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UCRÂNIA: “A situação é crítica, mas vamos ficar aqui e pedimos as vossas orações”, diz Bispo de Odessa à Fundação AIS
A guerra na Ucrânia tem aumentado de intensidade nos últimos dias, nas últimas horas. Há relato, por exemplo, de um ataque com ‘rockets’ na cidade de Kharkiv, que, segundo dados divulgados pelo ministro do Interior da Ucrânia, teria causado dezenas de mortos e centenas de feridos. E os combates prosseguem em muitas outras cidades, com destaque para a capital, Kiev.
A Fundação AIS tem mantido contacto com bispos, sacerdotes e religiosas que confirmam não só a violência dos combates como sublinham a solidariedade que se tem vindo a verificar entre as populações e a ligação muito estreita com a Igreja nestes dias tão difíceis por que está a passar a Ucrânia.
Na manhã de sábado, 26 de Fevereiro, os seminaristas de Vorzel, nos arredores de Kiev, foram evacuados e transferidos para outra diocese. A informação foi transmitida a Magda Kaczmarek, directora de projectos da Fundação AIS para a Europa de Leste.
“Tem havido combates naquela zona de Kiev e foram enviadas imagens que mostram danos nas paredes do seminário, causadas por artilharia e mísseis”, explica Kaczmarek. “As comunidades religiosas tiveram de tomar medidas para se protegerem, têm passado as noites nas caves e desligado as luzes das casas para não mostrarem qualquer sinal de actividade”, acrescentou a responsável.
Não foi só na grande cidade de Kiev que se improvisaram ‘bunkers’ em caves de edifícios para as pessoas se abrigam. Em Kharkiv, antes ainda do violento ataque de ‘rockets’ de ontem, segunda-feira, D. Pavlo Honcharuk fez questão de enviar, precisamente de um desses abrigos, uma mensagem à Fundação AIS para agradecer a onda solidária que está a mobilizar milhares de pessoas no mundo inteiro em favor da Ucrânia.
Um agradecimento em que não esqueceu também o apoio que a Ajuda à Igreja que Sofre tem vindo a dar ao seu país. “Estamos realmente surpreendidos e muito gratos pela mobilização de tantas pessoas… Gostaria de agradecer especialmente aos benfeitores que, através da AIS, cumprem o seu chamamento mostrando misericórdia e amor. Agradeço sinceramente a todos, a toda a equipa da AIS, a todos os colaboradores, voluntários e benfeitores”, disse o bispo latino de Kharkiv-Zaporiyia. A mensagem foi rápida pois, como fez questão de explicar o prelado, a guerra fazia-se sentir por ali com verdadeira intensidade… “Estamos sob constante bombardeamento, e estou um pouco nervoso, mas tentamos agir normalmente…”
O cenário dos ataques e das populações refugiadas em abrigos é semelhante um pouco por todo o país. Em Odessa, o mais importante porto comercial do país, o fim-de-semana foi de constantes bombardeamentos, situação que veio agravar a falta já bem visível de produtos básicos como pão ou combustível. D. Stanislav Shyrokoradiuk bispo latino de Odessa, confirma que, entretanto, começou a chegar alguma ajuda de países vizinhos, mas a situação mantém-se difícil. De qualquer forma, ninguém pensa abandonar as populações locais. “Estamos a viver no aqui e agora, e a situação é crítica, mas vamos ficar e pedimos as vossas orações!”
A cidade de Lviv, na fronteira com a Polónia, não tem sido palco ainda de grandes episódios de violência, mas tem assistido, no entanto, à chegada de um enorme fluxo de refugiados. A Irmã Natália, da ordem greco-católica da Sagrada Família, conseguiu uns momentos de pausa para enviar também uma mensagem à Fundação AIS. “Graças à ajuda do mundo, a Ucrânia resiste, e acreditamos que sobreviverá. Temos ajudado os deslocados, fornecendo ‘bunkers’ de protecção para ataques aéreos, e acolhendo pessoas, especialmente mulheres e crianças. A maioria vai para o estrangeiro, mas aqui eles têm a oportunidade de descansar connosco. E rezamos juntos. Obrigado por tudo”, diz a irmã.
Mais dura tem sido a experiência do Padre Justyn. Ele teve de fugir da cidade de Kamianets-Podiskyi, na região oriental. Uma fuga que não irá esquecer tão cedo. “Levei oito horas a percorrer 150 quilómetros. As estradas estavam cheias de pessoas que se dirigiam para o Oeste… Engarrafamentos, filas nas lojas, nas farmácias e postos de gasolina. As pessoas têm medo porque não sabem o que vai acontecer. Muitos amigos ligaram a perguntar porque é que a Ucrânia tem de aturar tanto mal. Alguns querem confessar-se, mas não posso fazê-lo por telefone. Tudo o que posso dizer é ‘reconcilie-se com Deus, arrependa-se, peça perdão sinceramente e Ele vai ouvir…’. Temos de rezar…”
Nos muitos testemunhos que a Fundação AIS recolheu, há um que sobressai pelo simbolismo. É um testemunho apenas em imagem. É a fotografia de um jovem na catedral de Kharkiv, a cidade que sofreu um violento ataque de ‘rockets’ no dia de ontem. A imagem mostra o baptismo de um jovem acabado de ser convocado também para a frente de guerra.
A Ucrânia vive uma situação dramática, mas a solidariedade do mundo tem-se feito também sentir. Uma solidariedade que foi reafirmada logo no primeiro dia de guerra, com a Fundação AIS a assumir o compromisso de enviar uma ajuda de emergência no valor de 1 milhão de euros e que se destina, como explicou na ocasião Thomas Heine-Geldern, presidente executivo internacional da instituição, para os sacerdotes e religiosas que trabalham com refugiados, em orfanatos e em lares para idosos em todo o país.
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