite, partir das 21 horas. A Irmã Maria (de Coppi) foi logo morta com um tiro na cabeça. As outras conseguiram fugir, assim como as últimas meninas que estavam no lar. Todos os rapazes do lar já tinham saído.” O sacerdote informou ainda o Bispo de que procuravam sair de Chipene. A mensagem terminava com um retrato desolador: “Tudo foi queimado e ainda está a arder…”

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

Relatório da Liberdade Religiosa

A liberdade religiosa e o pluralismo confessional são garantidos pela Constituição e são protegidos como direito inalienável.
Embora, no período em análise não houvesse sinais de que o direito à liberdade religiosa estivesse sob ameaça imediata, as tensões entre o Estado e os grupos religiosos poderão aumentar caso as crenças religiosas entrem em conflito com as leis divisionistas. As perspectivas para a liberdade religiosa continuam a ser positivas.

ITÁLIA

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