São mais de 100 mil pessoas, maioritariamente crianças, idosos e mulheres, fugiram da guerra fratricida no Sudão e foram parar à Diocese de Mongo, no Chade. O Bispo, Philippe Abbo Chen, refere que são pessoas “sem quaisquer recursos”. A Igreja, que também é muito pobre nesta região, procura ajudar estes refugiados na medida do possível.
As consequências da guerra no Sudão, que teve início a 15 de Abril, já se fazem sentir nos países vizinhos para onde têm fugido milhares de pessoas. É o caso do Chade. Só na Diocese de Mongo, situada no leste do país, estão mais de 100 mil refugiados. O Bispo, que esteve recentemente de visita à sede internacional da Fundação AIS na Alemanha, descreve uma situação dramática, com a Igreja, que é também muito pobre, a procurar auxiliar estas pessoas que estão sem nada…
A maioria são crianças, idosos e mulheres. Vi um grupo tirar os véus e prendê-los a uma árvore macilenta, para obter um pouco de sombra. Estamos a fazer o que podemos para os ajudar, com os recursos de que dispomos, mas são limitados”
D. Philippe Abbo Chen
A Diocese é enorme. Tem mesmo uma dimensão gigante, com mais de 500 mil quilómetros quadrados, sensivelmente o território da França. Mas é uma região árida, com uma baixa densidade populacional – no total tem apenas cerca de 1,7 milhões de habitantes –, e com poucos recursos.
“Estamos preocupados”
Para o Bispo, o acolhimento a estes milhares de refugiados é mais um problema numa região marcada já por conflitos entre agricultores e pastores nómadas, por causa das culturas e das pastagens. Conflitos que, ultimamente, se têm agravado com os pastores nómadas a surgirem cada vez mais bem armados.
É uma situação que, diz o bispo, tem tendência para piorar. “Há muitos factores. Por um lado, o deserto está a aumentar e as terras de pastoreio estão a diminuir. A população do Chade também está a aumentar, o que leva a lutas pelos recursos, agravadas pela proliferação de armas de fogo. A mais simples das discussões pode escalar muito rapidamente quando estão em causa metralhadoras AK47! Por fim, o Estado chadiano atravessa uma crise de autoridade desde a morte do Presidente Idriss Déby, em Abril de 2021. Estamos preocupados com o futuro do país”, diz D. Philippe Abbo à Fundação AIS.
E dá ainda outros argumentos para a sua inquietação: “O sistema educativo está a desmoronar-se, os preços dos alimentos triplicaram… Neste contexto, a nossa Igreja serve de refúgio”.
Conversões religiosas mal aceites
A comunidade cristã da diocese de Mongo é muito pequena. Apesar de não haver um problema de liberdade religiosa, começa a sentir-se entre os cerca de 15 mil fiéis alguma preocupação especialmente por causa de responsáveis muçulmanos mais jovens que estudaram noutros países, por exemplo no Sudão, e que trouxeram uma visão mais radical do Islão…
Por vezes, os nossos paroquianos dizem-nos que têm medo de mostrar a sua fé em certos ambientes. De um modo geral, porém, somos perfeitamente livres de viver a nossa fé. Podemos tocar os sinos das nossas igrejas e fazer procissões nas ruas. No entanto, nos últimos anos, temos tido alguns problemas com jovens imãs que regressam de uma formação no Sudão e que aderem a uma visão mais estreita do Islão. Recusam relações fraternas com membros de outras religiões. Isto pode tornar-se um problema a longo prazo.”
D. Philippe Abbo Chen
“Obrigado, Fundação AIS”
Apesar de todos os problemas e dificuldades, o Bispo mostra-se entusiasmado e fala mesmo numa Igreja pequena, mas “vibrante”. O facto de ter estado na Alemanha, na sede internacional da Fundação AIS, permitiu-lhe também agradecer toda a solidariedade que tem recebido desta instituição pontifícia, nomeadamente para a formação dos seminaristas.
“Gostaria de aproveitar esta ocasião para agradecer à AIS, que ajudou a cobrir os custos de formação destes dois seminaristas. A catedral do Mongo, que foi construída há menos de uma década, já é demasiado pequena para acolher todos os nossos fiéis, razão pela qual temos de ter várias missas dominicais. Temos centenas de baptismos todos os anos. A nossa comunidade é apenas uma pequena minoria, num território imenso, mas tem uma missão evangelizadora única.”
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt