SÍRIA: A Paróquia de São Youssef, em Damasco transformou-se na “casa de família” para os mais pobres

É um projecto solidário que está a resgatar da miséria mais absoluta cerca de 300 pessoas que vivem no bairro de Tabbaleh, um dos mais pobres de Damasco. Com a ajuda da Fundação AIS a paróquia local preparou uma cozinha para oferecer todos os dias refeições quentes a quem já nem consegue ter sequer pão na mesa. Por lá acontece, todos os dias, um milagre da divisão dos pães.

Em Damasco, como na maior parte das cidades, não é preciso falar na guerra que continua ao fim de 12 anos a fustigar a Síria. Mesmo sem combates, mesmo que não se escutem já tiros ou bombardeamentos, em Damasco a guerra está presente em todo o lado. É como um fantasma que não desaparece.

Está presente no rosto, no olhar desalentado das pessoas, está presente nas conversas, na angústia das famílias, nos pais que não conseguem já alimentar os seus filhos. Está presente nas casas geladas deste Inverno, num país onde falta tudo, a começar na comida e a acabar nos combustíveis para o aquecimento.

Sobreviver é cada vez mais difícil nos dias de hoje na Síria. Mas há alguns lugares onde a pobreza das pessoas ainda sobressai mais. É o caso de Tabbaleh, um bairro de Damasco. Mesmo um forasteiro percebe isso ao passar por lá, ao cruzar-se nas suas ruas com as pessoas que já não conseguem esconder as imensas dificuldades em que vivem.

TRABALHAR E VIVER NA MISÉRIA

Tabbaleh fica situado no sudoeste de Damasco e foi uma das zonas mais flageladas durante os encarniçados combates da guerra civil, por estar na linha da frente entre a cidade de Almleiha e a capital da Síria. Por lá parece que se escutam ainda batalhas encarniçadas nas ruínas dos prédios que entulham as ruas e que lembram só sofrimento e morte. É uma memória que perdura e que não poupa ninguém.

A Paróquia de São Youssef fica em Tabbaleh . Tem três sacerdotes e cerca de 1600 famílias. A maior parte pertence ao sector público, trabalha para o Estado. Mas isso, actualmente, não significa nada. Um professor, por exemplo, ganha apenas cerca de 18 euros por mês, o preço de 1 kg  de leite em pó. A situação económica e social é tão grave que mesmo os que trabalham, mesmo os que têm emprego estão na miséria.

REFEIÇÕES SOLIDÁRIAS NA PARÓQUIA

A Paróquia de São Youssef é muito activa. Os três padres lançaram-se em várias iniciativas procurando minorar o sofrimento das pessoas, especialmente as que estão numa situação mais delicada, os idosos, os doentes, as crianças.

Na verdade, todos estão numa situação difícil. Comprar carne ou óleo ou o “mazout” para o aquecimento é quase impossível. Os frequentes cortes de energia tornam ainda mais complicada a vida destas pessoas, impedindo, por exemplo, o armazenamento de produtos frescos.

É neste contexto, extremamente duro, que nasceu o projecto “Refeições Solidárias”, uma iniciativa local que tem o apoio da Fundação AIS. Entre os mais pobres foram detectadas cerca de 300 pessoas. Agora, durante um ano, na Paróquia de São Youssef, ninguém vai ficar sem comida. Por ali pratica-se todos os dias o milagre da divisão do pão. O pouco que se tem vai sendo distribuído para que ninguém fique com o prato vazio.

Para preparar as refeições quentes para estas centenas de pessoas, foi criado um refeitório a que se chamou muito apropriadamente de ‘Beital eileh’, ou seja, Casa de família. Assim, através deste projecto da Fundação AIS, a Igreja não só apoia os funcionários e as suas famílias, mas também proporciona refeições quentes três vezes por semana a todas as pessoas necessitadas.

Além disso são também entregues refeições aos idosos que, devido às suas condições de saúde, não conseguem sair de casa.

FAZER A DIFERENÇA NESTE NATAL

Mas há muitos outros projectos que fazem parte também da Campanha de Natal deste ano de ajuda à Síria, uma campanha que se estende também ao Líbano e aos Cristãos da Terra Santa.

Esta é uma campanha essencial, não só pela ajuda humanitária de emergência que proporciona, mas também por permitir dar alguma esperança às famílias cristãs. Antes da guerra ter começado, há 12 anos, havia na Síria cerca de 2 milhões de Cristãos. Agora, serão apenas 300 a 400 mil.

Já não se trata apenas da sobrevivência de pessoas. É mesmo a permanência da comunidade cristã que está em causa, que está em jogo nesta terra onde se deu a conversão de São Paulo, quando o apóstolo ia a caminho de Damasco, a cidade onde agora, na Paróquia de São Youssef, se tenta desesperadamente que ninguém fique com o prato vazio…

Por ali, nesta paróquia, todos os dias acontece um milagre. O da divisão do pão, um milagre só possível graças à solidariedade de inúmeros benfeitores da Fundação AIS que em alimentam com a sua generosidade esta ideia.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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Mais de 11 anos após o início da guerra na Síria, o país continua a ser fortemente afectado. Embora os combates tenham diminuído significativamente e o autoproclamado Estado Islâmico tenha sido expulso como força territorial, a Síria continua dividida a nível regional, o que afecta profundamente a liberdade religiosa.

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