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GEORGIA: Algumas Igreja “nunca foram devolvidas” desde os tempos soviéticos, diz responsável da Fundação AIS
“A Igreja Católica na Geórgia existe em condições extremamente difíceis.” A constatação é de Marco Mencaglia, responsável pelos projectos da Fundação AIS neste país da Europa de Leste. A melhoria da situação causada pela pandemia do Covid19 permitiu em Outubro uma viagem de trabalho para um contacto directo com a muito minoritária comunidade católica.
“A maioria da população, cerca de 85%, pertence à Igreja Ortodoxa. Para muitos ortodoxos, a identidade religiosa sobrepõe-se à identidade nacional. Acredita-se amplamente que um bom georgiano tem de ser Ortodoxo, uma circunstância que, de facto, dificulta aos católicos viverem a sua fé.”
Mencaglia confirmou nesta viagem as dificuldades que se fazem sentir no dia-a-dia aos fiéis. “Ao contrário de muitas outras Igrejas Ortodoxas, a Igreja Ortodoxa Georgiana não reconhece os baptismos e casamentos católicos. Portanto, muitos casais são forçados a escolher e os cônjuges católicos são muitas vezes colocados sob extrema pressão pelas suas novas famílias para se converterem”, explica o responsável da Fundação AIS.
Mas não é só ao nível do relacionamento dos casais que se verifica esta pressão. Também ao nível do património há ainda assuntos por resolver. “Algumas igrejas católicas que estavam a ser utilizadas pela Igreja Ortodoxa durante os tempos soviéticos nunca foram devolvidas e jamais houve qualquer tentativa de diálogo acerca desta matéria”, lembra Marco Mencaglia.
A Geórgia é um país muito particular, que historicamente sempre foi uma encruzilhada entre o Oriente e Ocidente. E a prática religiosa faz parte integrante da sua cultura e, como reconhece Mencaglia, “conseguiu sobreviver apesar de longos anos de domínio soviético”.
Os tempos mudaram e hoje a Geórgia é um país com cerca de 4 milhões de habitantes e, apesar de partilhar uma longa fronteira com a Rússia, está de costas voltadas com Moscovo.
“Depois da guerra em 2008, a Geórgia quebrou oficialmente toda as relações diplomáticas com a Rússia. Existe num estado de tensão perpétua, por um lado, sob forte pressão económica e política do seu poderoso vizinho, e, por outro, com interesse numa integração europeia mais alargada. O actual governo – que foi eleito pela primeira vez em 2012 – está a ser fortemente criticado pela oposição pela sua política mais conciliadora em relação a Moscovo….”
A viagem de trabalho da Fundação AIS permitiu constatar que, apesar de ser minoritária, a Igreja Católica desempenha um papel notável na sociedade, sendo de destacar o “o espírito missionário entre os religiosos e leigos que servem fielmente” a comunidade, “apesar das muitas dificuldades, experiências insatisfatórias e ocasionais sentimentos de total isolamento”.
A ordenação de um jovem georgiano, que ocorreu durante a visita da Fundação AIS, “foi um sinal de esperança”, para “o pequeno rebanho” da Igreja. Diz Mencaglia que “o novo sacerdote, o padre Bega, é [apenas] o sexto georgiano a ser ordenado desde a dissolução da União Soviética”, que ocorreu em Dezembro de 1991.
Sobre os projectos em curso no país, o responsável da AIS destaca as áreas da saúde, educação e apoio aos mais necessitados. “A Igreja Católica praticamente começou de zero, num ambiente difícil que oferecia poucas possibilidades e com um número limitado de pessoas. São claramente visíveis os frutos de quase 30 anos de serviço nestas áreas e aprendemos a apreciá-los durante a nossa visita.”
Em destaque e como exemplo do trabalho realizado na Geórgia, Marco Mencaglia refere as actvidades desenvolvidas pela Cáritas, os serviços de saúde prestados pelos frades camilianos em Tbilisi e Gori, a Universidade Católica em Tbilisi, o centro de assistência familiar em Kutaisi, e um centro para crianças com deficiência em Akhaltsikhe.
Um trabalho que a Fundação AIS vai continuar a apoiar “atendendo às necessidades diárias da missão, e garantindo a sua presença e serviço”, assegurou Marco Mencaglia. “Temos de compreender que esta missão [da Igreja] seria muito difícil, se não impossível, sem ajuda internacional.”
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt