Foi divulgado na terça-feira, dia 16, pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, um relatório sobre a liberdade religiosa no país em que os prelados lançam uma série de alertas sobre ameaças aos fiéis, nomeadamente actos de intimidação, mas também ataques a locais de culto.
Não há maior ameaça à liberdade religiosa do que o facto de o local de culto de alguém se tornar um lugar perigoso, e o país infelizmente encontra-se num ponto em que esse perigo é real.”
Relatório da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA
Esta é uma das conclusões do Relatório da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, divulgado na passada terça-feira, dia 16 de Janeiro, e em que os prelados alertam para um conjunto de situações que os fiéis enfrentam no país.
Baseado em dados recolhidos pelo Comité para a Liberdade Religiosa, liderado por D. Kevin Rhoades, Bispo de Fort Wane-South Bend, o Relatório agora tornado público elenca diversas situações consideradas “preocupantes”, procurando-se, com esta divulgação, “ajudar todos os católicos enquanto procuram viver a sua fé” neste país.
“Nos últimos anos assistimos a uma taxa alarmante de vandalismo, incêndios criminosos e outras destruições de propriedades em locais católicos”, diz o relatório, citado pela Agência Católica de Informações, assegurando ter havido um aumento de questões relacionadas com crimes de ódio. E os bispos alertam que as ameaças incluem várias comunidades religiosas e falam mesmo em risco de ataques terroristas.
“Se esta ameaça se limitasse à continuação dos crimes contra a propriedade que têm sido perpetrados nas igrejas católicas nos últimos anos, talvez não fosse a principal preocupação da comissão. No entanto, as tensões crescentes sobre o conflito entre Israel e Hamas aumentaram as chances de um ataque terrorista a uma sinagoga ou mesquita…”
Esta situação, dizem ainda os Bispos católicos, está potenciada pelo clima de tensão que se vive este ano nos Estados Unidos com a realização de eleições presidenciais agendadas para 5 de Novembro.
[A] atmosfera altamente carregada em torno das eleições de 2024 pode levar os extremistas de extrema-esquerda a aumentar a gravidade dos ataques às igrejas católicas, e os extremistas de extrema-direita podem ver as igrejas católicas e as instalações de caridade católicas como alvos do sentimento anti-imigrante, ou, pior, de ação violenta.”
Relatório da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA
PAÍSES QUE RESTRINGEM A LIBERDADE DE CULTO
Menos de duas semanas antes da divulgação deste relatório, o Secretário de Estado dos EUA Antony Blinken anunciava a lista de países que, segundo Washington, são responsáveis por violações graves à liberdade de culto. É o caso de Cuba, Nicarágua, Rússia, Mianmar, China, Coreia do Norte, Eritreia, Irão, Paquistão, Arábia Saudita, Tajiquistão e Turcomenistão. Todos eles figuram “como países de especial preocupação por se terem envolvido ou tolerado violações particularmente graves da liberdade religiosa”.
Outros cinco países, Argélia, Azerbaijão, República Centro-Africana, Camarões e Vietname, foram colocados na Lista de Vigilância Especial também por violações à liberdade religiosa. As chamadas “designações relacionadas com a Liberdade Religiosa”, resultam de um compromisso do governo dos Estados Unidos na promoção da liberdade de crença ou de religião, que é considerado como um ponto central na política externa do país, desde 1998, altura em que o Congresso aprovou e promulgou a Lei da Liberdade Religiosa Internacional.
Na declaração do Secretário de Estado Antony Blinken, no dia 4 de Janeiro, foram também indicados os grupos ou organizações extremistas referenciadas como “entidades de preocupação especial” para os Estados Unidos da América. Blinken referiu o al-Shabab, o Boko Haram, o Hayat Tahrir al-Sham, os Houthis, o ISIS-Sahel e o ISIS-África Ocidental, e ainda o grupo afiliado da Al-Qaeda Jamaat Nasr al-Islam wal-Muslimin e os Talibãs, e defendeu que os governos devem combater estas organizações terroristas responsáveis pela violência contra as comunidades religiosas.
“Os governos precisam acabar com abusos como os ataques a membros de comunidades religiosas minoritárias e aos seus locais de culto, a violência comunitária e as longas prisões por expressão pacífica de crença ou religião, a repressão transnacional e os pedidos de violência contra comunidades religiosas, entre outras violações que ocorrem em muitos lugares do mundo. Os desafios à liberdade religiosa em todo o mundo são estruturais, sistémicos e profundamente enraizados”, disse Antony Blinken, incentivando os governos a uma atitude proactiva no combate a esta mentalidade.
Com um compromisso ponderado e sustentado por parte daqueles que não estão dispostos a aceitar o ódio, a intolerância e a perseguição como ‘status quo’, um dia veremos um mundo onde todas as pessoas vivam com dignidade e igualdade.”
Anthony Blinken
RELATÓRIO “OPEN DOORS”
Entretanto, saiu também o relatório sobre a perseguição religiosa no mundo produzido pela organização evangélica Open Doors. Neste documento é referido que mais de 365 milhões de pessoas pertencentes a esta comunidade religiosa foram alvo de elevados níveis de perseguição e discriminação por causa da sua fé. Isto significa, diz a organização, que 1 em cada 6 cristãos em todo o mundo são atingidos pela intolerância religiosa.
Analisando essencialmente os 50 países onde se exerce mais violência contra os cristãos, este relatório diz ainda que foram mortos 4.998 cristãos em ataques com motivações religiosas, mas adverte que os números poderão ser maiores pois nem sempre os incidentes são conhecidos ou denunciados. O número de cristãos ameaçados e agredidos também cresceu, passando para 42.849 em comparação com os quase 30 mil anotados no relatório anterior, publicado em 2023.
Segundo a Open Doors, a Coreia do Norte continua a ser o país que ocupa o primeiro lugar na lista mundial de perseguição aos cristãos, mas sublinha-se que a região da África subsaariana regista níveis alarmantes de perseguição e discriminação também. É nesta região do globo, diz a organização, que se registaram mais de 90 por cento do número total dos cristãos mortos por causa da sua fé no decorrer do ano passado…
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt