“Será difícil sobreviver no Inverno com temperaturas abaixo dos 20 graus”, diz Marco Mancaglia, um dos responsáveis de projectos da Fundação AIS para a Europa de Leste, em entrevista ao jornal espanhol ABC.
Mencaglia mostra-se preocupado com as consequências dos ataques russos a infraestruturas de energia agora que se aproximam os meses rigorosos de Inverno, alertando ainda para o desconhecimento do número real de vítimas desta guerra em plena Europa. “Não sabemos quantos civis morreram, nem quantos soldados ucranianos, que certamente não serão menos do que os russos”, diz.
“Como resultado dos novos ataques, agora também com a utilização de drones por parte das forças russas, a situação piorou, porque eles não estão a ser usados contra objectivos militares estratégicos, mas sim para deteriorar o quotidiano das pessoas e impossibilitar a vida neste Inverno nesses lugares”, lembra o responsável da AIS. “Segundo a presidência ucraniana, 30% das instalações energéticas foram destruídas”, acrescentou.
Em entrevista conduzida por José Navarro Pareja, Marco Mencaglia diz mesmo que poderemos vir a assistir ao aumento do número de deslocados e refugiados se continuar a destruição dessas infraestruturas.
E fala mesmo em nova estratégia por parte de Moscovo. “A nova estratégia do exército russo é controlar todas as infraestruturas do ponto de vista militar. Será muito difícil para a população sobreviver no Inverno com temperaturas abaixo de 20 graus, sem ter acesso a energia para se aquecer”, disse Mencaglia.
O responsável da Fundação AIS acrescentou que, “no início do conflito”, se falava em mais de 4 milhões de deslocados, “mas agora, com a onda de ataques russos e a chegada do Inverno a regiões onde não há infraestruturas de aquecimento, isso vai causar um aumento de mais de 5 milhões de pessoas deslocadas”. “Acima de tudo, são mulheres com os seus filhos, porque muitos dos homens morreram no conflito.”
Na entrevista, Mencaglia reafirma o compromisso da Fundação AIS no apoio à Ucrânia, lembrando que, juntamente com a Cáritas local, “as prioridades” vão na ajuda para “mosteiros e seminários que desde o início da guerra se tornaram centros de acolhimento para todos os deslocados internos”, alertando também para o risco de a guerra se prolongar no tempo e, com isso, desmobilizar a solidariedade internacional.
“Já experimentámos esse fenómeno antes”, diz. “A atenção do mundo sobre um país dura alguns meses, depois há outros interesses.” E dá o exemplo do que aconteceu com a Venezuela ou com a Arménia. “O mesmo está a acontecer na Ucrânia…”