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HAITI: “Ninguém é poupado”, diz Bispo de Cap-Haïtien, referindo-se à insegurança no país que afecta também a Igreja
O rapto do Padre Whatner Aupont, no dia 28 de Abril, nos arredores da capital, Port-au-Prince, veio relançar a questão da insegurança no Haiti, país que atravessa uma profunda crise política e económica. Apesar de o sacerdote ter sido libertado logo no dia seguinte, menos de 24 horas depois do sequestro, isso não diminui a gravidade do que aconteceu e vem sublinhar o facto de que nem os próprios elementos da Igreja estão a ser poupados na onda de violência que atravessa o país.
O Arcebispo de Cap-Haïtien, D. Launay Saturné, diz mesmo que o Haiti está a viver um tempo de enorme insegurança com a multiplicação de grupos armados que actuam perante a inoperância das autoridades.
Em declarações à Fundação AIS, na sequência da libertação do sacerdote, o prelado disse que esta questão está a tornar-se de dia para dia mais complexa e difícil. “A deterioração desta situação deve-se à multiplicação de gangues armados, aos constantes casos de rapto, à insegurança omnipresente, à inflação, especialmente ao aumento dos preços dos bens essenciais, aos incidentes sangrentos e a uma avalanche de distúrbios e actos de crueldade.”
Para monsenhor Saturné, esta instabilidade está a tornar a população cada vez mais receosa o que contribui também para a paralisia da vida económica. “Ninguém sabe quanto tempo vai durar esta situação conturbada, esta instabilidade política e a insegurança. Muitos sectores e instituições de vida nacional tornaram-se instáveis e quase inexistentes. Ninguém é poupado. Estamos todos expostos.”
Há precisamente um ano, em Maio de 2021, também o Bispo de Hinche questionava a capacidade de as autoridades travarem a onda de raptos no Haiti. D. Jean Désinord levantava essa questão no seguimento do sequestro de cinco padres e de duas religiosas. “Perguntamo-nos quem será o próximo? Serei eu ou um padre ou um irmão? Os padres e as religiosas correm o risco de psicose. Vivemos num medo constante”, dizia, em Maio de 2021, D. Jean Désinord, Bispo de Hinche, em declarações à Fundação AIS.
O Bispo reconheceu que os raptos se tinham transformado numa forma relativamente fácil de extorsão, mas não escondeu que a própria classe política poderia estar, de alguma forma, envolvida nesta situação, o que ajudaria a explicar os sequestros de elementos da Igreja.
“A Igreja no Haiti tem uma missão profética”, disse o Bispo. “Tem de denunciar estas terríveis condições e por isso é bem possível que a Igreja seja um incómodo para alguns políticos”, acrescentou D. Désinord.
A Fundação AIS apoiou cerca de 70 projectos no Haiti em 2021, num valor de cerca de 1,4 milhões de euros, especialmente para a aquisição de veículos para o trabalho pastoral da Igreja e para a formação para leigos e sacerdotes.
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